Lá isso… por Licínia Quitério Era uma vez um senhor doutor advogado, assim por extenso chamado, que nessa altura os causídicos eram poucos, respeitados, afamados, e supinamente necessários, já que a eles tinham de recorrer pobres e ricos, por mor de frequentes demandas. As razões dos pleitos, as mais vulgares, eram a má vizinhança de terras, a disputada serventia de águas, a questionada partilha de heranças, enfim, aquelas razões que, desde o princípio dos tempos, levaram os homens a guerrear e a mostrar a ferocidade maior de que…
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Crónica de Jorge C Ferreira | Deolinda e o Lobo Azul
Deolinda e o Lobo Azul por Jorge C Ferreira Lembram-se do lobo inundado de azul que nasceu na última crónica? Para quem não leu vou relembrar: “Consta que no cimo da montanha nasceu um lobo inundado de azul. Terá nascido com novas aptidões? Que nasceu numa noite especial ninguém duvida. Que isso o acompanhará durante a vida também não. Como será o seu primeiro uivo à lua que impulsionou o seu nascimento? Que sentirá naquela sua iniciação? Espero que seja um uivo de agradecimento e de um azul muito…
Ler maisAlice Vieira entrevista neta de Palmira Bastos
“Para a Mlle. Alice Vassalo Pereira, por gostar tanto de teatro” Uma conversa com a neta de Palmira Bastos por Alice Vieira Olho para a fotografia, com estas palavras escritas a tinta verde e, de repente, volto à minha infância, quando eu ainda me chamava assim, princípio dos anos 50, e ando pela mão do Sr. Acácio pelos bastidores do Teatro Nacional, e entro em todos, os camarins, e falo com todos os actores, e eles acham-me graça e falam comigo e deixam-me andar por ali. Ainda hoje…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado – A aparência do sublime
Crónica de Alexandre Honrado A aparência do sublime Li muito e discordei outro tanto de certos autores. Fui colecionando invariavelmente ideias que me pareceram destacáveis, pensamentos decididamente “fora das caixas” mais variadas, sem o preconceito de negar a uns a sabedoria por serem desta ou daquela corrente política, deste ou daquele rincão do mundo, deste ou daquele formato ético, moral, crítico ou artístico, não me importa a retórica alheia mas a utilidade do que me comunica. Fundamental, acredito, é aumentar a massa crítica. E aprender, aprender, aprender sempre.…
Ler maisCrónica de Jorge C Ferreira | Noites especiais
Noites especiais por Jorge C Ferreira Especiais são as noites em que a lua se impõe no céu como astro dominante. Trepidantes são os pensamentos. Crescentes os desejos. Límpidos os olhos. O coração aberto a tudo. Lunares se tornam os beijos. Muitas bocas ficam coladas para sempre. Ficamos muito pequenos. Somos chamados a ouvir sons inesperados. Há sempre algo que não atingimos. O magnetismo é tremendo. Quando o nosso satélite se passeia imponente e nos atrai como se fôssemos seus escravos. Quando os lobos se põem a uivar, todos…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado – O circo dos horrores
Crónica de Alexandre Honrado O circo dos horrores Não me conformo com um mundo tão disfuncional, que festeja a globalização com o seu 5G – o padrão de tecnologia de quinta geração para redes móveis e de banda larga, coisa estúpida e tão inútil que só seria interessante se ajudasse a apagar a pegada imunda que a civilização humana deixou na destruição do mundo -; que festeja o que é doente, como a alienação, a proibição ou a repressão, negando-se a saúde da solidariedade, da proximidade, da pacificação.…
Ler maisCrónica de Licínia Quitério | De ontem e de hoje – Os tostões
Os tostões por Licínia Quitério Começo por dizer da caixinha vermelha, que fora do pó-de-arroz da minha mãe, com chinesas de sombrinhas abertas pintadas a negro. Gostava eu daquelas almofadas que elas traziam às costas e dos sapatos com duas tiras entre os dedos. A caixinha, que já não era de pó-de-arroz, servia de mealheiro das moedas pequeninas, escuras. Chamavam-se tostões e faziam parte da “demasia” que os meninos que faziam os recados entregavam à minha mãe. Ao fim da semana, já as demasias eram um montinho que…
Ler maisCrónica de Jorge C Ferreira | No reino
No reino por Jorge C Ferreira Foram abraços e beijos através das máscaras e ultrapassando receios. Uma outra vida numa outra terra. Os abraços de corpos apertados. As frases entrecortadas. Uma conversa sempre inacabada. Os olhos húmidos de alegria. O mar a gastar-se na areia. Bênçãos enviadas por santas afogadas em alto mar. Santas proas de barcos. Santas pintadas em madeira antiga. A rua, a minha outra rua, já não tem os vasos de verde berrante com as árvores redondas e pequenas. Agora erguem-se no seu lugar palmeiras que…
Ler maisCrónica de Alice Vieira | A correr, a correr
A correr, a correr Por Alice Vieira Como muito bem sabem os que me conhecem, tenho uma (quase ) obsessão pela pontualidade. O meu marido costumava dizer que eu devia ter tido um antepassado inglês. Se calhar… Lembro-me sempre, estava eu ainda no Diário de Notícias, de estar à espera de alguém que me devia levar a uma biblioteca de Sines, para um encontro com os miúdos das escolas, que devia começar às 10 da manhã. Claro que às 9.30 já eu estava à porta. E vieram as…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado – As aranhas que nos querem
Crónica de Alexandre Honrado As aranhas que nos querem Há uma inteligência de aranha no que está para trás, na história do mundo, a coberto de manifestações evidentes ou de siglas que agora são negras e pendem, como espada de Dâmocles sobre as cabeças de todos nós (embora aqui a moral da história seja bem diferente da que imperava no conto de Timaeus de Tauromenium que Cícero imortalizou). A aranha para alcançar os seus objetivos tece – e o que tece tem uma robustez de objetivos, liga os…
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