Folhetim | Casa de Hóspedes (12º. Episódio)

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FOLHETIM | Uma rubrica de Licínia Quitério

 

Casa de Hóspedes (12º. Episódio)

A campainha da porta tocou, uma vez, duas vezes, de seguida. Dona Júlia pensou, quem será que vem com pressa, se é para vender porcarias vai de caminho que eu já estou atrasada para ir à praça, e logo hoje que queria apanhar algum peixe fresquinho. Espreitou pelo ralo, uma figura desconhecida de mulher, bom aspecto, mas nunca fiando em aspectos, que anda por aí muito malandro com ar de pessoa séria, pigarreou e perguntou quem é. A desconhecida aproximou-se mais da porta e disse sou a mulher do Mário Manuel, queria ter uma conversa com a Dona Júlia, pode ser? Assim de repente, Mário Manuel, ah seria o Sr. Mário, lembrava-se lá que ele era também Manuel. Ajeitou um botão da blusa, preparou-se para abrir a porta enquanto dizia, um momento, um momento, e pensava, o que é que esta quer de mim, já tenho trabalhos que chegue, confusões de marido e mulher era o que mais me faltava.

Mandou-a entrar, fechou a porta e apertou a mão que a outra lhe estendeu. A visita ficou de frente para o grande quadro, na parede do corredor, com uma batalha do tempo do Napoleão, ainda disse, que linda pintura, é obra de um tio-avô do meu falecido, a bem dizer não aprecio muito estas pinturas de guerras, há quem goste. Mas entre, entre aqui para a salinha, eu não demoro, entre e sente-se, a casa é modesta, não repare na desarrumação, mas o trabalho é mais do que as minhas forças em certos dias. A Dona Júlia perguntará o que é que eu venho fazer a sua casa, desculpe, assim sem aviso, mas ando com um assunto aqui atravessado e tenho que desabafar. A dona da casa aguardava o desfiar da conversa, o que é que esta agora me quer, chatices já eu tenho de sobra, diga, minha senhora, se eu puder ajudar. A outra, ruborizada, dando voltas ao fio de ouro com uma medalhinha da Senhora da Conceição, endireitou-se na cadeira, a Dona Júlia reparou como era ainda uma mulher bonita e elegante, com a boca muito fina que ela associava a pessoas de pelo na venta, como dizia a sua saudosa mãe.

(continua)

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