Crónica de Jorge C Ferreira Murais Gritam medos a horas tardias. As noites sobressaltadas onde não nos encontramos. As sombras da sombra da noite. Nem um holofote nos toca com o seu foco energizante. A força que se esvai entre penumbras. As estreitas vielas, os becos da saudade. A vontade de saltar um muro onde alguém pintou umas escadas para o céu. Os murais da liberdade. A criatividade à solta. Muitas vezes, feitos enquanto dormíamos. Tanta coisa perdida. Descer até à praia. Procurar a claridade. Procurar um pouco de…
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Crónica de Eugénio Ruivo — A polícia de choque invade a cidade universitária
Crónica de Eugénio Ruivo A polícia de choque invade a cidade universitária Foi em 6 de Abril de 1962 quando o Ângelo, juntamente com um grupo de rapazes dos 9 aos 11 anos, resolvem ir “jogar futebol” para as proximidades da Aula-Magna da Reitoria da Universidade Clássica. Vivia perto da linha dos comboios em Entrecampos e, era habitual durante as tardes ir brincar para o Campo Grande. Sabia que era proibido jogar no jardim, mas com os seus amigos decidiram ignorar essa proibição (não tínhamos outro espaço tão bom,…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado | Sobre a ideia de crença Em hora de ameaças
Crónica de Alexandre Honrado Sobre a ideia de crença Em hora de ameaças Numa altura em que fundamentalistas extremistas organizam manifestações antirreligiosas, como se isso fosse coisa natural ou edificante, numa altura em que o fascismo nunca vencido resolveu medir forças com o progresso e a esperança, numa altura de luto, acredito ser obrigatório resgatar a cultura e a inteligência, organizar forças que se deixaram amolecer por se julgarem intocáveis, e preparar aquilo que somos para aquilo que devemos ser. Revisito em texto já datado; foi produzido para um…
Ler maisCrónica de Licínia Quitério | Os meus dias da rádio
De ontem e de hoje | Os meus dias da rádio por Licínia Quitério Faz muitos anos que, menina que eu era, vivia fascinada pelo som que se soltava daquela caixa castanha e polida, com um vidro cheio de letras e números onde, rodando um botão, se fazia navegar, para trás, para diante, um ponteiro fininho, não mais do que um risco preto no vidro iluminado. Era o ponteiro ao parar que fazia ouvir falas de homem, de mulher, ou músicas, tocadas e cantadas. Eram os dias da rádio.…
Ler maisCrónica de Jorge C Ferreira | Pensar e Sonhar
Crónica de Jorge C Ferreira Pensar e Sonhar Desdobravam noites atrás de dias entre ruínas de civilizações desaparecidas. Uma escrita que não sabiam decifrar, jogos de que não sabiam as regras. Nadavam num mar esmeralda e quente. O sal a tomar conta de tudo o que vivia neles. O sol a crescer forte e saboroso. A cor da sua pele a mudar. Uma vida quase de subsistência. Dedicavam muito tempo ao pensamento. Aprenderam a adorar o silêncio. Apenas ouviam a voz do mar. Uma voz que passou a fazer…
Ler maisCrónica de Alice Vieira | Os fantasmas que por aqui andam
Os fantasmas que por aqui andam Por Alice Vieira A gente nova é claro que nem imagina de que é que estou a falar, mas também duvido que os adultos saibam a história toda. Quem estiver de frente para o mar, na Praia do Sul, da Ericeira, se olhar para a sua esquerda, vê uma enorme moradia no alto de umas rochas. Melhor vista não pode haver. Ora bem : trata-se de uma casa assombrada. Os fantasmas passeiam-se nela durante todo o dia e, à noite, vão apanhar pessoas…
Ler maisCrónica de Jorge C Ferreira | Temporal
Crónica de Jorge C Ferreira Temporal O grasnar das gaivotas que voavam junto ao rio. Voos errantes, desordenados, um voar de perdição. Um tecto de nuvens negras que quase tocava o rio. Uma ondulação que lembrava o mar encrespado. Os sinais sonoros dos barcos a atravessarem o nevoeiro. O inesperado temporal. A chuva que começava a cair impiedosamente. As janelas viradas para o rio fechadas. Alguém, de vez em quando, arredava as cortinas e espreitava enquanto fazia as suas preces. Uma fadista vai para o seu trabalho. Leva o…
Ler maisCrónica de Licínia Quitério | Dantes é que era bom
De ontem e de hoje | Dantes é que era bom por Licínia Quitério “Naquele tempo a escola era risonha e franca…” Assim começa um poema que nos meus tempos de menina, meu Pai me deu a conhecer. Trago este verso com o propósito de reflectir nas relações havidas por cada geração com a aprendizagem do seu tempo. Naturalmente é a minha geração que me serve de amostra porque a observo nos abundantes ditos e escritos que citam e ilustram opiniões sobre escolaridade. É vulgar a crítica negativa à…
Ler maisCrónica de Jorge C Ferreira | A Mudança
Crónica de Jorge C Ferreira A Mudança O colo dela, o sossego dele. Uma guitarra dedilhada. Uma mulher deitada. O sossego dele, o colo dela. Um alaúde, uma cítara e um cajón. Uma música exótica. Um amor a crescer. Quantos dias tinha ela? Quantos eram os que ele tinha perdido quando os tentava contar? Nossa aventura. Feita caminhada. Os medos e os tempos vencidos. Uma faca afiada pronta para cortar contratempos. Um calendário com meses rasgados. A ignorância dos dias perdidos. Tempos houve em que os seus perfumes não…
Ler maisCrónica de Alice Vieira | Lembrando Carlos Pinhão
Lembrando Carlos Pinhão Por Alice Vieira Na passada 2ª feira faz trinta anos que morreu Carlos Pinhão. Nem quero pensar que já passou tanto tempo! Todos os dias me lembro dele, por variadas razões — mas todas me fazem rir. Acho que nunca o vi mal disposto. Para quem não sabe ou não o conheceu, Carlos Pinhão foi um grande jornalista desportivo (escreveu para a “Bola” e para o “Record”, mas também para outros jornais e revistas sobre outros assuntos — “Vértice”, “Diário de Lisboa”), “Diário Popular”, “Público”, ”Jornal…
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