De ontem e de hoje | As casas por Licínia Quitério As casas envelhecem, ou antes, envelheceu quem nelas morou e partiu há muito. Ficaram vazias as casas que vão perdendo a cor, a cal, as telhas, as pedras. Preparam a morte súbita do dia em que vierem as máquinas. Estavam feias, as casas, dizem, velhas, com mau aspecto, a terra não gosta de mostrar ruínas, decadências, que dirão os turistas que passam e olham ou só passam sem olhar. No lugar das casas que foram novas e bonitas,…
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Crónica de Licínia Quitério | O SENHOR TUPPER
De ontem e de hoje | O SENHOR TUPPER por Licínia Quitério I Parte A ASCENSÃO O senhor Earl Tupper, diz-se, criou uma espécie de loiça de plástico que, de tão boa, tão bonita, tão melhor que todas as congéneres, foi um sucesso estrondoso de mercado. Uma década depois de ter iniciado a sua produção nos Estados Unidos, a marca Tupperware, que traduzido à letra será qualquer coisa como “tigelas Tupper”, expandiu-se para a Europa, tendo depois dado o salto para a América Latina e Ásia, numa autêntica volta…
Ler maisCrónica de Licínia Quitério | As visitas
De ontem e de hoje | As visitas por Licínia Quitério É o Verão que as traz e com as visitas chegam algumas horas de conversa e boa disposição, a refazer histórias antigas e um tanto esquecidas, também a inaugurar novas tagarelices, ilustradas de episódios mais ou menos jocosos, mais ou menos rigorosos quanto ao tempo da acção e à veracidade de certas personagens. Nada que importe, já que a ocasião não é para falar de assuntos demasiado sérios, para isso existem os outros dias, os outros menos amáveis…
Ler maisCrónica de Licínia Quitério | Os bombeiros
De ontem e de hoje | Os bombeiros por Licínia Quitério O Verão e os incêndios são uma dupla recorrente que nos assusta, nos intimida, povo que somos do norte virado ao sul, que sabemos de histórias de ardências por esse país fora, quando tudo seca menos as lágrimas das mulheres, dos homens. O fogo não se esquece de nos visitar, de nos lembrar a sua capacidade de devastação, a sua imprevisibilidade, a sua voracidade. A meteorologia está a dizer-nos que o aquecimento aí está e podemos observar como…
Ler maisCrónica de Licínia Quitério | Nós
De ontem e de hoje | Nós por Licínia Quitério Nós, os cultos, os letrados, os intelectuais, os quase intelectuais, os admiradores de intelectuais, os detractores de intelectuais, os que se auto flagelam por não serem intelectuais, nós, os que lemos muito, de fio a pavio, em diagonal, do fim para o princípio, nós, os que já viajámos pelos sete mares e quase tantos continentes, nós, os de esquerda, que desprezamos a direita, nós, os de direita, que desprezamos a esquerda, nós todos mais ou menos bem na vida,…
Ler maisCrónica de Licínia Quitério | O Curso
De ontem e de hoje | O Curso por Licínia Quitério Era chamado O Curso. Ando no Curso. Vou a caminho do Curso. Assim se falava da casa onde, terminada a escola primária e feito com aprovação o exame de admissão aos liceus, cerca de vinte rapazes e raparigas, em que me incluí, recebiam aulas das matérias dos dois primeiros anos do que se poderia chamar ensino secundário. Foi assim em Mafra, durante a segunda metade da década de quarenta do século passado. Na Vila, outras escolas não havia…
Ler maisCrónica de Licínia Quitério | Sabão
De ontem e de hoje | Sabão por Licínia Quitério Lembram-se da expressão acintosa “vai lamber sabão”? E lembram-se do gosto do sabão lambido? Os velhos lembram-se, claro, de quando brincavam com uma caninha e uma tigela com água onde se tinha dissolvido um pedacinho de sabão que tinha servido para lavar a roupa e os demais. Os miúdos molhavam a ponta do pauzinho oco no líquido antes de a soprar e maravilhavam-se com as bolas mágicas que subiam no ar, tão levezinhas, transparentes, ganhando cores de arco-íris.…
Ler maisCrónica de Licínia Quitério | O Campo
De ontem e de hoje | O Campo por Licínia Quitério Retratos amarelecidos, com alguns pequenos rasgões que o tempo lhes ofertou, guardados há muito em gavetas, dão-me notícia de que terei, pelo lado materno, uma costela antepassada de camponeses. Quem sabe será do tal ossito, mais recentemente chamado ADN, em sentido lato e pouco rigoroso, que herdei este apreço pela terra de que hoje aqui vos falo. É essa atracção mal explicada que me leva a gostar de seguir a evolução dos plantios nos campos por onde…
Ler maisCrónica de Licínia Quitério | A nova geração
De ontem e de hoje | A nova geração por Licínia Quitério Sabes, estou a dar o Memorial do Convento. E então, estás a gostar? Muito. Ainda não li todo, mas já dei uma olhadela até ao fim. O que a Blimunda vê é lindo, fantástico. Sabes que a Hélia pediu a Blimunda emprestada ao Saramago? Sério? Como foi isso? Pediu-lha para a fazer aparecer num livro seu, chamado Lilias Frazer. Mas mesmo com o nome de Blimunda? Sim, a encontrar-se com a Lilias. Não sabia. Que coisa interessante.…
Ler maisCrónica de Licínia Quitério | Des-dizer
De ontem e de hoje | Des-dizer por Licínia Quitério Eu nada tenho de coleccioniadora de objectos, sejam maiores ou menores, antigos ou actuais, originais ou cópias. Do que eu gosto mesmo é de coleccionar, melhor, reunir, guardar na memória das curiosidades, o seguinte: palavras, por semelhança ou dissemelhança expressões banais de muito serem ditas ou invulgares por perda de uso ditos com o que se chama espírito ou com notória ausência dele frases feitas, tão úteis para quem não tem como fazê-las lugares comuns, em uso ou desuso…
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