Ir a Lisboa e endoidecer Hoje fui a Lisboa e fiquei louco. Sim, fui passear pela minha cidade. Pela minha cidade Mãe. A “cidade branca”. A cidade da luz única. A cidade do rio grande. Sim, fui a Lisboa e enlouqueci. Que estão a fazer à minha cidade? Que invasão é esta? Onde estamos? Dizem-me que Lisboa está na moda. Mas que Lisboa? A Lisboa quase sem lisboetas? Qualquer dia temos reservas de naturais nos bairros típicos. É necessário alguém que tenha uma ideia para a Cidade. É urgente! A…
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Crónica de Alexandre Honrado | O elogio dos assobios
O ELOGIO DOS ASSOBIOS Em garoto “fazia” assobios – seriam apitos, claro – esfregando sementes secas nas pedras e provocando-lhe um pequeno orifício, pelo qual soprava provocando modulações inquietantes que atroavam os ares mas avisavam os familiares da minha posição relativa na selva dos becos, travessas e ruas das traseiras lá de casa. Gostava de assobiar, em miúdo, e ainda hoje, sem qualquer justificação, dou comigo a assobiar, reproduzindo músicas que me ficam a bailar por dentro e querem muito que as lance cá para fora. Tenho uma boa…
Ler maisFolhetim | Benvinda – Uma História de Emigração (15º. Episódio)
FOLHETIM | Uma rubrica de Licínia Quitério FOLHETIM – A História de Benvinda (15º. Episódio) E agora? Agora estamos a chegar ao fim e depois, quando a gente já estiver a dar contas a Deus, ninguém vai querer saber disto para nada. Os filhos? Ai, os filhos. Benvinda suspira muito quando fala dos filhos. Raramente refere o Basílio e se o cita é de raspão, a fugir das minhas interrogações, nada de pormenores, o filho foi um monte de preocupações, de desgostos, Basílio perdido na cidade, atraído pela escória de…
Ler maisCrónicas de Jorge C Ferreira | Um beijo para Marielle
Um beijo para Marielle Chegar ao Rio num voo de ilusão. Procurar Marielle. Procurar a Liberdade. Procurar as mulheres de todas as cores e de todas as alegrias. Procurar o Arco-Íris. Procurar Marielle. Encontrar rostos com vontades escritas. A valentia tatuada em cada corpo. Os corpos abertos e despertos. Milhares de “Marielles” a ocuparem as ruas que lhes querem negar. O Rio de Janeiro. A cidade única. Chegar ao Corcovado olhar para o imenso e não ser capaz de conter as lágrimas. Porque o belo desarma todas as defesas, faz-nos…
Ler maisCrónica de Alice Vieira | A Herança de Alice
A Herança de Alice Alice Vieira Durante muitos anos detestei chamar-me Alice. Alice era herança de uma avó que nunca conheci, mas que sempre ouvi dizer não ser boa de assoar. De resto, basta olhar para a única fotografia que dela me ficou para acreditar no que me diziam. E nem a terrível alternativa de me poderem ter dado o nome de Gertrudes, a outra avó, me fazia aceitar melhor o meu destino onomástico. Porque naquele tempo ninguém se chamava Alice. E nada pior que ser Alice num tempo…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado – Loucura, cultura, ambiguidade
O mundo não é louco. Somos nós, os habitantes do mundo – os que espezinhamos, mudamos, torcemos o mundo à nossa vontade – que percorremos os mais variados degraus da loucura e com isso estragamos a intensa casa em comum que não respeitamos. Em boa medida, a loucura nem devia ser para aqui chamada, por constituir-se tão somente num estado de desinquieta quietação que leva, da agitação ao repouso, os nossos piores momentos. É bárbaro, e não louco, o mundo em que vivemos. Que teima nos mesmos erros do passado:…
Ler maisCrónicas de Jorge C Ferreira | O Caos
O Caos Procurar o belo no meio do caos. Amar sob as ruínas da maldição. Fazer um filho no ventre da guerra. A carne do desassossego. Uma flor que nasce de um pó infestado de cólera. Um verso escrito com sangue desconhecido. Um poema de dor e sofrimento e uma escrita de letra desenhada com um martirizado esforço. Uma mão trémula. Um verbo desconhecido. As linhas desalinhavadas num desencontro encontrado. Saber da virtude imensa da arte. Do seu enorme poder de sedução. Do seu amor pela luz. Uma luz que…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado | Mau tempo. No canal
MAU TEMPO. NO CANAL. Almoço. No local público há televisores em todos os recantos, de modo que na perspetiva de cada um não falte uma imagem, uma só que seja, do circo mediático. Os que não olham para os pequenos ecrãs dos telemóveis olham para os ecrãs medianos dos televisores. Poucos olham para o parceiro de mesa. Nos ecrãs, como na velhas casas dos horrores das feiras populares, só há sangue e morte, nuvens ameaçadores e gritos de sofrer. Mas na casinha dos horrores da feira nada disto é…
Ler maisFolhetim | Benvinda – Uma História de Emigração (14º. Episódio)
FOLHETIM | Uma rubrica de Licínia Quitério FOLHETIM – A História de Benvinda (14º. Episódio) Ai senhora nem me fale dessas viagens, a gente já entrávamos no carro esfalfados, arrumar aquela bagagem toda, até ao colo trazíamos os tachos. Do que me lembro é de apanharmos uma caloraça a atravessar a Espanha e de eu agoniar e vazar tudo borda fora do carro, que nas “auto-routes” não se pode parar e o meu Bento a gritar, ó mulher aguenta-te até sairmos da “auto-route” mas quem é que diz que eu…
Ler maisCrónicas de Jorge C Ferreira | As Guerras
As Guerras Chegam-me gritos, choros e um cheiro que incomoda. Um cheiro a guerra. Uma guerra constante, uma vergonha que nunca pára. De guerra em guerra nos vamos cansando. Já nos doem os olhos de ver tantas lágrimas. De ver tantos povos massacrados. Tanta mortandade. Fazer as guerras longe de casa. É este o propósito dos cães grandes. É assim a hipocrisia dos senhores que fazem e mandam nestas abastardadas guerras. Traficantes da morte. Vendem as armas e choram os mortos. Restos de desumanas pessoas a quem é difícil dar…
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