Folhetim | Desvairadas Gentes (4º. Episódio)

FOLHETIM | Uma rubrica de Licínia Quitério DESVAIRADAS GENTES (4º. Episódio) Preço bem discutido. – Por esse dinheiro compro eu três ali abaixo. – Venha cá, senhora, que eu não engano ninguém. Pela minha saúde que prefiro não ganhar dinheiro nenhum e estrear-me hoje com uma freguesa tão simpática. – Deixe-se de cantigas e guarde lá essas gabarolices para a sua mulher. – Prontos, freguesa, não se zangue que o cigano só quer servir bem o cliente. E gritava: – Olha as arcas de macacaúba! Venham ver que pr’a semana não…

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Crónicas de Jorge C Ferreira | O Tempo que avança

O Tempo que avança Está passado já um mês neste Reino. Muitas coisas a acontecerem. A vida que não pára. Esta vida, que teima em copiar o mar. vão partindo e chegando pessoas. Vão e vêm afectos, ternuras, beijos e abraços. Há sempre coisas que faltam. Dores vadias. Pânicos que se instalam. Os livros que se vão lendo. Os textos que se vão escrevendo. Textos que vão variando com o tempo. A calmaria e o terramoto. Uma amálgama de sentimentos que nos habita. Sucedem-se acontecimentos em catadupa. Prisões de políticos,…

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Crónica de Alice Vieira | Tremoços na feira do livro

TREMOÇOS NA FEIRA DO LIVRO Alice Vieira   O mês de Junho é sempre rico de actividades. Começa hoje, com o Dia da Criança, este ano a calhar em dia útil e por isso lá se enchem as ruas de filas e filas de crianças dirigidas pelas professoras, que vêm ver o que cada terra tem para lhes mostrar. Ou, pelo menos, apanhar ar. Depois seguem-se os dias dos Santos Populares, as marchas—o que também anima sempre muito uma pessoa. Mas para mim o mês de Junho é sobretudo o…

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Crónica de Alexandre Honrado | A morte e outras coisas

A MORTE E OUTRAS COISAS   Era outrora que nos davam um lírio e um canivete e uma alma para ir à escola. O mapa imaginário, onde não vinha a nossa idade. A poeta – Natália! – bem o sabia. Mas esse outro tempo definhou como definharam outros tempos e uma espécie de esperança – embrulhada em nostalgias e profundas ingenuidades – foi crescendo em nós e pensámos que ainda um outro novo tempo podia mesmo construir-se e, se não pudesse construir-se era a nós que nos cabia e alguma…

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Crónicas de Jorge C Ferreira | Caravelas Portuguesas

Caravelas Portuguesas De repente um alvoroço desusado. As bandeiras vermelhas a serem içadas nas praias de bandeira azul. Os nadadores salvadores a apitarem desalmadamente. Ninguém pode ir ao banho. Que se passa? Um Tsunami? Nada disso! São as “Caravelas Portugueses” a invadirem os areais Alicantinos. São vistosas. Têm uns tentáculos de metros. Tocar-lhes, um perigo. A invasão faz-se de forma lenta. Não sei se alguém vem dentro daquelas caravelas. Por vezes imagino seres invisíveis a saírem do seu bojo e a espalharem-se pela terra inteira. Que terra iríamos ter? Quem…

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Crónica de Alexandre Honrado | Nada ou alegadamente coisa nenhuma

NADA OU ALEGADAMENTE COISA NENHUMA   Num texto de Desidério Murcho, filósofo português e professor na Universidade de Minas Gerais, no Brasil, saltou-me à vista uma pergunta formulada por Leibniz, filósofo alemão dos séculos XVII e XVIII: “Por que há algo em vez de nada?”. Sim. Porque é que há sempre alguma coisa, em vez da suave equidade da coisa nenhuma, do nada tranquilizador, da pacífica ausência de objetos, opiniões, sentimentos, atitudes? Não estrarei em disputa com as ideias de Leibniz, por minha incapacidade, nem irei à procura da intensa…

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Folhetim | Desvairadas Gentes (3º. Episódio)

FOLHETIM | Uma rubrica de Licínia Quitério DESVAIRADAS GENTES (3º. Episódio) O Zeca com um pé na calçada, a Dona Amália com o avental dobrado em guardanapo a esconder algumas nódoas. O senhor António assomou à porta, porém sem transpor o degrau, não fosse algum malandreco aproveitar a distracção e, num abrir e fechar de olhos, botar a mão no alheio. E os gritos, agora já palavras perceptíveis: – Eu tiro-te as tripas, malandro, meu porco sujo. Pela saúde dos meus filhos, juro que a matrafona há-de ficar marcada para o…

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Crónicas de Jorge C Ferreira | O Baile

O Baile Dos passos não dados, das pegadas apagadas, dos voos adiados, dos beijos esquecidos, dos textos errantes. De tudo isto também se faz o nosso caminho. Somos o somatório do conseguido e do inconseguido. Somos a festa do alegre desejo alcançado e do morrer de sede com um cantil cheio na mochila. Somos o baile, a cadeira e a vassoura. Muitas vezes dançámos com a tia velha, porque chegar à princesa era impossível. Vou caminhando e vou pensando no quanto me falta caminhar. Um passo? Quanta vida no próximo…

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Crónica de Alice Vieira | Livros para deitar fora

LIVROS PARA DEITAR FORA Alice Vieira   Confesso: não sou capaz de deitar livros fora. De resto, eu pertenço a uma geração que tem muita dificuldade em deitar fora seja o que for. Por isso os objectos se vão acumulando e eu perguntando-me “o que é que faço a isto?” Já pensei em fazer uma trouxa e ir vendê-los para a Feira da Ladra, mas os meus horários não me permitem ficar lá uma data de horas à espera de ver aparecer multidões interessadas em galhardetes, quadros com o brazão…

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Crónica da Alexandre Honrado || A Agonia

A AGONIA Foi ideia de alguns sonhadores excecionais essa utopia das fragilidades e do imprevisível, resultante de paixões antigas e ânsias muito renovadoras e jovens, a que genericamente se chamou Democracia e que, por herança, recebemos tardiamente da mão fértil da democratização europeia, graças a um punhado de homens de elite que já eram europeus à moda nova antes de muitos outros. Tratando-se de uma construção colectiva, como certas obras de grandeza maior – recorde-se aqueles aquedutos que beneficiavam todos e matavam a sede de povos merecedores que os pagaram…

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