De ontem e de hoje | O Herlânder e a Neuza por Licínia Quitério Hoje bateu-me à porta alguém vindo de um tempo em que todos eram velhos, uns mais do que outros, a não ser o Herlânder e a Neuza e todos os que eram novos como eu. Só os velhos, uns mais do que outros, é que não pulavam todo o dia e alguns ficavam muito sossegados nas cadeiras, com ou sem mesa, calados ou a conversarem. Lembro-me bem de um velho que nos dias de Sol…
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Crónica de Jorge C Ferreira | Um mundo estranho
Crónica de Jorge C Ferreira Um mundo estranho Um alfabeto desconhecido. As letras esculpidas na pedra. Uma mulher que nunca soube ler e fala na língua escrita naquelas palavras. Uma mulher que é uma errância nos seus labirínticos caminhos. Subterrâneas galerias. Profundos sentimentos. Muitas vezes é difícil encontrá-la. Tem o mapa do ventre daquela terra na sua cabeça. Mulher astuta, intensa e pura. Os seus perfumes vêm das ervas que colhe e incendeia. Misturas sábias. Alquimia. A luz e o odor numa combinação perfeita. Os archotes da tentação. É a…
Ler maisCrónica de Alice Vieira | Um homem bom
Um homem bom Por Alice Vieira Meus amigos. Já há algum tempo que ando para vos falar aqui de um homem bom, que é meu amigo há muitos anos–até porque homens bons não andam por aí muitos. Mas depois metiam-se outros assuntos pelo meio — até porque normalmente a gente liga mais a coisas más do que a coisas boas (é só ver os jornais e os telejornais, que normalmente só falam de coisas más…) e fui adiando. Mas hoje decidi-me. Se calhar porque anda aqui pela Ericeira um…
Ler maisCrónica de Jorge C Ferreira | Uma figura estranha
Crónica de Jorge C Ferreira Uma figura estranha Chega um barco do Barreiro, sai um barco para o Seixal, zarpa outro barco para Cacilhas, atraca um vindo da Trafaria via Porto Brandão. É um vai e vem no estuário do rio que ilumina Lisboa. Em Belém ninguém espera por ninguém, um cais vazio, um pontão que balança. Quando a pouca gente que parecia ser toda a gente que viajava naquele barco já estava na rua a caminho de Belém, sai uma figura estranha, gabardine, chapéu de aba larga, óculos…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado | Fazer abril (em março)
Crónica de Alexandre Honrado Fazer abril (em março) “A porta da justiça é o estudo” Walter Benjamin. Há quem não goste de estudar e há quem não veja qualquer impedimento em estudar todo o tipo de matérias. Aprender confere ao indivíduo o bem-estar de libertação. Se o mundo interior for livre, muito mais facilmente se aspira à liberdade do mundo exterior, que se conquista pela determinação, persistência e sapiência. Todavia, o que se aprende deve ser escolhido de modo a não constituir um sedimento nefasto, que é o…
Ler maisCrónica de Licínia Quitério | Pastelaria Edite
De ontem e de hoje | Pastelaria Edite por Licínia Quitério Pastelaria Edite – era o que dizia o letreiro na cimeira da porta e montra. Um espaço acanhado para meia dúzia de mesas, um balcão ao fundo, em L, o lado menor junto à parede. Era exactamente aí que durante anos vi o senhor Pina a tirar bicas, em movimentos automatizados, a rodar o manípulo, a carregar no botão, a bater com força duas vezes, duas, o recipiente a despejar o café molhado e espremido. Os clientes, na…
Ler maisCrónica de Jorge C Ferreira | Carnaval
Crónica de Jorge C Ferreira Carnaval Máscaras, caretas, carantonhas, dissimulações, fingimentos, fantochadas, fantasias para um dia. Matrafonas, fantoches e maltrapilhos. As cegadas. Há quem diga que por um dia conseguiu ser o que queria. Há quem mude de sexo, há quem mude de feitio, há quem mude de vida e de sabor. Há quem prove o nunca provado. Há quem goste e quem não goste. É como tudo neste mundo sem lei. As bisnagas e uma garrafinha de mau cheiro. A festa agendada desde sempre e que parece surpresa.…
Ler maisCrónica de Alice Vieira | Laura Alves
Laura Alves Por Alice Vieira Acho que nunca falhei um espectáculo do Filipe la Féria, desde os tempos do “What Happened to Madalena Iglésias” na velha Casa da Comédia. Por isso nunca falharia o que está agora em cena, dedicado à vida da actriz Laura Alves. Quando eu era jovem, eu vivia em Lisboa, muito perto da casa dela e do Teatro Monumental. Pisou vários palcos, mas a partir da altura em que o Teatro Monumental foi construído, nunca mais saiu de lá. O Monumental tornou-se a sua casa.…
Ler maisCrónica de Jorge C Ferreira | Murais
Crónica de Jorge C Ferreira Murais Gritam medos a horas tardias. As noites sobressaltadas onde não nos encontramos. As sombras da sombra da noite. Nem um holofote nos toca com o seu foco energizante. A força que se esvai entre penumbras. As estreitas vielas, os becos da saudade. A vontade de saltar um muro onde alguém pintou umas escadas para o céu. Os murais da liberdade. A criatividade à solta. Muitas vezes, feitos enquanto dormíamos. Tanta coisa perdida. Descer até à praia. Procurar a claridade. Procurar um pouco de…
Ler maisCrónica de Eugénio Ruivo — A polícia de choque invade a cidade universitária
Crónica de Eugénio Ruivo A polícia de choque invade a cidade universitária Foi em 6 de Abril de 1962 quando o Ângelo, juntamente com um grupo de rapazes dos 9 aos 11 anos, resolvem ir “jogar futebol” para as proximidades da Aula-Magna da Reitoria da Universidade Clássica. Vivia perto da linha dos comboios em Entrecampos e, era habitual durante as tardes ir brincar para o Campo Grande. Sabia que era proibido jogar no jardim, mas com os seus amigos decidiram ignorar essa proibição (não tínhamos outro espaço tão bom,…
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