As gracinhas dos nossos filhos Por Alice Vieira Quando o meu filho era miúdo — claro que os nossos filhos são sempre miúdos, mas neste caso, miúdo mesmo, para aí oito, nove anos — viajava muito. Jogador de xadrez, viajava muito com a Federação para participar em campeonatos por esse mundo fora. Então, eu pedia-lhe que, onde quer que estivesse, me mandasse um postal com as notícias (onde é que ainda vinham os telemóveis…). Coisa que ele cumpriu sempre. Por isso, há muitos anos que guardo um lindo postal…
Ler maisCategoria: Crónicas
Crónica de Licínia Quitério | A nova geração
De ontem e de hoje | A nova geração por Licínia Quitério Sabes, estou a dar o Memorial do Convento. E então, estás a gostar? Muito. Ainda não li todo, mas já dei uma olhadela até ao fim. O que a Blimunda vê é lindo, fantástico. Sabes que a Hélia pediu a Blimunda emprestada ao Saramago? Sério? Como foi isso? Pediu-lha para a fazer aparecer num livro seu, chamado Lilias Frazer. Mas mesmo com o nome de Blimunda? Sim, a encontrar-se com a Lilias. Não sabia. Que coisa interessante.…
Ler maisCrónica de Jorge C Ferreira | Outro Dia
Crónica de Jorge C Ferreira Outro Dia Novos inícios de dia. Novos fins de tudo. Um escuro que se desvanece. Um cântico estranho que se ouve. Uma língua desconhecida. Vozes longínquas. Estranhos e surdos pensamentos nos invadem o corpo. Nascem em nós estranhos sinais. Ainda estaremos a sonhar. De repente, um absoluto vazio. Um calado silêncio. Uma solidão inesperada. Um sonho apagado. Tudo isto demora um curto momento. Um tempo que não sabemos quantificar. Um som que começamos a ouvir. A telefonia que deixámos ligada antes de adormecermos. As…
Ler maisCrónica de Alice Vieira | Teatro amador
Teatro amador Por Alice Vieira Quando eu era mais nova — e não tinha tanto trabalho como tenho hoje…— uma das coisas que eu mais gostava de fazer era ir por esse país fora assistir a espectáculos de grupos de teatro amador. E nesse tempo havia muito bons grupos de teatro amador. Alguns tão bons ou melhores que os profissionais, sendo que, nessa altura, também se chamavam grupos de Teatro Experimental. (Lembram-se, por exemplo, do Teatro Experimental de Cascais, ou do Teatro Experimental do Porto). Nessas minhas andanças pelo…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado | O banal nunca é comum
Crónica de Alexandre Honrado O banal nunca é comum São malcriados. Há uma bitola para medi-los, é certo, e não se tolha a liberdade quando se aponta a dedo gente como eles. São violentos, mas não agressivos. O agressivo é competitivo, tenta impor dinâmica às coisas, transformando-as, mas essa gente, em contrapartida, é medíocre e muito covarde, exerce a força sobre os mais fracos, sempre sobre os mais fracos, e promove os seus soezes lugares-comuns. É gente malcriada, não sei se já disse. (O sentido da criação impõe formatos…
Ler maisCrónica de Jorge C Ferreira | Estrelas
Crónica de Jorge C Ferreira Estrelas Um desejo, uma loucura, a ternura que se procura. Será apenas um beijo prometido e nunca dado? Será a fuga tantas vezes ensaiada e nunca conseguida? Fugas à rotina, ao rame-rame. Aquela ilha sempre sonhada e nunca encontrada. Uma ilha que parece navegar. Uma ilha que sonhámos de encantar. Um mar esmeralda. Uma areia branca. As palmeiras a fazerem vénias ao mar. Tanto para navegar. Tanto para sonhar. A nossa Ítaca. As mesinhas e as falsas doenças. Os termómetros de mercúrio que subiam…
Ler maisCrónica de Licínia Quitério | Des-dizer
De ontem e de hoje | Des-dizer por Licínia Quitério Eu nada tenho de coleccioniadora de objectos, sejam maiores ou menores, antigos ou actuais, originais ou cópias. Do que eu gosto mesmo é de coleccionar, melhor, reunir, guardar na memória das curiosidades, o seguinte: palavras, por semelhança ou dissemelhança expressões banais de muito serem ditas ou invulgares por perda de uso ditos com o que se chama espírito ou com notória ausência dele frases feitas, tão úteis para quem não tem como fazê-las lugares comuns, em uso ou desuso…
Ler maisCrónica de Jorge C Ferreira | O Caminho que Liberta
Crónica de Jorge C Ferreira O Caminho que Liberta Decidiu percorrer um caminho que lhe libertasse o espírito. Caminhou sozinho e tanta gente caminhou com ele. Vivos e mortos. Penas e saudades. Memórias de uma vida. Pessoas que, mal ou bem, o ensinaram a viver. Veredas, riachos, rios, quedas de água. Pedaços de estradas romanas. Um trajecto de barco, algumas horas a navegar. O espírito sempre alerta. Carrega todos os sentimentos e todos os desejos. Não sei se rezou. Se sim, que orações o acompanharam? Não faço a mínima…
Ler maisCrónica de Alice Vieira | Pessoas Assim
Pessoas Assim Por Alice Vieira Desde criança que passo grandes temporadas na Ericeira. Há cinco anos que vivo cá e só muito raramente de cá saio. Por isso nunca pensei que me pudesse acontecer o que aconteceu. Estava eu de manhã na esplanada da praia do sul, como sempre,e, também como sempre, a ler o “Correio da Manhã”, que é o jornal que a praia recebe logo de manhãzinha. Nesse dia também trazia uma revista. Olho para a capa e tenho a vaga sensação de que já vi aquele…
Ler maisCrónica de Eugénio Ruivo — Da prisão à libertação – 27 abril de 1974
Da prisão à libertação – 27 abril de 1974 50 antifascistas são presos Em 6 de Abril de 1974 numa reunião de antifascistas ligados à Comissão Democrática Eleitoral (CDE), na Cooperativa “Forja” perto do cemitério de Benfica em Lisboa, somos presos pelo capitão Pereira da polícia de choque e enviados para o Governo Civil, quando se falava das razões que levavam à exclusão de centenas de milhares de crianças e jovens no acesso ao ensino. No decurso do trajeto, junto ao Jardim Zoológico perto de Sete-Rios, circula no passeio…
Ler mais