Crónica de Alexandre Honrado Um texto em paz A guerra – um dos tipos de assassinato cometido em nome de Estados – continua a ser prática corrente e recorrente numa civilização enferma, onde o cometimento dos excessos contra a dignidade humana parecem ter mais êxito do que a diplomacia, a proximidade, a solidariedade, a mescla, únicas ações concretas que podem conduzir à sobrevivência do que há de efetivamente humano na Humanidade. A cultura da morte mantém-se com intensidade, vão oferecer-se às crianças muitas armas neste Natal, muitos jogos onde…
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Crónica de Alice Vieira | Dias disto e daquilo
Dias disto e daquilo Por Alice Vieira Aqui há uns anos o dia 8 de Dezembro era Dia da Mãe — e, para mim e para muitas das minhas amigas, continua a ser. Não por ser Dia de Nª Sª da Conceição mas sim porque era tradição. Depois veio a Europa e essas coisas e nunca mais ninguém se entendeu porque a data passou a ser móvel… e, mesmo assim, a ”mobilidade“ não e a mesma para toda a gente. Vejamos: Jugoslávia — duas semanas antes do Natal; México…
Ler maisCrónica de Jorge C Ferreira | Tanto tempo
Crónica de Jorge C Ferreira Tanto tempo Quantas horas demora a euforia da vida? Quantas vidas enganamos com uma cara de felicidade? Momentos, doçuras, vaidades, ternuras. A vida a andar para a frente. O futuro que tentamos descortinar ao longe. A alegria que se quer encontrar. O tempo que passa com uma frenética rapidez e uma outra vida quase parada num canto do tempo. Uma vida esquecida. O tempo em que éramos só futuro. O pinhal e a praia. A roupa da moda. Os bronzeadores. A boîte no escuro…
Ler maisCrónica de Licínia Quitério | O racionamento
De ontem e de hoje – O racionamento por Licínia Quitério Eu era muito pequena quando a guerra acabou, mas lembro-me bem do “racionamento”, essa palavra que andava de lar em lar, de boca em boca, e que para mim constituía um divertimento diário. Era-me então permitido recortar uns quadradinhos de papel azul-claro onde estava inscrita uma data e um qualquer número que queria dizer “pão”. A minha mãe dizia-me quantos quadradinhos eu devia entregar ao padeiro que nos trazia o pão à porta. Lembro-me do boné dele, do…
Ler maisCrónica de Jorge C Ferreira | Mentes cerradas
Crónica de Jorge C Ferreira | Mentes cerradas O que vamos esquecendo. O que queremos esquecer. O percurso que vamos percorrendo. A esperança de aprender mais alguma coisa no próximo passo. Algo que compense o que esquecemos. Os que deixam de nos conhecer. Os que passam a ignorar-nos. Que nada disso nos faça quebrar. Vidas quebradas são pedaços de nada. Restos sem sentido. Esquecer tudo. As mentes cerradas. Corpos encarcerados. Um esgar que parece um sorriso. Uma espécie de ensaio sobre a ternura. Entender como se despedem de nós.…
Ler maisCrónica de Alice Vieira | Gente
Gente Por Alice Vieira Aqui pela Ericeira o verão continua. Estava eu, como sempre, na esplanada da praia do sul, quando um senhor, que eu nunca tinha visto, aproxima-se da minha mesa. Sorri e diz-me “nunca a vi, mas a minha tia gostava muito de si!” Passei todas as minhas tias pela minha cabeça e não me lembrava de nenhuma, todas já tinham morrido há que anos, e gostarem de mim, enfim, estamos conversados. Também não me lembrava de nenhuma tia das minhas amigas. Então ele continuou a conversa.…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado | É uma questão de sobrevivência, diria.
Crónica de Alexandre Honrado É uma questão de sobrevivência, diria. Duas ideias, pelo menos, inscreveram-se nas minhas próprias formas de pensar. Foram captadas da mais recente visita de Edgar Morin, o sábio, a Portugal – em setembro deste ano corrente de 2023- , que as legou com a altivez de uma cultura acumulada em 102 anos de vida intensíssima, contrariada pela modéstia com que se partilha e encanta. Quero resgatá-las, antes que a inevitável destruição da memória imponha a angústia de um esquecimento irreparável. Eu, que sempre pensei dedicar-me…
Ler maisCrónica de Jorge C Ferreira | Vidas perdidas
Crónica de Jorge C Ferreira | Vidas perdidas Procurar os estilhaços das vidas que já não temos. Vidas sumidas no nevoeiro que emudeceu todas as luzes. Ouvem-se os gritos dos cacilheiros que surgem como que vindos de lugares remotos. Tocam os sinos das igrejas. O que já não se consegue fazer. Outros sumiços que nos consomem. A memória de uma loucura esquecida na volta do tempo. Um tempo a que parece faltar tempo. Tempo que não sabemos se existiu. As portas de madeira envernizada. As escadas já gastas. Tantos…
Ler maisCrónica de Licínia Quitério | Um laço vermelho
De ontem e de hoje – Um laço vermelho por Licínia Quitério Vinha com vontade de falar, de ter quem lhe ouvisse a fala, que não a interrompesse, e sobretudo não desse opiniões sobre o que ia falando. Foi o que eu entendi ao vê-la chegar ao café, puxar a cadeira e sentar-se, o corpo paralelo ao tampo da mesa quadrada. Não nos conhecíamos a não ser daquele lugar de gente rotineira, de vizinhanças vagamente cúmplices, de histórias de bairro sem grandes rasgos, de um ou outro negócio clandestino,…
Ler maisCrónica de Jorge C Ferreira | Linhas e linhas
Crónica de Jorge C Ferreira | Linhas e linhas Aventuras inacabadas. Linhas desviadas. Um caminho inesperado. Ler as linhas cruzadas nas palmas das mãos. Adivinhações, feitiços e muita gente que não entra na roda. Ouvia falar de fogueiras nocturnas e rezas especiais que nunca experimentei. Voar, até agora, só de avião, avioneta, helicóptero. Não sei quem já deixou que lhe lessem as palmas das mãos. Que lhe dissessem onde o traço das linhas o levavam. Lembro-me de ser miúdo e de uma cigana, vestida de negro ter-me querido fazer…
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