Mar salgado Por Alice Vieira Estava eu muito sossegada, aqui há dias, na esplanada da praia do Sul na Ericeira, quando começo a ouvir um homem a recitar: “Ó mar salgado Quanto do teu sal São lágrimas de Portugal…”. Conheço-o bem. Trabalha num restaurante aqui perto, mas à hora do almoço, está sempre aqui na esplanada na conversa com uns amigos. Estranhei ouvi-lo recitar Fernando Pessoa, mas ele continuava: “Realmente, diante deste mar é só o que apetece dizer… E repete: “ Ó mar salgado ! Quanto do teu…
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Crónica de Alice Vieira | Dias de tudo
Dias de tudo Por Alice Vieira Todos os meus amigos sabem que o melhor que me podem dar é uma festa. Festejo tudo, absolutamente tudo. E tenho uma agenda onde todos os dias são dias de alguém ou de alguma coisa. Passo por cima daqueles dias que toda a gente conhece e festeja (Dia de Camões, Dia de Santo António, Dia de Todos os Santos, 1.º de Dezembro, etc.). Passo também por cima daqueles mais insípidos (Dia dos Vegetais Frescos, Dia dos Seguros, etc.), para ficar com aqueles que,…
Ler maisCrónica de Alice Vieira | Desaparecidos
Desaparecidos Por Alice Vieira Não sei o que me está a acontecer mas, de repente, há amigos meus que desaparecem. Telefono—não atendem; deixo mensagem—não respondem. Pura e simplesmente, desaparecem. E sem deixarem rasto. O primeiro foi o jornalista Paulo Correia da Fonseca, que era mesmo muito, muito nosso amigo, houve alturas em que até viveu em nossa casa. Era crítico de televisão na mesma altura em que o meu marido também era — mas cada um para o seu jornal: o meu marido para o “Diário de Lisboa”, e…
Ler maisCrónica de Alice Vieira | Recordar quem merece
Recordar quem merece Por Alice Vieira O escritor José Cardoso Pires viveu durante muitos anos na Ericeira. A casa (ao lado da casa onde eu nessa altura vivia) tem uma placa a lembrá-lo. Mas os anos deram cabo da placa, ou seja, as letras já não se veem. Há dias até me disseram que a placa tinha sido retirada — mas isso não posso confirmar e não quero acreditar. Lembro-me sempre de um dia, eram os meus filhos pequeninos, andávamos na praia e eles tentavam lançar um papagaio de…
Ler maisCrónica de Alice Vieira | Desilusões
Desilusões Por Alice Vieira A minha amiga Teresa vai de viagem a Marrocos. Quando me deu a notícia, eu desatei a rir e ela, evidentemente, pensou que eu estava maluca, que graça tinha ela ir a Marrocos?! Mas, de cada vez que me falam em Marrocos, eu desato logo a rir. E só depois explico. Era a primeira vez que eu ia a Marrocos. Um guia extraordinário que, depois de nos largar, despia a djellaba e ia, com dois ou três de quem tinha ficado amigo, mostrar-nos outras coisas…
Ler maisCrónica de Alice Vieira | Falando de Charlot
Falando de Charlot Por Alice Vieira Não sei porquê, mas hoje lembrei-me de ti, Charlot. De ti, que nunca me fizeste rir. Lembro-me de ser criança e olhar para a miudagem que enchia a sala do cinema Capitólio, em Lisboa, e todos riam às gargalhadas e saltavam das cadeiras e batiam palmas. As velhas tias olhavam para mim de sobrolho carregado, suspirando pelo frete que era terem de me levar ao cinema nas tardes de domingo. Nessa altura eu nem fixava o nome dos filmes, exibidos uns a seguir…
Ler maisCrónica de Alice Vieira | ESTE NOSSO MUNDO
ESTE NOSSO MUNDO Por Alice Vieira Eu sei que ainda faltam uns mesitos para o fim do ano. Mas penso que as coisas não devem mudar muito até Dezembro. Tem sido um ano difícil. Andei à procura de coisas boas para aqui contar—e não me lembrei de nenhuma. Há guerras pelo mundo inteiro, países completamente destruídos, governos que “obrigam” as populações a procurarem outros lugares para poderem viver, etc…. Quando estudamos História, lemos nos manuais que houve a Guerra dos 30 Anos, e a Guerra dos Cem Anos. Às…
Ler maisCrónica de Alice Vieira | …E Sobrevivemos!
…E Sobrevivemos! Por Alice Vieira Às vezes penso como foi que nós—ou seja, os velhotes como eu – conseguimos sobreviver. Como foi que conseguimos ser crianças, adolescentes, andar na escola, aprender. Para os jovens de hoje deve parecer praticamente impossível imaginar um mundo sem telemóveis, sem computadores, sem power-point, sem zoom, sem e-books, e sei lá que mais. Até mim, juro!, me custa a acreditar. Mas a verdade é que existiu. E sobrevivemos. E fomos felizes. Lá em casa, assim que começava o verão, a família ia passar todas…
Ler maisCrónica de Alice Vieira | Quando tudo treme
Quando tudo treme Por Alice Vieira O sismo de há dias ainda não me saiu da cabeça — e duvido que alguma vez saia. A minha casa tremeu toda, fotografias que tinha na parede caíram para o chão e isto durante alguns segundos. Segundos que, evidentemente, me pareceram minutos! E, no entanto, tive vizinhos que garantiram não ter ouvido absolutamente nada! Claro que também houve outros que disseram que sim senhora, tinham ouvido um estrondo e a casa a abanar– mas que pensaram que era um camião a passar…
Ler maisCrónica de Alice Vieira | Felicidade com F maiúsculo
Felicidade com F maiúsculo Por Alice Vieira A Assembleia Geral das Nações Unidas decretou que o dia 20 de Março é o Dia Internacional da Felicidade. Ainda pensei que era por ser o dia dos meus anos, até já me preparava para lhes mandar um lindo postalito aqui da Ericeira a agradecer — mas não, infelizmente eu não tinha nada a ver com isso. Ao que parece, a ideia partiu do minúsculo reino budista do Butão (naquele fim do mundo dos Himalaias) que, em vez do PIB (Produto Interno…
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