Crónica de Alexandre Honrado | A ação (e o desequilíbrio de alguns movimentos)

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A AÇÃO

(e o desequilíbrio de alguns movimentos)

 

 

A ação devia ser uma coisa benéfica. Devia ser o conceito orientador da mudança humana em cada sociedade em que se organiza – e devia mostrar quão dinâmico pode ser o Humano quando age, isto é, quando em ação.

O aspeto social de todos os processos que nos movem devia ser uma prioridade dessa ação. Somos o que agimos, é certo, mas nada seremos se ao mesmo agir não soubermos juntar instrumentos e atos do pensar e do sentir.

A sociologia fala do comportamento, da conduta, e de vez em quando da ação. A filosofia tem um rincão considerável onde coloca a ação como centro de estudo e há até trabalhos notáveis sobre o tema (assim de repente lembro O Discurso da Ação / Discours de l´action de Paul Ricoeur.

Podemos hoje introduzir elementos novos no vasto conjunto do que entendemos por ação, embora as leituras sejam difíceis e até aterradoras.

Ver conflitos no Rossio – simbolicamente a principal praça do País -, ataques a esquadras,  carros incendiados que apenas lesam os pobres proprietários dos mesmos, que não foram causa para nenhum efeito e todavia sofreram uma surpreendente punição, ver as agressões em campos e em bancadas desportivas, ver o estado em que ficam os transportes públicos quando a arruaça passa à ação, ver gente sem causa destruir propriedade pública (dos espaços de todos e dos arruaceiros incluídos) em manifestações de revolta, de frustração, de derrota assumida perante um sistema que não entendem nem sabem transformar; são os novos sintomas da ação.

Como em todas as doenças, os sintomas mesmo bem identificados não garantem a cura – e cá vamos de maleita em maleita.

Uma das várias revistas francesas de filosofia publicada periodicamente, esta de data recente – e sim, os franceses também se  dão ao luxo de ter várias revistas de filosofia, e até de fazer do pensamento coisa quotidiana, e até de estimar os seus filósofos trazendo-os para lugares de destaque da ação e do que ela requer – tinha como título A morte da Democracia, o que não deixa de ser um desafio para que o potencial comprador passe à ação e vá ler o previsível epitáfio. Mas nessa linha de ação pensada, a morte da Democracia – que está ao lado de tantas outras coisas -, apenas sugeria que não se entende bem os revoltosos sem ideologia, os insatisfeitos que reivindicam pela ação o que não conseguem pela razão, vestindo (ou não) coletes amarelos, deixando que os injustiçados façam par com os marginais que se limitam a apedrejar, a partir a montra e a levar para revenda o material mais caro (que não lhes faz falta mas anima o negócio do seu mercado negro).

Estamos a viver um tempo de ação. Reforcemos pois as portas de entrada e as traseiras do prédio. É que algum tipo de ação é de gente parada na caminhada vertiginosa do progresso humano, cuja apetência para o progredir ficou lá atrás, logo na primeira pedra que lançou.

Ghandi disse: “nunca se sabe que resultados virão da ação de cada um de nós; mas não fazer nada impede quaisquer resultados”.

Apostemos na ação – contra os desequilíbrios e os desequilibrados de alguns moimentos que nos cercam.

 

 

Alexandre Honrado

Historiador

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