Crónica de Licínia Quitério | Era uma vez um inglês

  De ontem e de hoje – Era uma vez um inglês por Licínia Quitério   Era uma vez um inglês, súbdito de Sua Majestade a Rainha Isabel, a primeira do seu trono, senhora de grande pudor e maior religiosidade. Grande era a urgência de Sua Majestade em combater os católicos, derrotá-los, custasse o que custasse, que bastava de heresias, mordomias e ousadias, com anglicanos disputadas. Foi nesse tempo de feroz guerrear que Dom Francis Trezian, desapossado de títulos e propriedades, meteu pernas a navio e ala que se faz…

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Crónica de Licínia Quitério | Vou ali e já volto

  De ontem e de hoje – Vou ali e já volto por Licínia Quitério     Ai a minha cabeça, ai a minha cabeça, é o que oiço em voz de mulher quase gritada vinda de um assento atrás do meu. Imagino-a ao telefone com alguém lá de casa que lhe diz, para sua grande  aflição, que não apagou o gás do fogão, ou que deixou o gato fechado no roupeiro, ou se esqueceu da sogra no supermercado. Isto imagino eu porque de facto nada sei de toda aquela…

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Crónica de Licínia Quitério | Os blogues

  De ontem e de hoje – Os blogues por Licínia Quitério   Reproduzo hoje um excerto de texto que escrevi no princípio do século quando os blogues estavam em grande divulgação. Não tardou a chegada das “redes sociais”, mais interactivas mais sedutoras, que hoje fazem parte do nosso uso e das nossas preocupações, chamem-se Facebook, Instagram, Linkedin, TikTok, etc. e o que logo mais surgirá. O mundo não pára e a imaginação dos homens também não. “… A proliferação dos blogues atrai as atenções de especialistas em ciências sociais…

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Crónica de Licínia Quitério | Mercados

  De ontem e de hoje – Mercados por Licínia Quitério   Agora que o Mercado Municipal de Mafra foi renovado, ao gosto dos modernos mercados por esse país fora, agora que já pouca gente lhe chama “Praça”, lembrei-me de deixar aqui excertos de um texto que escrevi há muito. Para memória futura, das gentes, das falas, desse ontem com outro sabor, outro ritmo: NA PRAÇA Vai-se à praça dar uma espreitadela. Da entrada, abarca-se com o olhar os tabuleiros mais distantes, semi-cerrando o olhar, aconchegando o casaco a afastar…

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Crónica de Licínia Quitério | A ouvidora

  De ontem e de hoje – A ouvidora por Licínia Quitério   Devo ser uma boa ouvidora, já que amiúde me procuram pessoas para que eu as oiça. Chegam e ficam, durante horas, a falar, a contarem-me histórias, verdadeiras ou inventadas, tristes ou alegres, vulgares ou inverosímeis. Vidas que parecem banais, lineares, que no desfiar da voz se desenrolam, se desdobram, se alimentam, se  excedem, se sossegam. Não sei quantas histórias já ouvi, quantos relatos de amores, de dores, de perdas, de carências, de desditas, também de comicidades, de…

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Crónica de Licínia Quitério | O lenço

  De ontem e de hoje – O lenço por Licínia Quitério   Trazia um jornal desportivo dobrado debaixo do braço. Baixote, franzino, poderia parecer mais novo, não fora aquele desalento nos cantos da boca que o bigode grisalho não lograva esconder. Teve dificuldade em fazer rodar o manípulo da porta do café, o que indiciava não ser frequentador habitual. Com olhar rápido, avaliou qual das mesas disponíveis lhe seria mais conveniente. Escolheu a do canto, longe da entrada e do balcão. Mal ele se sentou, a D. Mimi, sempre…

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Crónica de Licínia Quitério | O Conde Drácula

  De ontem e de hoje – O Conde Drácula por Licínia Quitério   Ouvir falar da Roménia, dos Cárpatos, dos seus castelos, logo me faz vir à lembrança o nome de Bram Stoker, o escritor que deu vida à sua assustadora e sedutora criatura, o conde Drácula, vampiro insaciável de sangue humano, nas noites fabulosas do seu castelo. Drácula veio povoar os primeiros sonhos góticos de uma geração muito marcada pela rigidez dos costumes vitorianos, permitindo inclusivamente alusões à sexualidade proibida e perseguida. Lembro-me de ir ver, com o…

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Crónica de Licínia Quitério | O cachimbo

  De ontem e de hoje – O cachimbo por Licínia Quitério   – Mas é igual ao outro. Credo! Até me assustei. Só me faltava dar de caras com um fantasma. – Parecidíssimo, de facto. Um pouco mais alto, talvez. E com o cachimbo no canto da boca. O outro não fumava. – Há quanto tempo ela enviuvou? – Dois anos, três. – O tempo passa sem darmos por isso. – O desgosto dela, lembras-te? Não conseguia encarar a casa sem ele. Falava em ir para um convento. –…

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Crónica de Licínia Quitério | Passagem de ano

  De ontem e de hoje – Passagem de ano por Licínia Quitério   A mulher sentiu-se incomodada pelo ruído da sala de festa, afastou-se discretamente e foi até à varanda. A noite estava fria, húmida, serena. Iluminações festivas nas ruas ao longe. Ali na azinhaga, nome a denunciar caminho sem pergaminhos de rua, luzes só as das janelas, a alegrarem encontros festivos, a teimosia de manter o que se chama tradição, de enganar o tempo, de desejar recomeços. Não tardaria aí o minuto de comer as passas, adoçadas com…

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Crónica de Licínia Quitério | Não há terra como esta

  De ontem e de hoje – Não há terra como esta por Licínia Quitério   Lúcio gosta da sua terra como da sua mulher. Fala dela como de coisa recebida por graça divina. Minha rica terra, há lá terra como esta, onde é que já se viu um castelo como o nosso. Não vi, nem preciso ver, diz arrevesado para quem tenta contrapor-lhe o gosto com outro gosto. Que mania de dizerem mal do que é nosso, o meu país é o meu país, e esta terra é a…

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