Crónica de Alexandre Honrado Sorte? Há pouco, no adro da Igreja, encontrei-me com outros homens sem fé e discutimos se os deuses são gestores da sorte, que condenam à morte ditadores, os monges budistas, crianças inocentes, quem lhe estiver ao alcance. Chamem-lhe costume ou superstição ou feng shui. Imagina agora que lá fora estão a pintar as paredes com sprays desinquietos (dos artistas famosos aos empreiteiros, todos queremos deixar a nossa assinatura) e eu aqui, à espera da sorte, deitado em cima do pano verde das apostas, a escutar…
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Crónica de Jorge C Ferreira | Os mundos
Crónica de Jorge C Ferreira Os mundos Quando há um mundo que chega. Um mundo que pode ser uma mulher. Quando a mulher é inteira e vertical. Quando a vida parece nunca chegar. Quando a terra parece parar. Os minutos que passamos à espera do futuro. O futuro sem fim. Uma baleia que navega connosco. Um peixe voador. As escamas do amor. Amor feito e cantado. Amor desarmado. A vida desorbitada. A órbita desconhecida. A atracção da lua. Um amor que se quer colar a nós. Uma vida, a…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado | Todo este fogo que arde em nós
Crónica de Alexandre Honrado O TRIUNFO DA INSENSIBILIDADE (OU PORQUE É QUE NÃO SOMOS NADA ESTÉTICOS) Somos uma incógnita e nunca conseguimos responder à dúvida dupla: o homem faz a vida ou a vida faz o homem? Se pusermos ao espelho o homem ocidental de hoje, ele é um reflexo padronizado: veste marcas universais, usando o luxo ou os mais originais gadgets da moda, mesmo por imitação, enquanto adelgaça as formas em ginásios comuns, faz cirurgias estéticas para se aproximar de um padrão qualquer que a estação…
Ler maisCrónica de Licínia Quitério | DIES IRAE
De ontem e de hoje | DIES IRAE por Licínia Quitério Há semanas assim em que tudo acontece, no mundo, em nós, no perto, no longe, uma girândola de notícias indesejadas a invadir-nos as horas, a desafiar-nos os nervos, a provocar-nos sentimentos tão diversos como diversa esta aventura de viver, mesmo nos anos da última etapa. Sei lá por onde começar, sei que não respeitarei datas nem categorias nem grandezas nem graus de importância nos outros ou em mim, apenas me deixarei levar num rio de memória recente, de…
Ler maisCrónica de Jorge C Ferreira | A lama e as laranjas
Crónica de Jorge C Ferreira A lama e as laranjas A vida desordenada, perdida, difícil de reinventar. O desconcerto desbragado do mundo. O nunca acontecido. O nunca esperado. Um cimento que derruba vidas. Aquele lamaçal que leva e enterra pessoas em lugares desconhecidos. A segurança escondida em malabarismos de saltimbanco. As pontes e os caminhos destruídos. O vizinho desaparecido. As casas engolidas pela intempérie. A nossa pequenez perante a força da natureza. A natureza revoltada perante a tanta estupidez e a enorme ganância. Há quem chore enquanto outros arregaçam…
Ler maisCrónica de Alice Vieira | Recordar quem merece
Recordar quem merece Por Alice Vieira O escritor José Cardoso Pires viveu durante muitos anos na Ericeira. A casa (ao lado da casa onde eu nessa altura vivia) tem uma placa a lembrá-lo. Mas os anos deram cabo da placa, ou seja, as letras já não se veem. Há dias até me disseram que a placa tinha sido retirada — mas isso não posso confirmar e não quero acreditar. Lembro-me sempre de um dia, eram os meus filhos pequeninos, andávamos na praia e eles tentavam lançar um papagaio de…
Ler maisCrónica de Jorge C Ferreira | Notas sobre o passado
Crónica de Jorge C Ferreira Notas sobre o passado Os momentos inconstantes. As interrupções da vida. Um tempo que perdemos. A abstração dos sentidos. Os sentidos perdidos. Um vácuo que se impõe. O vazio da mente. A mente cansada da vítima. A vítima da desgraça. Vivemos num mundo onde muita gente é alheia a quem vive perto de si, ao seu lado, no seu bairro. Sendo este mundo cada vez mais uma aldeia, principalmente para os que têm algum poder económico, é trágico que o sentido de vizinhança esteja…
Ler maisCrónica de Licínia Quitério | Os brinquedos
De ontem e de hoje | Os brinquedos por Licínia Quitério Com os brinquedos começamos a aprender a fingir, a imitar, a jogar, a ganhar, a perder, a exercitar o grande trabalho de crescer. Os brinquedos da nossa infância têm lugar cativo nas memórias mais antigas e servem muitas vezes de gatilho para tantas histórias que contamos, recontamos, dramatizadas ao jeito da nossa imaginação, da nossa vontade de efabular sobre um tempo antes, muito antes, que foi o nosso primeiro. Todos nós tivemos aquilo a que chamámos brinquedo, um…
Ler maisCrónica de Jorge C Ferreira | Estórias da História
Crónica de Jorge C Ferreira Estórias da História Dúvidas, obstáculos, ruas sem saída, saídas sem becos, correrias sem fim e o sem fim das grandes avenidas. Desconhecemos os caminhos proibidos, os pecados sem remissão, as falsas confissões, as falsas absolvições. Uma terra sem santos nem pecadores. Um rio de todas as travessias. Os difíceis modos de chegar à outra margem. As perigosas areias movediças. Um monte com uma estátua sagrada para quem acredita no ser. Uns rezam, outros tiram fotografias. Há quem suba ao monte e aos pés da…
Ler maisCrónica de Alice Vieira | Desilusões
Desilusões Por Alice Vieira A minha amiga Teresa vai de viagem a Marrocos. Quando me deu a notícia, eu desatei a rir e ela, evidentemente, pensou que eu estava maluca, que graça tinha ela ir a Marrocos?! Mas, de cada vez que me falam em Marrocos, eu desato logo a rir. E só depois explico. Era a primeira vez que eu ia a Marrocos. Um guia extraordinário que, depois de nos largar, despia a djellaba e ia, com dois ou três de quem tinha ficado amigo, mostrar-nos outras coisas…
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