Espírito Natalício Por Alice Vieira Os tios que me criaram eram fanaticamente ateus. Por isso lá em casa presépios era coisa que não havia. Acho que fiz o primeiro presépio, já a minha filha teria para aí uns 10, 11 anos — um presépio muito revolucionário, com as figuras todas de cartazes nas mãos com estranhos pedidos, a saber “nem mais um anjo para as colónias” ou “Força, força, companheiro Jesus”, e assim por diante. Hoje faço colecção de presépios e tenho quase 200, também com alguns muito estranhos,…
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Crónica de Alexandre Honrado | Conto de Natal
Crónica de Alexandre Honrado Conto de Natal “Era uma vez… Era uma vez a minha pessoa, pequena e cheia de sonhos, que se chegava ao Natal em bicos de pés, a perguntar com os olhos: será que há uma prenda para mim? Mais do que gostar de prendas, eu gostava das histórias da avó Ana. Eu nasci há tantos anos que nessa altura as histórias tinham mais valor: as pessoas contavam-nas com um grande respeito. A música de Natal já andava pelo ar, as pessoas sabiam canções de cor…
Ler maisCrónica de Jorge C Ferreira | Paixão
Crónica de Jorge C Ferreira Paixão Corpos exaustos. Corações sôfregos num apressado bater. O tempo corre da mesma maneira. Só a eles parece que não. A eles, que não o vêem numa correria louca, numa estapafúrdia loucura. Tentam parar os ponteiros de relógios imaginários. É tempo de parar, respirar fundo, inspirar e expirar de forma sincopada. Vão buscar os medos que os invadem ao mais fundo deles, passar para outro estado. Os beijos apaixonados. Os corações a baterem num compasso apressado. Corações unidos. Unidos sentimentos. Outro beijo e a…
Ler maisCrónica de Licínia Quitério | Gatos
De ontem e de hoje – Gatos por Licínia Quitério Hoje vou falar sobre gatos. Sobre a minha relação com os gatos que ao longo da vida vêm partilhando comigo casa e comida, para não falar de discussões e brincadeiras. Quando nasci havia lá em casa um gato de que não me posso lembrar porque quando morreu eu ainda era inconsciente da vida que começava. Diziam os meus pais que era um animal meigo e que me dava marradinhas suaves. O primeiro gato que conheci de perto chamava-se Lince,…
Ler maisCrónica de Jorge C Ferreira | Coisas da vida
Crónica de Jorge C Ferreira Coisas da vida Um corpo que treme. Outro que agasalha. A complementaridade que faz falta para sobreviver neste triste mundo. O calor que é escasso para muita gente. E demasiado para outros. Uma Mãe dá de mamar ao filho. A mama coberta com uma fralda de pano branco. O leite que parece querer acabar. Talvez falte alimento à Mãe. Talvez só ansiedade do que será o futuro daquela criança. Um leite, apesar de tudo, único. Um leite cheio de amor. Leite vida. Havia também…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado | Um texto em paz
Crónica de Alexandre Honrado Um texto em paz A guerra – um dos tipos de assassinato cometido em nome de Estados – continua a ser prática corrente e recorrente numa civilização enferma, onde o cometimento dos excessos contra a dignidade humana parecem ter mais êxito do que a diplomacia, a proximidade, a solidariedade, a mescla, únicas ações concretas que podem conduzir à sobrevivência do que há de efetivamente humano na Humanidade. A cultura da morte mantém-se com intensidade, vão oferecer-se às crianças muitas armas neste Natal, muitos jogos onde…
Ler maisCrónica de Alice Vieira | Dias disto e daquilo
Dias disto e daquilo Por Alice Vieira Aqui há uns anos o dia 8 de Dezembro era Dia da Mãe — e, para mim e para muitas das minhas amigas, continua a ser. Não por ser Dia de Nª Sª da Conceição mas sim porque era tradição. Depois veio a Europa e essas coisas e nunca mais ninguém se entendeu porque a data passou a ser móvel… e, mesmo assim, a ”mobilidade“ não e a mesma para toda a gente. Vejamos: Jugoslávia — duas semanas antes do Natal; México…
Ler maisCrónica de Jorge C Ferreira | Tanto tempo
Crónica de Jorge C Ferreira Tanto tempo Quantas horas demora a euforia da vida? Quantas vidas enganamos com uma cara de felicidade? Momentos, doçuras, vaidades, ternuras. A vida a andar para a frente. O futuro que tentamos descortinar ao longe. A alegria que se quer encontrar. O tempo que passa com uma frenética rapidez e uma outra vida quase parada num canto do tempo. Uma vida esquecida. O tempo em que éramos só futuro. O pinhal e a praia. A roupa da moda. Os bronzeadores. A boîte no escuro…
Ler maisCrónica de Licínia Quitério | O racionamento
De ontem e de hoje – O racionamento por Licínia Quitério Eu era muito pequena quando a guerra acabou, mas lembro-me bem do “racionamento”, essa palavra que andava de lar em lar, de boca em boca, e que para mim constituía um divertimento diário. Era-me então permitido recortar uns quadradinhos de papel azul-claro onde estava inscrita uma data e um qualquer número que queria dizer “pão”. A minha mãe dizia-me quantos quadradinhos eu devia entregar ao padeiro que nos trazia o pão à porta. Lembro-me do boné dele, do…
Ler maisCrónica de Jorge C Ferreira | Mentes cerradas
Crónica de Jorge C Ferreira | Mentes cerradas O que vamos esquecendo. O que queremos esquecer. O percurso que vamos percorrendo. A esperança de aprender mais alguma coisa no próximo passo. Algo que compense o que esquecemos. Os que deixam de nos conhecer. Os que passam a ignorar-nos. Que nada disso nos faça quebrar. Vidas quebradas são pedaços de nada. Restos sem sentido. Esquecer tudo. As mentes cerradas. Corpos encarcerados. Um esgar que parece um sorriso. Uma espécie de ensaio sobre a ternura. Entender como se despedem de nós.…
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