Crónica de Jorge C Ferreira | Os Meninos do Coro

[sg_popup id=”24045″ event=”onLoad”][/sg_popup] Os Meninos do Coro A dona Virtude, a dona Clemência, a dona Pureza, a dona Inocência e a santa castidade. As múltiplas orações, o genuflexório, os castigos infligidos, aceitar a dor.  A capela lateral da igreja. Todas de preto estão aquelas mulheres. Lenços na cabeça. Rosários na mão. Um murmúrio sem interrupção. A maquinal reza. O bichanar, dizem alguns. Os meninos do coro ensaiam novos cânticos. Está escura a Igreja. Ouve-se o crepitar das velas. As falsas virtudes. Os véus que tapam as vergonhas. Os meninos do…

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Crónica de Jorge C Ferreira | Cartas de uma vida

[sg_popup id=”24045″ event=”onLoad”][/sg_popup] Cartas de uma vida Passeava na avenida grande em todos os sentidos. Era raro parar. Carregava entre as mãos papéis amarelecidos. Escritos em letra feminina. Algumas letras desmaiadas. Cores variadas. Seriam estados de espírito? Por vezes interpelava as pessoas e perguntava de quem era determinada carta. Ele que, antigamente através da escrita conseguia decifrar a pessoa e o seu sentir, tinha desaprendido a ler. Esqueceu as letras e os nomes. Esqueceu-se de si. Tinha coisas muito antigas que, por vezes, lhe atormentavam a cabeça. Tudo o que…

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Crónica de Jorge C Ferreira | Um jardim de manhã

[sg_popup id=”24045″ event=”onLoad”][/sg_popup] Um jardim de manhã Um jardim, um banco e uma vontade. Uma manhã de sol. Uma guitarra e uma música. Jogam às cartas os senhores do costume. A bica servida em chávena cheia. Uma água para avivar os lábios. Um sujeito que toca viola. Um dedilhado que sabe a renda. Outro fulano tenta arranjar palavras que se encaixem na música. A rima, a métrica e um pássaro que poisa, no banco, a escutar a melodia. Assim se pode fazer uma canção. Fecharam o museu. Levaram os quadros.…

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Crónica de Jorge C Ferreira | Estranhezas

[sg_popup id=”24045″ event=”onLoad”][/sg_popup] Estranhezas I “No Espelho” “Serei da ordem   lunar   do espaço errante…” (Maria Teresa Horta-Estranhezas. Pag. 16)   Escrever porque a beleza de outras palavras celebra a vontade de ser Porque há voos de poetisa que nos fazem descobrir asas escondidas Verso a verso Ilusão a ilusão Golpe a golpe as espadas em punho um encanto que cresce A poetisa por vezes feiticeira As palavras por vezes fogo O corpo sempre corpo O fulgor sempre inteiro Meia-noite e uma fogueira Assim seguimos as mãos dos mágicos…

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Crónica de Jorge C Ferreira | Crises

[sg_popup id=”24045″ event=”onLoad”][/sg_popup] Crises   Caraças, máscaras, barretes, apitos, assobios, fingimentos, falsas elucubrações, pantominices, cortes de cabelo a rigor, gravatas da moda, fatos por medida e factos distorcidos. Cenários austeros para dar credibilidade à coisa. A falsa discussão. Discutir o acessório. Ter vergonha de discutir o principal. Porque o principal incomoda. O espectáculo a substituir a política. As acusações cruzadas. Todos a quererem sacudir a água do capote. Todos com culpas que não querem assumir. Fechar os olhos à realidade e seguir em frente. Esgrimir assuntos já muito batidos. As…

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Crónica de Jorge C Ferreira | Ghettos

[sg_popup id=”24045″ event=”onLoad”][/sg_popup] “Ghettos”   Tanto vazio no espaço da lenda maior. Tanta coisa que faz falta para decidir o destino. Tanto o que acontece e mata a ideia da vida já escrita. O desejo intenso de procurar o que nos alivia as dores. Tanto comprimido vendido que não serve para nada. Pague uma embalagem e receba duas. Mais uma imagem da nossa senhora de lado algum! Mais duas mil velas e um andor. O caminho da desgraça. O negro caminho. Nem uma luz, nem uma flor, nem uma gota…

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Crónica de Jorge C Ferreira | A vida e as vidas

[sg_popup id=”24045″ event=”onLoad”][/sg_popup] “A Vida e as Vidas” A barba crescida. O cabelo enorme. Os caracóis. Uns óculos escuros de aros redondos. Umas calças esquisitas. Uma camisa de colarinhos enormes. As cores exuberantes. As botas de tacão alto. Mais dez centímetros de altura. A noite que também cresce. Aparece, como num sonho, a virtual avenida de todas as cores. Milhares de luzes que nos embebedam. Fugimos. Acordamos. Uma cave. Um refúgio. Uma estranha aventura por inesperados ghettos. Choros de guerras ainda por esquecer. Há uma senhora, muito velha, que teima…

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Crónica de Jorge C Ferreira | Proteger

[sg_popup id=”24045″ event=”onLoad”][/sg_popup] Proteger As biqueiras das botas. Os pontapés em falso. Os protectores. O sapateiro. Os pequenos pregos na boca. Meia mão de cabedal. O martelo. As pancadas secas. A eficaz protecção. As botas cardadas. Os polainitos. A ordem para marchar. Enfrentar os tais canhões. Ir e vir. Um capacete mal-alinhavado. A corrida e o cansaço. Um fio ao pescoço com a medalha de uma santa. Acreditar que se está protegido. Uma bala perdida. Um grito de sangue. O nosso Anjo da Guarda. A protecção entregue a um ser…

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Crónica de Jorge C Ferreira | “A procissão da vida”

[sg_popup id=”24045″ event=”onLoad”][/sg_popup] “A procissão da vida”   Essas árvores sem folhas. Essas folhas de pisar. Esse andar almofadado. Um atapetado caminho. Um capote e uma bengala. O chapéu e a barba crescida. Uma mulher que se benze ao passar frente a uma igreja. Os caminhos que continuam a ser os mesmos. Muda tudo e nada muda. Continuam a acontecer as coisas que já aconteciam todos os dias. A idade! Os anos que se juntam a um número que determina a nossa idade. Esse caminho irreversível para o fim de…

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Crónica de Jorge C Ferreira | Fim de Ano

[sg_popup id=”24045″ event=”onLoad”][/sg_popup] Fim de Ano Ano vai. Ano vem. Desejos morrem. Desejos nascem. A vida a correr. O plano inclinado. O fim da estrada e a estrada sem fim. Fecham-se portas. Abrem-se janelas. O caminho e os tropeções. As curvas apertadas. Quanto jogo de cintura. O mapa das dores. O riso e o saber rir. A gargalhada que nos alegra. Tentar aprender o caminho da alegria. Os pequenos projectos. O saber saborear cada dia. A festa do novo dia. Caminhar de novo. Ir com todos e com ninguém. Não…

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