Desilusões
Por Alice Vieira
A minha amiga Teresa vai de viagem a Marrocos. Quando me deu a notícia, eu desatei a rir e ela, evidentemente, pensou que eu estava maluca, que graça tinha ela ir a Marrocos?!
Mas, de cada vez que me falam em Marrocos, eu desato logo a rir. E só depois explico.
Era a primeira vez que eu ia a Marrocos. Um guia extraordinário que, depois de nos largar, despia a djellaba e ia, com dois ou três de quem tinha ficado amigo, mostrar-nos outras coisas não tão turísticas. Numa dessas tardes, estávamos em Casablanca, aproveitei e pedi-lhe:
“Leva-me ao Bar do Rick!”
Não havia ninguém que não conhecesse o Bar do Rick, que aparecia no filme ”Casablanca” , onde o Humphrey Bogart esperava pela Ingrid Bergman, enquanto se ouvia a canção “As Time Goes By”.
O filme mostrava a rua, a porta da entrada, as janelas, e depois o salão cheio de pessoas que no fim cantavam “A Marselhesa”.
Ele desatou a rir e só repetia “outra! outra! “.
Quando se recompôs informou-me que todos os estrangeiros—sobretudo as estrangeiras — assim que chegavam a Casablanca vinham doidas por se enfiar no Bar do Rick, possivelmente à espera do fantasma do Humphrey Bogart a acender cigarros sem nunca olhar para eles, preso à eternidade de um amor em Paris.
“ O pior” explicou ele, “é que nunca houve nenhum Bar do Rick em Casablanca! “.
Eu quase caí para o lado.
“Foi tudo uma reconstituição feita nos estúdios de Hollywood , onde o filme foi realizado.”
Claro que contei isto à Teresa e voltámos a rir mas… no fundo, bem no fundo, eu ainda continuo a pensar que o Bar do Rick existe em Casablanca, onde todos esperam a minha visita.
Prometo que depois escrevo uma crónica a contar tudo.
Alice Vieira
Atualmente colabora com a revista “Audácia”, e com o “Jornal de Mafra”.
Publica também poesia, sendo considerada uma das mais importantes escritoras portuguesas de literatura infanto-juvenil.
Pode ler (aqui) as restantes crónicas de Alice Vieira