Crónica de Alexandre Honrado – Há tanta ideia ideia por pensar – parte dois

CRÓNICA DE 2
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HÁ TANTA IDEIA POR PENSAR

PARTE DOIS

 

Um andorinhão intui. O homem pensa. Ou será o contrário, neste tempo, o de agora, em que nos inquietamos tanto e, paradoxo!, nos aquietamos demasiado.

É um risco trazer nomes para um local onde o pensamento se quer resistente, acima de qualquer protagonista. Mas é irresistível. Por exemplo, Heidegger e Deleuze. Não importa nem biografá-los nem fazer-lhes a louvação. Limitemo-nos a explicar porque os requisitamos: não sendo parecidos no modo como pensam, ambos nos advertem de um problema impensável: nós não pensamos, asseguram.
Heidegger diz que não aprendemos ainda a pensar; Deleuze diz que não pensamos ainda.

Carregamos essa herança, a cobrar mais tarde: há um futuro para o pensamento.

Pensar não é nem um fio estendido entre um sujeito e um objeto, nem a revolução de um em torno do outro.  É o que diz Deleuze. E Heidegger riposta: ainda não aprendemos a pensar. O pensamento permanecerá em nós uma possibilidade não realizada enquanto não se der por tarefa o que eminentemente dá que pensar.

Sócrates, o filósofo grego, pensou. Não deixou um único pensamento escrito, mas herdeiros que lhos atribuíram. Recorreu ao que havia de mais abstrato no processo de pensar. E juntou-lhe alegorias. E o efeito surpresa, vindo da mais profunda reflexão.
Estamos convencidos de que Sócrates, o filósofo, terá pensado. Ou, depois dele, que alguém tenha pensado que ele pensou. E até que de modo entusiasmado se tenha posto a pensar por ele. Frases como Sábio é aquele que conhece os limites da própria ignorância, são-lhe atribuídas. Pode ser um bom pensamento.

Mas pensar é muito difícil, mesmo arriscado. E interpretar quem pensa ou os seus pensamentos, uma tarefa para audazes.
Os alquimistas julgavam – julgam? – que a Alquimia ajuda a eliminar o supérfluo e a transmutar o impuro, através de energias específicas. Os tempos atuais são impuros. Nada parece ser o elemento essencial. Os pensamentos, admitindo-os, são impurezas. Porque não sugerir uma filosofia do impuro, na pista de uma interpretação que possa levar a pelo menos uma forma de pensar?

 

Alexandre Honrado

Historiador

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