A vila de Constância Por Alice Vieira Há terras que ficam para sempre no nosso coração. Não falo, evidentemente, da Ericeira, pois toda a gente sabe que lhe chamo “a minha pátria”. Mas, para lá desta, existem outras onde eu até vou raramente mas que, sabe-se lá por quê, ficam cá dentro. Falo, por exemplo, de Constância. Estive lá há dias e foi uma alegria. Como se encontrasse um grande amigo que não via há muito e de quem tinha muitas saudades. Desta vez fui a uma escola (Escola…
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Crónica de Jorge C Ferreira | Um sapato especial
Crónica de Jorge C Ferreira Um sapato especial Um sapato esquecido. Um sapato castanho. Um sapato do pé esquerdo. Um sapato caro e bem conservado. Onde estará o pé deste sapato? Por que foi abandonado? É só um sapato perdido, mas não deixa de ser esquisito, inquietante. – Foi alguém que quis entrar no ano com o pé direito e devido à impulsividade do salto deixou para trás o sapato do pé esquerdo, sentença ditada por um dos rapazes do grupo. O rapaz que costumava dar mais opiniões, e…
Ler maisCrónica de Licínia Quitério | Um percalço
De ontem e de hoje | Um percalço por Licínia Quitério Estava eu tranquilamente a escrever umas palavras a que outras se juntariam para comporem a crónica da quinzena quando, num movimento descontrolado, um dedo da mão esquerda ataca o teclado do computador e acontece o que não devia ter acontecido. Foi isso mesmo que estão a pensar. O pedaço de texto evaporou-se, escafedeu-se, como se diz no Brasil, e a página passou a exibir, miseravelmente, apenas as três últimas palavras já escritas. Ora o que eu vocifero quando…
Ler maisCrónica de Jorge C Ferreira | Uma estranha ausência
Crónica de Jorge C Ferreira Uma estranha ausência Quando a tristeza não é fado. Quando o fado é um fado que, no entanto, mexe connosco. Um poema que sabe a saudade e procura o futuro. Tudo sem xailes, sem vestidos pretos e sem vinho. As guitarras e as violas caladas. Um estranho silêncio e um sentimento que causa agudas dores em todo o corpo. A incompreensão do acontecido. Uma cama estranha. Uma luz que custa a apagar. Acordar de luz ainda acesa. A noite mal dormida, a noite cansada.…
Ler maisCrónica de Licínia Quitério | Ano vai, ano vem
De ontem e de hoje | Ano vai, ano vem por Licínia Quitério É de bom tom abordar o tema da passagem de um ano para outro ano com umas frases bordadas de alguns lamentos pelo ano que finda e de bons votos para o que começa. Conveniente, portanto, obedecendo ao calendário que exibe o mês de Janeiro a nascer, começar a alinhar umas prosas, embora já antes ditas e reditas, desejavelmente salpicadas com alguns pozinhos de imaginação, sem nunca desprezar a oportuna solenidade. Com os seus trezentos e…
Ler maisCrónica de Alice Vieira | Mar salgado
Mar salgado Por Alice Vieira Estava eu muito sossegada, aqui há dias, na esplanada da praia do Sul na Ericeira, quando começo a ouvir um homem a recitar: “Ó mar salgado Quanto do teu sal São lágrimas de Portugal…”. Conheço-o bem. Trabalha num restaurante aqui perto, mas à hora do almoço, está sempre aqui na esplanada na conversa com uns amigos. Estranhei ouvi-lo recitar Fernando Pessoa, mas ele continuava: “Realmente, diante deste mar é só o que apetece dizer… E repete: “ Ó mar salgado ! Quanto do teu…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado | Conservador Ou Progressista Na Quadra Do Consumo?
Crónica de Alexandre Honrado Conservador Ou Progressista Na Quadra Do Consumo? Tive familiares que trabalharam na indústria conserveira, numa época em que conservar, muito especialmente alimentos, fazia todo o sentido. Tão distante que o mundo estava do excedente, da soberba do consumo, da imbecilidade do açambarcamento inútil! É curioso lembrar que, apesar das conservas, nenhum deles, entre os meus ancestrais, ao que parece, era conservador. O conservador é aquele medroso que nega o progresso e os progressistas, com medo de perder a sua vida, acinzentada e sem desafios, por…
Ler maisCrónica de Jorge C Ferreira | A Busca
Crónica de Jorge C Ferreira A Busca Intempestiva a corrente do rio que te levou para o mar alto. Os olhos muito abertos, olhos de ver a vida, olhos salgados de salvar o tempo. Uma mulher intensa. Tempo aberto, tempo alargado, tempo alagado. Um homem a correr para o cais. Um porto de chegadas e partidas, algumas vezes de não chegar e de não partir. Um porto de incógnitas. Abraços e beijos esquecidos nas pedras de uma gare ensombrada pelas partidas para a guerra e da chegada dos caixões…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado | NATAL Fora de Dezembro
Crónica de Alexandre Honrado NATAL Fora de Dezembro Todos os anos escrevo um poema de Natal que, todavia, não fala de Natal nem é escrito em dezembro. A vida tem, como certas libertações e certos castigos, a exigência do pagamento de preços altos, por vezes muito altos. Constrói-se a poética sobre alicerces de memórias. Essas que abalaram mais os sentimentos, retirando o indivíduo aos seus coletivos. E dando-lhe dureza de um ser só. E a dureza de ser um só. Assim sendo, enredam-se sempre memórias e o sentir, em…
Ler maisCrónica de Licínia Quitério | O Natal
De ontem e de hoje | O Natal por Licínia Quitério Inevitável fugir ao tema Natal que em tempos de cristandade inspirou quadros, esculturas, livros, cada um ao gosto do seu tempo, à medida do talento em exercício. Neste pedaço de mundo, apropriado pelo mais desenfreado consumismo, os adoradores de Jesus andrajoso e nu vestem-no de fazendas vermelhas, de peles brancas, e chamam-lhe Pai Natal, o tal lá da Lapónia gelada e não o crucificado que terá vindo do médio oriente escaldante. A par da desfilada de renas e…
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