FOLHETIM | Uma rubrica de Licínia Quitério FOLHETIM – A História de Benvinda (15º. Episódio) E agora? Agora estamos a chegar ao fim e depois, quando a gente já estiver a dar contas a Deus, ninguém vai querer saber disto para nada. Os filhos? Ai, os filhos. Benvinda suspira muito quando fala dos filhos. Raramente refere o Basílio e se o cita é de raspão, a fugir das minhas interrogações, nada de pormenores, o filho foi um monte de preocupações, de desgostos, Basílio perdido na cidade, atraído pela escória de…
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Folhetim | Benvinda – Uma História de Emigração (14º. Episódio)
FOLHETIM | Uma rubrica de Licínia Quitério FOLHETIM – A História de Benvinda (14º. Episódio) Ai senhora nem me fale dessas viagens, a gente já entrávamos no carro esfalfados, arrumar aquela bagagem toda, até ao colo trazíamos os tachos. Do que me lembro é de apanharmos uma caloraça a atravessar a Espanha e de eu agoniar e vazar tudo borda fora do carro, que nas “auto-routes” não se pode parar e o meu Bento a gritar, ó mulher aguenta-te até sairmos da “auto-route” mas quem é que diz que eu…
Ler maisFolhetim | Benvinda – Uma História de Emigração (13º. Episódio)
FOLHETIM | Uma rubrica de Licínia Quitério FOLHETIM – A História de Benvinda (13º. Episódio) Onde eu já vou, o que eu lhe fui contar, coisas minhas iguais às de tanta gente, quando o que eu queria dizer, e quase me esquecia, é que a casa ficou para nós e muito penámos para fazer dela uma casa com condições, há lá que chegue a um tecto que seja nosso, para isso a gente faz toda a espécie de sacrifícios. Aproximava-se o mês de Agosto e tudo era reboliço na pequena…
Ler maisFolhetim | Benvinda – Uma História de Emigração (12º. Episódio)
FOLHETIM | Uma rubrica de Licínia Quitério FOHETIM – A História de Benvinda (12º. Episódio) Havia ainda o irmão, o Basílio, rapaz tão bonito como apreciador de boa vida, miúdas, farras e o mais que viesse que não fossem livros, uma chatice, isso era com a irmã, a das manias de vir a ser doutora. Ainda experimentou trabalhar no “chantier” onde o pai agora era “maître”, mas não lhe agradou, aquilo era bom para os pieds noirs que não tinham ambições andava a ver se arranjava coisa melhor, tinha…
Ler maisFolhetim | Benvinda – Uma História de Emigração (11º. Episódio)
FOLHETIM | Uma rubrica de Licínia Quitério FOLHETIM – A História de Benvinda (11º. Episódio) Não era fácil de fazer amizades, a Berta. Ainda não largara aquele seu jeito de olhar desconfiado, de presa farejando o caçador. Metiam-lhe medo os homens, depois que um a agarrou num canto escuso dos corredores do metro e a apalpou e só a largou quando ela o mordeu com tanta força no nariz que ele desatou a fugir com as mãos a tapar o rosto e a rosnar, “sale putain, sale putain”. Entretanto…
Ler maisFolhetim | Benvinda – Uma História de Emigração (10º. Episódio)
FOLHETIM | Uma rubrica de Licínia Quitério BENVINDA – Uma História de Emigração (10º. Episódio) Sempre boa aluna, a minha Berta, quem a queria ver era agarrada a um livro. Como a gente não tinha dinheiro para os comprar, ela passava muitas horas nas bibliotecas. Se visse agora a casa dela em Saint-Germain, paredes forradas de estantes cheias de livros, eu até acho que é dinheiro mal empregado, mas ela fica furiosa e diz que a vida sem livros é um deserto, talvez, não sei, coisas que ela diz e…
Ler maisFolhetim | Benvinda – Uma História de Emigração (9º. Episódio)
FOLHETIM | Uma rubrica de Licínia Quitério BENVINDA – Uma História de Emigração (9º. Episódio) Chegou por fim o tempo de Berta deixar de chorar por via da zombaria das coleguinhas, e perceber que tinha um caminho para as fazer calar. Estudou afincadamente, sobressaiu aos olhos atentos de uma professora que lhe entendeu o esforço, lhe admirou as capacidades de aprendizagem, a protegeu sem que ela desse por isso. Terminou o ano com as segundas melhores notas da turma, e logo a teimosia de Berta a levou a informar os…
Ler maisFolhetim | Benvinda – Uma História de Emigração (8º. Episódio)
FOLHETIM | Uma rubrica de Licínia Quitério BENVINDA – Uma História de Emigração (8º. Episódio) Só chegámos a Paris no dia seguinte à noitinha, os comboios não eram rápidos como os de agora, a canalha dormiu o tempo quase todo, a gente olhava para eles e nem queria acreditar que estávamos juntos. Dali em diante tudo ia ser melhor, era o que pensávamos. A gente tem que esperar que as coisas boas aconteçam, senão pode endoidecer, é o que lhe digo, e ficar como esse tontinho do Bicas que anda…
Ler maisFolhetim | Benvinda – Uma História de Emigração (7º. Episódio)
FOLHETIM | Uma rubrica de Licínia Quitério BENVINDA – Uma História de Emigração (7º. Episódio) Medo teve também Berta, os olhos muito vivos a perscrutar as águas escuras, as margens escuras que se aproximavam, o miúdo agarrado a ela, a tremerem os dois, no silêncio só quebrado pelo chape-chape dos remos. Passado o rio, os pés em terra seca, os olhitos cheios de lágrimas de medo e de frio, lá foram levados pelo homem que afinal até parece que tinha coração e pegou o garoto ao colo, para que não…
Ler maisFolhetim | Benvinda – Uma História de Emigração (6º. Episódio)
FOLHETIM | Uma rubrica de Licínia Quitério BENVINDA – Uma História de Emigração (6º. Episódio) Os olhos de Benvinda brilhavam como costumam brilhar os olhos das mães quando falam dos filhos. Seja por alegria, por saudade, por desgosto, brilham. Foi quando arranjei trabalho como “concierge” que tivemos direito a casa, pequena, mas uma casa, foi uma vida melhor, foi, depois daqueles dois anos tão maus, mas tão maus, que até me dói falar deles. Às vezes ainda tenho sonhos ruins de voltar a morar no contentor, de ver as crianças…
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