Crónica de Alexandre Honrado – Eleições e aleijões

Abril entre cravos: Alexandre Honrado

 

Crónica de Alexandre Honrado
Eleições e aleijões

 

Muitos dos que hoje estendem a mãozinha em revivalismo político têm as unhas sujas de ignorância e não de folhear livros profundos ou de pesquisarem no Google alguma ideia aproveitável.

Não creio que algum deles tenha lido seja o que for, ou que saiba quem foi Rudolf Hess, Borman ou Goebbels – ou figuras igualmente nojentas da história mundial. Mesmo esses nomes que agora cito não eram ninguém, pois limitavam-se a ser paus mandados de um louco, um ponto fulcral, a figura carismática do líder que endureceu o seu país recorrendo a controlar o velho aparelho de Estado, multiplicando-o, confundindo-o e pondo-o ao seu gosto e dispor. Um fraco que impôs a força sobre mais fracos, como é aliás comum na história dos medíocres a quem é dada alguma arma.

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A História mostrou-nos para que lado apontava essa bárbara mãozinha estendida – e é surpreendente que hoje, tantos anos depois da sua derrota (da sua amputação) ainda tenha herdeiros provincianos e perigosos. É preciso que essas mãozinhas estendidas não recebam as nossas esmolas. Alegra-me saber que foram derrotadas nas eleições e que são herdeiros de derrotados. Todavia… têm um grupo com alguma expressão, suficiente para causar preocupações, pelo que é preciso não deixar que passem. Que passem do que já são: engulhos na engrenagem, parasitas do sistema que dizem detestar, mas que agora lhes paga subsídios, lhes pagará ordenados e benefícios, como se nos servissem (como afinal outros nos servem, para isso os escolhemos). São derrotados, o que já é uma vantagem. São perdedores. Como aliás a família política que os pariu e que está enterrada no cemitério histórico, quiçá como na velha anedota, com a mãozinha de fora, estendida, procurando uma corneta para tocar. Já os vimos assassinar os seus semelhantes, combater com armas de fogo ou, de forma mais ridícula, com uma faca de cozinha tentando sem êxito, desmembrar um frango. Já os vimos aos gritos, insultando o próximo, cometendo ilegalidades e promovendo desaforos, intentando dividir o nós que somos, partindo-nos pela raiz o que não somos, achando que é a pele que nos distingue, ou a etnia, ou a sexualidade, apenas para falar de alguns dos excessos criminosos em que baseiam as suas crenças.

O binómio autoritarismo-totalitarismo foi (e é) em muitos lugares e em épocas várias, as duas pernas varicosas onde assenta e assentou as ditaduras. O populismo é o dedo mindinho dessa compleição. A mãozinha estendida o campo de manobra da sua ameaça hedionda.

Alexandre Honrado


Alexandre Honrado
Escritor, jornalista, guionista, dramaturgo, professor e investigador universitário, dedicando-se sobretudo ao Estudo da Ciência das Religiões e aos Estudos Culturais. Criou na segunda década do século XXI, com um grupo de sete cidadãos preocupados com a defesa dos valores humanistas, o Observatório para a Liberdade Religiosa. Dirige o Núcleo de Investigação Nelson Mandela – Estudos Humanistas para a Paz, integrado na área de Ciência das Religiões da ULHT Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias em Lisboa. É investigador do CLEPUL – Centro de Estudos Lusófonos e Europeus da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e do Gabinete MCCLA Mulheres, Cultura, Ciência, Letras e Artes da CIDH – Cátedra Infante D. Henrique para os Estudos Insulares Atlânticos da Globalização.

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