Um melro e o silêncio por Jorge C Ferreira Sinos, gongos, sinetas, cucos, sinais das horas nunca certas. Os ouvidos a explodirem de ruídos que incomodam. Os tímpanos a estalarem. Os tampões para tentar não ouvir o desnecessário, auscultadores, tentar estar no centro do silêncio. Escutar a beleza numa frase lida, num verso inspirado, num quadro exposto. Os ramos das árvores parados do lado de lá das vidraças. Nem um golpe de vento. Nem um pingo de água. Tudo quedo e mudo. O sossego absoluto. É tempo de pensar.…
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Crónica de Jorge C Ferreira | Coisas que não esquecem
Coisas que não esquecem por Jorge C Ferreira Encontros e desencontros. Dias anunciados que se esquecem de aparecer. O momento que conta. A alegria que nos alegra num assomo de ventania. A vida que importa. Uma caminhada para o desconhecido. O descanso num sono profundo. Virtudes e anseios que se gastam num lento respirar. Ouve-se uma música que se tenta trautear. Nem a falta de afinação nos demove. É baixinho que arriscamos a aventura. Há quem sorria para nós. Assim nos sentimos agraciados. Falamos sobre os concertos antigos…
Ler maisCrónica de Jorge C Ferreira | Vidas
Vidas por Jorge C Ferreira O momento esperado. O tempo que deixa de contar. Um não respirar que sabe bem. Só eles e uma cama de amar. Sentem o corpo um do outro. Assim se completam num acto de enorme aventura. As cabeças a andar à volta. Um carrossel de prazer. Uma girafa a mostrar o seu enorme pescoço. Um cavalo num trote louco. Uma zebra vaidosa. Um carro de abraços de loucura. A corrida sempre sonhada! Tratavam-se com ternura. Ternura inventada numa noite de mais inspiração. Ouviam…
Ler maisCrónica de Jorge C Ferreira | O mundo do avesso
O mundo do avesso por Jorge C Ferreira Cheias no Oriente, uma chuva inclemente, devastadora. Na Coreia do Sul procuram-se desaparecidos. Túneis que se enchem de água. Morrer entre paredes e metal. Afundar-se na lama, desaparecer. Os mergulhadores tentam o impossível. Só buscam mortos. Que triste deve ser. Noutros sítios há pontes, viadutos, estradas que se quebram. A inesperada queda no vazio, um voo não marcado para o fim de tudo. Mais desaparecidos. Um vulcão zanga-se na Islândia. La Palma arde de desgosto depois de o seu vulcão…
Ler maisCrónica de Jorge C Ferreira | Os velhos tempos
Os velhos tempos por Jorge C Ferreira Gosto das ruas estreitas, das travessas, das sinuosas canadas do Corvo. Das ruas de fugir aos piratas das ilhas gregas. Gosto dos pequenos espaços onde todos nos conhecemos. Gosto de ser vida de outras vidas. Estar lado a lado com os que caminham comigo. Conheci ruas de muitos modos de andar. Ruas que percorri em passo lento e acelerado, onde corri e suei, onde passeei de mão dada e namorei. Onde me sentei cansado de correr. Onde roubei e me roubaram…
Ler maisCrónica de Jorge C Ferreira | Que mundo?
Que mundo? por Jorge C Ferreira O mundo em ebulição. Panela sem tampa. A água a ferver. Os bicos de um fogão de lume bruto. Uma nova explosão. O cheiro a carne queimada. As guerras que não terminam. As mortes sempre desnecessárias. A monstruosidade das mortes a sangue-frio. A polícia a não saber que o seu comportamento tem de ser um exemplo. As infiltrações de corpos estranhos nas várias corporações. As pandemias de várias índoles. Os subúrbios de todo o mundo. Os cemitérios nos mares. Tanto mar e…
Ler maisCrónica de Jorge C Ferreira | Quem somos
Quem somos por Jorge C Ferreira Andar sempre preocupado com o futuro, com o que nos vai acontecer. Saber que a ansiedade pode crescer de uma forma perigosa. A ansiedade que nos vai corroendo. As esperas que nos vão definhando. Saber que o tal bem nem sempre é bom. Saber que muitos pensam que se não nos dói nada não estamos doentes. E nós ansiosos ouvimos e não acreditamos. Não saber o que se tem ou não se tem. Saber que há luzes que se vão apagando e…
Ler maisCrónica de Jorge C Ferreira | Isla Negra
Isla Negra por Jorge C Ferreira Isla Negra, sentei-me junto da tua campa e de Matilde Urrutia, ali sepultados lado a lado a olhar para o Pacífico. Nos meus olhos foram crescendo pérolas da cor daquele mar que te trazia as coisas que amavas e cuidavas. Devemos sempre cuidar e preservar aquilo que o mais puro azul nos oferece. Só assim os poemas crescem dentro de nós numa metamorfose que não sabemos explicar. Não sei quanto tempo estive ali sentado, os olhos perdidos no infinito. Foi a conversa…
Ler maisCrónica de Jorge C Ferreira | Crónica 400
Crónica 400 por Jorge C Ferreira Quatrocentos passos, quatrocentos palmos. As mãos a passear com a caneta sobre o papel. Ou um teclado a queixar-se de tanto massacre. Quem é este tipo que teima em escrever? Por que o faz? Nem eu, o autor destas quatrocentas crónicas, o sei! Será já vício? Será algo compulsivo? Será doença? Será grave? Por que teima em escrever? É o que muita gente deve perguntar. Enquanto souber que me lêem vou teimando. Há alguém que “controla” os meus leitores. Uma coisa sei,…
Ler maisCrónica de Jorge C Ferreira | Notas de viagem (2012)
Notas de viagem (2012) por Jorge C Ferreira Em Arica apanhámos o autocarro. Vamos a caminho do deserto. Já vemos as dunas. Quando saímos do transporte o calor torna-se abrasador. Depressa fico pegajoso. Dói-me a humidade no corpo. Bebo mais uma água na tenda do deserto. Olho para aquelas montanhas de areia, sagradas dunas. Atrevo-me a subir um pouco. Vejo mais de perto os geoglifos La Tropilla. São obras dos povos pré-hispânicos. São figuras humanas, de animais. São sinais. Que sinal é este que nos quiseram deixar? Estes…
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