Crónica de Jorge C Ferreira | A Luz

Jorge C Ferreira

Crónica de Jorge C Ferreira A Luz   Os anos a correrem e as meninas a aprenderem. Cavalos brancos levam-nos até a um infinito impossível. A noite que cada vez parece mais perto. Uma escuridão, ou uma explosão de luz. Ninguém sabe. Ninguém nunca contou nada. Parece um segredo bem guardado. Eu penso que é o fim de tudo, mas respeito quem pense o contrário. Os que esperam uma nova vida. Quando sonho com os meus mais antigos, vejo-os sempre como os conheci. Tenho toda a sua imagem guardada em…

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Crónica de Eugénio Ruivo — O tempo do sonho interrompido aos 9 anos!

Eugénio Ruivo cp3

Crónica de Eugénio Ruivo O tempo do sonho interrompido aos 9 anos!   Eram cinco irmãos, todos filhos de agricultores naturais da freguesia de A-dos-Negros concelho do Bombarral, que de um momento para o outro, em 1931 se viram obrigados a abandonar a escola e ir trabalhar para o sustento da família. Foram distribuídos para vários pontos do país. O pai transformava lenha em carvão na aldeia para ir vender, a mãe iniciara a venda de peixe num lugar da praça do Bombarral. Do grupo Gracinda Ruivo (minha mãe), que…

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Crónica de Licínia Quitério | A aldeia global

Crónica de Licínia Quitério

De ontem e de hoje – A aldeia global por Licínia Quitério   A palavra “globalização” que inundou os vocabulários de todo o “globo”, pronuncia-se com  cuidados redobrados, não vamos, apressados, saltar uma sílaba e desfeá-la ou torná-la intraduzível. Este arrazoado vem a propósito da observação recente de novidades de além mundo que, com a tal globalização, têm chegado aos lugares mais improváveis deste nosso país. Gente apelidada de migrante, perdida a bondade ou oportunidade de seus países de origem, chega, por caminhos impensados, a vilas e aldeias deste país…

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Crónica de Jorge C Ferreira | Um mar enorme

Jorge C Ferreira

Crónica de Jorge C Ferreira Um mar enorme   Há quem a procure e não saiba quem ela é. Acham que vão encontrar o farol que lhes indicará o caminho único para a alegria. Marés, mares revoltos, ondas alterosas e ele lá vai. Há também uma estrela que é a estrela que marca o sentido da vida. Será esse o caminho certo? A lava escorre numa terra que eu adoro. Sulcos, estradas de fogo que, em breve, serão pedra. A ilha de todas as ilhas. Quando avistei pela primeira vez…

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Crónica de Alice Vieira | Teremos Sempre Paris

Alice Vieira

Teremos Sempre Paris Por Alice Vieira   Regresso de quatro dias de trabalho em Paris. Pelas escolas, com os meninos a mostrarem o que sabem de português e as professoras empenhadas em que eles não esqueçam a sua língua e as suas raízes. Faço algumas vezes este tipo de trabalho, pelas nossas comunidades espalhadas por esse mundo. Estive recentemente em Toronto a fazer o mesmo. Mas, independentemente do meu trabalho — Paris será sempre, para mim, um lugar especial. Um lugar onde eu poderia viver. Passadas as fronteiras portuguesas, Paris…

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Crónica de Alexandre Honrado | História transtornada

Alexandre Honrado

Crónica de Alexandre Honrado História transtornada Assistimos ao triunfo de uma barbárie que age em nome de uma aparente lealdade e que, todavia, não é mais do que uma nova dimensão do crime organizado, dos grandes negócios de armas e dos narcotráficos e dos interesses de países poderosos que, em tempo de crise, relançam as suas economias com a desfaçatez dos objetivos — e a ignorância do que é humano na jornada. Os deuses, todavia, ficam imunes ao que os homens fazem em seu nome. Permanecem vivos mesmo quando os…

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Crónica de Alexandre Honrado | Nada se compara com o meu cantinho

Alexandre Honrado

Crónica de Alexandre Honrado Nada se compara com o meu cantinho Ganhei o (estranho) hábito de me sentar em cantinhos bem iluminados.      É fundamental que sejam bem iluminados, esses cantinhos, e a razão para essa exigência é muito simples: regra geral faço-me acompanhar de livros, artigos de revistas, fotocópias e apesar de ler bem sem óculos, a luz devida tem de acompanhar-nos. A esse hábito acresce a sua motivação: é em cantinhos iluminados que as ideias se revelam e da escuridão – zona habitada pela profundidade – pode muito bem…

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Crónica de Licínia Quitério | Até ao meu regresso

Crónica de Licínia Quitério

De ontem e de hoje – Até ao meu regresso por Licínia Quitério   Pelo meio de tantas memórias que enchem caixas, caixotes, baús, fui recordar  os aerogramas, coisas que hoje já ninguém sabe o que são. Foi a guerra, talvez se lembrem, aquela devastadora guerra entre o governo de Portugal e os movimentos de libertação das colónias, que assim não podiam ser chamadas, mas províncias ultramarinas. Disfarces, eufemismos para catorze anos de sofrimento que queimaram corpos e sonhos de uma geração. Eram os aerogramas um papelito colorido que fazia…

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Crónica de Alice Vieira | Espírito Natalício

Alice Vieira

Espírito Natalício Por Alice Vieira   Os tios que me criaram eram fanaticamente ateus. Por isso lá em casa presépios era coisa que não havia. Acho que fiz o primeiro presépio, já a minha filha teria para aí uns 10, 11 anos — um presépio muito revolucionário, com as figuras todas de cartazes nas mãos com estranhos pedidos, a saber “nem mais um anjo para as colónias” ou “Força, força, companheiro Jesus”, e assim por diante. Hoje faço colecção de presépios e tenho quase 200, também com alguns muito estranhos,…

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Crónica de Alexandre Honrado | Conto de Natal

Alexandre Honrado

Crónica de Alexandre Honrado Conto de Natal   “Era uma vez… Era uma vez a minha pessoa, pequena e cheia de sonhos, que se chegava ao Natal em bicos de pés, a perguntar com os olhos: será que há uma prenda para mim? Mais do que gostar de prendas, eu gostava das histórias da avó Ana. Eu nasci há tantos anos que nessa altura as histórias tinham mais valor: as pessoas contavam-nas com um grande respeito. A música de Natal já andava pelo ar, as pessoas sabiam canções de cor…

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