De ontem e de hoje – Conversa de mulheres por Licínia Quitério A Matilde chegou em passo mais estugado do que era seu hábito. Vem sem óculos. Mal chegou explicou: “Estás a estranhar qualquer coisa. Isso mesmo. Larguei os óculos. Decidi-me por lentes de contacto. É hoje o meu primeiro dia de olhos novos. Estou a gostar. Diz lá se não pareço mais nova. Não te rias, qual é a mulher que gosta de envelhecer, qual? Enquanto puder vou disfarçando os anos. Disfarçando apenas, que eles vão somando,…
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Crónica de Jorge C Ferreira | Isla Negra
Isla Negra por Jorge C Ferreira Isla Negra, sentei-me junto da tua campa e de Matilde Urrutia, ali sepultados lado a lado a olhar para o Pacífico. Nos meus olhos foram crescendo pérolas da cor daquele mar que te trazia as coisas que amavas e cuidavas. Devemos sempre cuidar e preservar aquilo que o mais puro azul nos oferece. Só assim os poemas crescem dentro de nós numa metamorfose que não sabemos explicar. Não sei quanto tempo estive ali sentado, os olhos perdidos no infinito. Foi a conversa…
Ler maisCrónica de Alice Vieira | Casar ou não casar
Casar ou não casar Por Alice Vieira De repente, parece que deu uma fúria de casamentos entre a gente nova. Estão juntos há alguns anos, mas apetece-lhes — como diziam as minhas velhas tias—“legalizar a situação “ Até acho muito bem. Não me esqueço do que muitos de nós passámos quando o Salgado Zenha ainda não tinha promulgado a lei do divórcio—e nesse tempo era um escândalo vivermos juntos sem sermos casados!!… Meu Deus, que tempos horríveis! Mas tudo já passou há uma data de anos. Hoje as pessoas…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado – A memória que nos esquece
Crónica de Alexandre Honrado A memória que nos esquece Pierre Nora, historiador e editor (especializado na área das ciências sociais), diretor na École de Hautes Études em Sciences Sociales, afirmou um dia que “só se fala tanto de memória porque ela já não existe”. Diria eu, se é assim, daqui a nada não me lembro do que fez surgir a vontade de escrever isto. Mas até lá, aproveitemos. Penso eu que a memória apagada pela distância e votada ao esquecimento procura constituir um lugar onde ficam as coisas,…
Ler maisCrónica de Jorge C Ferreira | Crónica 400
Crónica 400 por Jorge C Ferreira Quatrocentos passos, quatrocentos palmos. As mãos a passear com a caneta sobre o papel. Ou um teclado a queixar-se de tanto massacre. Quem é este tipo que teima em escrever? Por que o faz? Nem eu, o autor destas quatrocentas crónicas, o sei! Será já vício? Será algo compulsivo? Será doença? Será grave? Por que teima em escrever? É o que muita gente deve perguntar. Enquanto souber que me lêem vou teimando. Há alguém que “controla” os meus leitores. Uma coisa sei,…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado – Convicções
Crónica de Alexandre Honrado Convicções Era convicção de alguns, presos à sabedoria e à sofisticação sentimental que faz de uma besta um ser completo e capaz de ser melhor para um mundo já de si tão pródigo em ofertas, era convicção firme que o ser humano podia ser o animal perfeito, entre os animais que o rodeavam. Um cérebro mais amplo dotava-o de capacidades, sendo que duas delas podiam transcendê-lo e torná-lo ímpar e excecional: a capacidade de decidir, escolhendo entre os males o melhor que a todos…
Ler maisCrónica de Licínia Quitério | O senhor poeta
De ontem e de hoje – O senhor poeta por Licínia Quitério Eu era uma miúda franzina, pequenina, até dar o salto para a idade de mulherzinha. Vem isto a propósito do que me lembrei por ter estado a ler em jornais antigos a notícia do encerramento do restaurante Irmãos Unidos, no Rossio de Lisboa, e do sequente leilão do recheio. Logo me pus a rever, no filme que só eu realizei, a porta giratória, coisa nunca vista, que dava acesso ao restaurante e pela qual eu entrava,…
Ler maisCrónica de Jorge C Ferreira | Notas de viagem (2012)
Notas de viagem (2012) por Jorge C Ferreira Em Arica apanhámos o autocarro. Vamos a caminho do deserto. Já vemos as dunas. Quando saímos do transporte o calor torna-se abrasador. Depressa fico pegajoso. Dói-me a humidade no corpo. Bebo mais uma água na tenda do deserto. Olho para aquelas montanhas de areia, sagradas dunas. Atrevo-me a subir um pouco. Vejo mais de perto os geoglifos La Tropilla. São obras dos povos pré-hispânicos. São figuras humanas, de animais. São sinais. Que sinal é este que nos quiseram deixar? Estes…
Ler maisCrónica de Alice Vieira | Histórias infantis
Histórias infantis Por Alice Vieira Às vezes tenho saudades de livros muito antigos que li em criança e que desapareceram nestes anos todos. E gostava de os reaver. Por isso quando há dias descobri na Wook “A Princesinha”, da Frances Burnett, mandei logo vir. Foi quase imediato. Tive de o ir buscar ao Correio, mas aí a culpa foi minha: eu devia ter pensado que aquilo vinha registado, por isso o meu carteiro Paulo não mo poderia entregar na rua quando me visse. (Por isso detesto receber correio registado.)…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado – Um prefácio sem vergonha
Crónica de Alexandre Honrado Um prefácio sem vergonha Não sei se cabe nestes textos que aqui faço a escrita de um prefácio. Mas a aventura de fazê-lo é superior ao risco de usar um espaço onde não devia fazê-lo. Se o faço é porque depois vou querer fazer mais e maior (talvez melhor). A desfaçatez com que o faço, ao prefácio, veio de duas fontes de inspiração: uma, a primeira, prende-se com relativas saudades dos prefácios de alguns livros, prosas capazes de rivalizar com o seu conteúdo ou…
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