Crónica de Licínia Quitério | Nós

Crónica de Licínia Quitério

De ontem e de hoje | Nós por Licínia Quitério   Nós, os cultos, os letrados, os intelectuais, os quase intelectuais, os admiradores de intelectuais, os detractores de intelectuais, os que se auto flagelam por não serem intelectuais, nós, os que lemos muito, de fio a pavio, em diagonal, do fim para o princípio, nós, os que já viajámos pelos sete mares e quase tantos continentes, nós, os de esquerda, que desprezamos a direita, nós, os de direita, que desprezamos a esquerda, nós todos mais ou menos bem na vida,…

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Crónica de Licínia Quitério | O Curso

Crónica de Licínia Quitério

De ontem e de hoje | O Curso por Licínia Quitério   Era chamado O Curso. Ando no Curso. Vou a caminho do Curso. Assim se falava da casa onde, terminada a escola primária e feito com aprovação o exame de admissão aos liceus, cerca de vinte rapazes e raparigas, em que me incluí, recebiam aulas das matérias dos dois primeiros anos do que se poderia chamar ensino secundário. Foi assim em Mafra, durante a segunda metade da década de quarenta do século passado. Na Vila, outras escolas não havia…

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Crónica de Licínia Quitério | Sabão

Crónica de Licínia Quitério

De ontem e de hoje | Sabão por Licínia Quitério     Lembram-se da expressão acintosa “vai lamber sabão”? E lembram-se do gosto do sabão lambido? Os velhos lembram-se, claro, de quando brincavam com uma caninha e uma tigela com água onde se tinha dissolvido um pedacinho de sabão que tinha servido para lavar a roupa e os demais. Os miúdos molhavam a ponta do pauzinho oco no líquido antes de a soprar e maravilhavam-se com as bolas mágicas que subiam no ar, tão levezinhas, transparentes, ganhando cores de arco-íris.…

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Crónica de Licínia Quitério | O Campo

Crónica de Licínia Quitério

De ontem e de hoje | O Campo por Licínia Quitério     Retratos amarelecidos, com alguns pequenos rasgões que o tempo lhes ofertou, guardados há muito em gavetas, dão-me notícia de que terei, pelo lado materno, uma costela antepassada de camponeses. Quem sabe será do tal ossito, mais recentemente chamado ADN, em sentido lato e pouco rigoroso, que herdei este apreço pela terra de que hoje aqui vos falo. É essa atracção mal explicada que me leva a gostar de seguir a evolução dos plantios nos campos por onde…

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Crónica de Licínia Quitério | A nova geração

Crónica de Licínia Quitério

De ontem e de hoje | A nova geração por Licínia Quitério   Sabes, estou a dar o Memorial do Convento. E então, estás a gostar? Muito. Ainda não li todo, mas já dei uma olhadela até ao fim. O que a Blimunda vê é lindo, fantástico. Sabes que a Hélia pediu a Blimunda emprestada ao Saramago? Sério? Como foi isso? Pediu-lha para a fazer aparecer num livro seu, chamado Lilias Frazer. Mas mesmo com o nome de Blimunda? Sim, a encontrar-se com a Lilias. Não sabia. Que coisa interessante.…

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Crónica de Licínia Quitério | Des-dizer

Crónica de Licínia Quitério

De ontem e de hoje | Des-dizer por Licínia Quitério   Eu nada tenho de coleccioniadora de objectos, sejam maiores ou menores, antigos ou actuais, originais ou cópias. Do que eu gosto mesmo é de coleccionar, melhor, reunir, guardar na memória das curiosidades, o seguinte: palavras, por semelhança ou dissemelhança expressões banais de muito serem ditas ou invulgares por perda de uso ditos com o que se chama espírito ou com notória ausência dele frases feitas, tão úteis para quem não tem como fazê-las lugares comuns, em uso ou desuso…

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Crónica de Licínia Quitério | OLYMPIA

Crónica de Licínia Quitério

De ontem e de hoje | OLYMPIA por Licínia Quitério   Um dia destes deparei com um texto de Frederico Lourenço publicado por ele no Facebook, excelente artigo, como não podia deixar de ser, e dele respiguei passagens que aqui transcrevo, com a devida vénia: Camões foi o primeiro autor europeu a escrever um poema de amor dedicado a uma mulher não europeia. Camões, como sempre, partilha com Vergílio uma sensibilidade especial. E o seu poema dedicado a Bárbara segue a defesa vergiliana da beleza negra. “Pretidão de amor, /…

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Crónica de Licínia Quitério | Relógios

Crónica de Licínia Quitério

De ontem e de hoje | Relógios por Licínia Quitério   Medir o tempo que passa, medir o tempo que falta, que nos falta, desde sempre foi um desafio, uma necessidade, uma tentação. E foi o Sol e foi a água e foi o vento e foi a areia e tudo e de tudo os homens se têm servido para melhor saberem calcular a medida de seus trabalhos, se possível a medida de seu tempo futuro. Pelos milénios havidos, foram os homens inventando e construindo instrumentos que de rudimentares passaram…

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Crónica de Licínia Quitério | Eclipses

Crónica de Licínia Quitério

De ontem e de hoje | Eclipses por Licínia Quitério   Sabemos lá nós os desígnios da memória que nos assalta sem aviso. Foi num desses assaltos que dei comigo a recordar aquele tempo em que se falava de eclipses como de fenómeno algo misterioso, não isento de perigos desconhecidos para os humanos e até para os animais. A esse respeito contava-se que os cães uivavam e as galinhas se  recolhiam para dormir à hora do eclipse, fosse qual fosse a hora do relógio. Em minha casa, o pragmatismo de…

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Crónica de Licínia Quitério | Os parques

Crónica de Licínia Quitério

De ontem e de hoje | Os parques por Licínia Quitério   Os parques das cidades e vilas assemelham-se a bosques em miniatura, sulcados por discretos lagos, semeados de flores das quatro estações, orgulhosos de uma ou outra escultura a espreitar por entre o verde, abençoados pelos cantos de pássaros, surpreendidos por pequenos mamíferos fugidios. Entusiasmados com a oferta de tais elementos, não faltam artistas que os pintem, fixando aquela cortina oblíqua de sol coado, o tapete de folhas multicolor, o banco, claro, o banco a servir de resguardo aos…

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