Crónica de Licínia Quitério | Sabão

Crónica de Licínia Quitério

De ontem e de hoje | Sabão por Licínia Quitério     Lembram-se da expressão acintosa “vai lamber sabão”? E lembram-se do gosto do sabão lambido? Os velhos lembram-se, claro, de quando brincavam com uma caninha e uma tigela com água onde se tinha dissolvido um pedacinho de sabão que tinha servido para lavar a roupa e os demais. Os miúdos molhavam a ponta do pauzinho oco no líquido antes de a soprar e maravilhavam-se com as bolas mágicas que subiam no ar, tão levezinhas, transparentes, ganhando cores de arco-íris.…

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Crónica de Licínia Quitério | O Campo

Crónica de Licínia Quitério

De ontem e de hoje | O Campo por Licínia Quitério     Retratos amarelecidos, com alguns pequenos rasgões que o tempo lhes ofertou, guardados há muito em gavetas, dão-me notícia de que terei, pelo lado materno, uma costela antepassada de camponeses. Quem sabe será do tal ossito, mais recentemente chamado ADN, em sentido lato e pouco rigoroso, que herdei este apreço pela terra de que hoje aqui vos falo. É essa atracção mal explicada que me leva a gostar de seguir a evolução dos plantios nos campos por onde…

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Crónica de Licínia Quitério | A nova geração

Crónica de Licínia Quitério

De ontem e de hoje | A nova geração por Licínia Quitério   Sabes, estou a dar o Memorial do Convento. E então, estás a gostar? Muito. Ainda não li todo, mas já dei uma olhadela até ao fim. O que a Blimunda vê é lindo, fantástico. Sabes que a Hélia pediu a Blimunda emprestada ao Saramago? Sério? Como foi isso? Pediu-lha para a fazer aparecer num livro seu, chamado Lilias Frazer. Mas mesmo com o nome de Blimunda? Sim, a encontrar-se com a Lilias. Não sabia. Que coisa interessante.…

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Crónica de Licínia Quitério | Des-dizer

Crónica de Licínia Quitério

De ontem e de hoje | Des-dizer por Licínia Quitério   Eu nada tenho de coleccioniadora de objectos, sejam maiores ou menores, antigos ou actuais, originais ou cópias. Do que eu gosto mesmo é de coleccionar, melhor, reunir, guardar na memória das curiosidades, o seguinte: palavras, por semelhança ou dissemelhança expressões banais de muito serem ditas ou invulgares por perda de uso ditos com o que se chama espírito ou com notória ausência dele frases feitas, tão úteis para quem não tem como fazê-las lugares comuns, em uso ou desuso…

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Crónica de Licínia Quitério | OLYMPIA

Crónica de Licínia Quitério

De ontem e de hoje | OLYMPIA por Licínia Quitério   Um dia destes deparei com um texto de Frederico Lourenço publicado por ele no Facebook, excelente artigo, como não podia deixar de ser, e dele respiguei passagens que aqui transcrevo, com a devida vénia: Camões foi o primeiro autor europeu a escrever um poema de amor dedicado a uma mulher não europeia. Camões, como sempre, partilha com Vergílio uma sensibilidade especial. E o seu poema dedicado a Bárbara segue a defesa vergiliana da beleza negra. “Pretidão de amor, /…

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Crónica de Licínia Quitério | Relógios

Crónica de Licínia Quitério

De ontem e de hoje | Relógios por Licínia Quitério   Medir o tempo que passa, medir o tempo que falta, que nos falta, desde sempre foi um desafio, uma necessidade, uma tentação. E foi o Sol e foi a água e foi o vento e foi a areia e tudo e de tudo os homens se têm servido para melhor saberem calcular a medida de seus trabalhos, se possível a medida de seu tempo futuro. Pelos milénios havidos, foram os homens inventando e construindo instrumentos que de rudimentares passaram…

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Crónica de Licínia Quitério | Eclipses

Crónica de Licínia Quitério

De ontem e de hoje | Eclipses por Licínia Quitério   Sabemos lá nós os desígnios da memória que nos assalta sem aviso. Foi num desses assaltos que dei comigo a recordar aquele tempo em que se falava de eclipses como de fenómeno algo misterioso, não isento de perigos desconhecidos para os humanos e até para os animais. A esse respeito contava-se que os cães uivavam e as galinhas se  recolhiam para dormir à hora do eclipse, fosse qual fosse a hora do relógio. Em minha casa, o pragmatismo de…

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Crónica de Licínia Quitério | Os parques

Crónica de Licínia Quitério

De ontem e de hoje | Os parques por Licínia Quitério   Os parques das cidades e vilas assemelham-se a bosques em miniatura, sulcados por discretos lagos, semeados de flores das quatro estações, orgulhosos de uma ou outra escultura a espreitar por entre o verde, abençoados pelos cantos de pássaros, surpreendidos por pequenos mamíferos fugidios. Entusiasmados com a oferta de tais elementos, não faltam artistas que os pintem, fixando aquela cortina oblíqua de sol coado, o tapete de folhas multicolor, o banco, claro, o banco a servir de resguardo aos…

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Crónica de Licínia Quitério | O Herlânder e a Neuza

Crónica de Licínia Quitério

De ontem e de hoje | O Herlânder e a Neuza por Licínia Quitério   Hoje bateu-me à porta alguém vindo de um tempo em que todos eram velhos, uns mais do que outros, a não ser o Herlânder e a Neuza e todos os que eram novos como eu. Só os velhos, uns mais do que outros, é que não pulavam todo o dia e alguns ficavam muito sossegados nas cadeiras, com ou sem mesa, calados ou a conversarem. Lembro-me bem de um velho que nos dias de Sol…

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Crónica de Licínia Quitério | Pastelaria Edite

Crónica de Licínia Quitério

De ontem e de hoje | Pastelaria Edite por Licínia Quitério   Pastelaria Edite – era o que dizia o letreiro na cimeira da porta e montra. Um espaço acanhado para meia dúzia de mesas, um balcão ao fundo, em L, o lado menor junto à parede. Era exactamente aí que durante anos vi o senhor Pina a tirar bicas, em movimentos automatizados, a rodar o manípulo, a carregar no botão, a bater com força  duas vezes, duas, o recipiente a despejar o café molhado e espremido. Os clientes, na…

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