Crónica de Jorge C Ferreira As divisões artificiais É deste mundo cansado, flagelado, perigoso, que vos falo. Falo-vos do dia-a-dia dos que conseguem ignorar o que se passa à sua volta. Dos que discutem futebol a defender o seu clube até à morte e discutem política, quando há eleições, como se discutissem futebol. E o mundo cada vez mais cansado, mais triste. Enquanto eles se vão enfrascando. Mais um Whisky e duas pedras de gelo. O café da desordem moral. Essa gente que não entendo. Gente que, no entanto,…
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Crónica de Alice Vieira | O que dava jeito
O que dava jeito Por Alice Vieira Diziam — porque eu, evidentemente, não me lembro — que eu cantava muito bem quando era pequenina. Mesmo muito bem. Muito afinadinha, muito certinha, pausas nos sítios certos, palavras muito bem pronunciadas, essas coisas. Até cantava cantigas em francês— língua que eu tinha aprendido ao mesmo tempo que o português. Só me lembro de os amigos que iam a nossa casa me pedirem sempre para eu cantar, e depois davam muitas palmas — normalmente acompanhadas de uns chocolatitos ou rebuçados, o que…
Ler maisCrónica de Jorge C Ferreira | Uma viagem inesperada
Crónica de Jorge C Ferreira Uma viagem inesperada Ir aonde não queremos. Saber o que não queríamos saber. O estômago colado às costas. A cansativa viagem. A estrada sem fim. A desnecessária corrida. Uma paragem para saudar a vida e enganar o estômago. Enganar-me e entrar na casa de banho das mulheres. Ser avisado por uma senhora. Ir para a casa de banho dos homens e avisar uma senhora que aquela não era a casa de banho dela. Um jogo de enganos. Os sexos perdidos e prontamente reencontrados. Coisas…
Ler maisCrónica de Licínia Quitério | Sabão
De ontem e de hoje | Sabão por Licínia Quitério Lembram-se da expressão acintosa “vai lamber sabão”? E lembram-se do gosto do sabão lambido? Os velhos lembram-se, claro, de quando brincavam com uma caninha e uma tigela com água onde se tinha dissolvido um pedacinho de sabão que tinha servido para lavar a roupa e os demais. Os miúdos molhavam a ponta do pauzinho oco no líquido antes de a soprar e maravilhavam-se com as bolas mágicas que subiam no ar, tão levezinhas, transparentes, ganhando cores de arco-íris.…
Ler maisCrónica de Alice Vieira | Falando de surf
Falando de surf Por Alice Vieira Aqui há dias, numa revista que costuma estar no bar da praia do sul, aqui na Ericeira, falava-se de surf — e de como, numa terra do Gana, a prática deste desporto tem ajudado a melhorar a vida, muito difícil, de muitos jovens, sobretudo a vida das raparigas. Os pais, muito rígidos na educação das filhas (para tentarem evitar um mal que afligia muito as famílias, que era a gravidez precoce) castigavam-nas se descobriam vestígios de areia nos seus pés. As meninas deviam…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado | Passeio pela cidade
Crónica de Alexandre Honrado Passeio pela cidade Por vezes, a cidade é História, outras o simples recanto sombrio que permitiu histórias e lendas, tornando-se, em qualquer dos casos, ponto de encontro da civilização humana. Ou é, em alternativa, o que a história esqueceu no seu percurso, ficando a esmaecer nos anos com o que lhe sobra de ocupação do homem, esse ser simultaneamente religioso, político, económico, sensual, cultural, capaz de deixar à sua passagem tantos vestígios e pegadas desperdiçadas. Na atualidade, a cidade é obrigatoriamente a perceção da sua multiculturalidade,…
Ler maisCrónica de Licínia Quitério | O Campo
De ontem e de hoje | O Campo por Licínia Quitério Retratos amarelecidos, com alguns pequenos rasgões que o tempo lhes ofertou, guardados há muito em gavetas, dão-me notícia de que terei, pelo lado materno, uma costela antepassada de camponeses. Quem sabe será do tal ossito, mais recentemente chamado ADN, em sentido lato e pouco rigoroso, que herdei este apreço pela terra de que hoje aqui vos falo. É essa atracção mal explicada que me leva a gostar de seguir a evolução dos plantios nos campos por onde…
Ler maisCrónica de Alice Vieira | As gracinhas dos nossos filhos
As gracinhas dos nossos filhos Por Alice Vieira Quando o meu filho era miúdo — claro que os nossos filhos são sempre miúdos, mas neste caso, miúdo mesmo, para aí oito, nove anos — viajava muito. Jogador de xadrez, viajava muito com a Federação para participar em campeonatos por esse mundo fora. Então, eu pedia-lhe que, onde quer que estivesse, me mandasse um postal com as notícias (onde é que ainda vinham os telemóveis…). Coisa que ele cumpriu sempre. Por isso, há muitos anos que guardo um lindo postal…
Ler maisCrónica de Licínia Quitério | A nova geração
De ontem e de hoje | A nova geração por Licínia Quitério Sabes, estou a dar o Memorial do Convento. E então, estás a gostar? Muito. Ainda não li todo, mas já dei uma olhadela até ao fim. O que a Blimunda vê é lindo, fantástico. Sabes que a Hélia pediu a Blimunda emprestada ao Saramago? Sério? Como foi isso? Pediu-lha para a fazer aparecer num livro seu, chamado Lilias Frazer. Mas mesmo com o nome de Blimunda? Sim, a encontrar-se com a Lilias. Não sabia. Que coisa interessante.…
Ler maisCrónica de Jorge C Ferreira | Outro Dia
Crónica de Jorge C Ferreira Outro Dia Novos inícios de dia. Novos fins de tudo. Um escuro que se desvanece. Um cântico estranho que se ouve. Uma língua desconhecida. Vozes longínquas. Estranhos e surdos pensamentos nos invadem o corpo. Nascem em nós estranhos sinais. Ainda estaremos a sonhar. De repente, um absoluto vazio. Um calado silêncio. Uma solidão inesperada. Um sonho apagado. Tudo isto demora um curto momento. Um tempo que não sabemos quantificar. Um som que começamos a ouvir. A telefonia que deixámos ligada antes de adormecermos. As…
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