Adoro aeroportos Por Alice Vieira Adoro aeroportos. E como vou sempre com muita antecedência, conheço-os muito bem. Talvez aquele que conheça pior seja o nosso. Mas o de Frankfurt e o de Orly conheço-os como os meus dedos. Sabiam que no aeroporto de Frankfurt há uma salinha onde se pode dormir enquanto se espera pelo avião? Tem uma espécie de divã de pele, só com uma manta para nos cobrirmos. E chega perfeitamente. E em Orly há um hotel que fica mesmo na pista! Já lá fiquei muitas vezes.…
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Crónica de Alice Vieira | O que dava jeito
O que dava jeito Por Alice Vieira Diziam — porque eu, evidentemente, não me lembro — que eu cantava muito bem quando era pequenina. Mesmo muito bem. Muito afinadinha, muito certinha, pausas nos sítios certos, palavras muito bem pronunciadas, essas coisas. Até cantava cantigas em francês— língua que eu tinha aprendido ao mesmo tempo que o português. Só me lembro de os amigos que iam a nossa casa me pedirem sempre para eu cantar, e depois davam muitas palmas — normalmente acompanhadas de uns chocolatitos ou rebuçados, o que…
Ler maisCrónica de Alice Vieira | Falando de surf
Falando de surf Por Alice Vieira Aqui há dias, numa revista que costuma estar no bar da praia do sul, aqui na Ericeira, falava-se de surf — e de como, numa terra do Gana, a prática deste desporto tem ajudado a melhorar a vida, muito difícil, de muitos jovens, sobretudo a vida das raparigas. Os pais, muito rígidos na educação das filhas (para tentarem evitar um mal que afligia muito as famílias, que era a gravidez precoce) castigavam-nas se descobriam vestígios de areia nos seus pés. As meninas deviam…
Ler maisCrónica de Alice Vieira | As gracinhas dos nossos filhos
As gracinhas dos nossos filhos Por Alice Vieira Quando o meu filho era miúdo — claro que os nossos filhos são sempre miúdos, mas neste caso, miúdo mesmo, para aí oito, nove anos — viajava muito. Jogador de xadrez, viajava muito com a Federação para participar em campeonatos por esse mundo fora. Então, eu pedia-lhe que, onde quer que estivesse, me mandasse um postal com as notícias (onde é que ainda vinham os telemóveis…). Coisa que ele cumpriu sempre. Por isso, há muitos anos que guardo um lindo postal…
Ler maisCrónica de Alice Vieira | Teatro amador
Teatro amador Por Alice Vieira Quando eu era mais nova — e não tinha tanto trabalho como tenho hoje…— uma das coisas que eu mais gostava de fazer era ir por esse país fora assistir a espectáculos de grupos de teatro amador. E nesse tempo havia muito bons grupos de teatro amador. Alguns tão bons ou melhores que os profissionais, sendo que, nessa altura, também se chamavam grupos de Teatro Experimental. (Lembram-se, por exemplo, do Teatro Experimental de Cascais, ou do Teatro Experimental do Porto). Nessas minhas andanças pelo…
Ler maisCrónica de Alice Vieira | Pessoas Assim
Pessoas Assim Por Alice Vieira Desde criança que passo grandes temporadas na Ericeira. Há cinco anos que vivo cá e só muito raramente de cá saio. Por isso nunca pensei que me pudesse acontecer o que aconteceu. Estava eu de manhã na esplanada da praia do sul, como sempre,e, também como sempre, a ler o “Correio da Manhã”, que é o jornal que a praia recebe logo de manhãzinha. Nesse dia também trazia uma revista. Olho para a capa e tenho a vaga sensação de que já vi aquele…
Ler maisCrónica de Alice Vieira | Livros proibidos
Livros proibidos Por Alice Vieira Todos sabemos que, durante a ditadura, eram censurados jornais, revistas, teatro, correspondência, etc. — mas fala-se muito pouco dos livros proibidos E se os havia! Ainda me lembro de uma enorme lista de livros proibidos — sem ninguém perceber por quê. Uns não eram totalmente proibidos, mas tinham muitas frases cortadas. Bastava escreverem a palavra ”vermelho” — que, para os censores era sinónimo de comunista. Outros relatavam simplesmente a vida das pessoas, como, por exemplo, ”Cerromaior “ de Manuel da Fonseca, cuja accão se…
Ler maisCrónica de Alice Vieira | Vila Museu
Vila Museu Por Alice Vieira Estive nesta 5.ª feira em Óbidos. Já nem sei há quantos anos lá não ia. Mas felizmente está igual ao que sempre foi. Envolvida pela muralha, lá estão as casas pequenas, as ruas por onde não podem passar carros, e a ginjinha em copo de chocolate, a ser vendida quase casa sim, casa sim… Fui lá inaugurar uma grande exposição sobre estes meus 45 anos de vida literária, organizada pela autarquia. Fotografias, livros, está lá tudo— e pode ser visitada até fim de Maio.…
Ler maisCrónica de Alice Vieira | Enjeitados
Enjeitados Por Alice Vieira Como todos sabem, eu nunca fui criada com os meus pais, e andei sempre em casa de uns, e em casa de outros, etc. Uma coisa boa que todas essas casas tinham era livros, muitos livros, e eu podia mexer em todos e lê-los. Era a maneira de estar sossegada e não maçar ninguém. De todos esses livros, o meu preferido era um, de capa azul, chamado “O Menino Enjeitado”, de J. M. Powell. Rapidamente passou a ser um dos meus livros preferidos. Um dos…
Ler maisCrónica de Alice Vieira | Contar histórias
Contar histórias Por Alice Vieira Há bocado, no meio deste temporal (espero que, ao lerem esta crónica, ele já tenha passado) ouvi alguém dizer que nestas alturas o que sabe bem é ouvir contar histórias. E então lembrei-me dum amigo, que já não vejo há muito tempo, e que fazia uma coisa parecida. Não sei se já ouviam falar no poeta Corsino Fortes, um grande poeta de Cabo Verde de quem fui muito amiga. Tínhamos sido colegas na universidade—ele a sair e eu a entrar—e tratava-me por coleguinha. E…
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