Crónica de Jorge C Ferreira | Esta mania de escrever

Jorge C Ferreira

  Esta mania de escrever por Jorge C Ferreira   A escrita feita desejo. O desejo feito livro. Um escrever que as semanas e os dias vão ditando. As mãos que tremem. As teclas que se queixam. Crónicas, pensamentos, invenções. O caso que acontece à nossa frente. O acaso. Alguém que passa. Uma frase que se ouve. Tudo serve para escrever um texto. Tudo serve para que o sonho aconteça. Muitas vezes aponto uma ideia que me surge, num bloco, no telemóvel, ou tento memorizar. A memória a ficar cheia.…

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Crónica de Licínia Quitério | Falar sozinho

  De ontem e de hoje – Falar sozinho por Licínia Quitério   Fala muito sozinho, em casa, sem que ninguém o oiça, só o King, cão de raça, cão bonito, fiel como se diz de um cão ou de um criado, sempre obediente às ordens, vem cá King, vai King, quieto King, senta King, deita King, muito mais obediente do que qualquer criado, útil, com aquele olhar de eterno mendigo, só mesmo o King para lhe ouvir os disparates e não os contar a ninguém. Que pode um homem…

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Crónica de Jorge C Ferreira | Uma oliveira na Azinhaga

Jorge C Ferreira

  Uma oliveira na Azinhaga por Jorge C Ferreira   Uma oliveira na Azinhaga. Uma árvore ou um sinal? Uma casa térrea. O analfabetismo num país sem rumo. Os velhos sempre sábios. As letras a aparecerem da terra e das pedras. O campo e o seu duro trabalhar. Aprender a ver a vida desde pequeno. A injustiça sentida em cada acto da força bruta. Saramago, planta herbácea, planta que dá flor. Coisa de crescer e se fazer ver. Saramago nome que foi dado a alguém que não sabia qual ia…

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Crónica de Alexandre Honrado – Ódio

Alexandre Honrado

  Crónica de Alexandre Honrado Ódio   Má educação conduz ao beco escuro, fétido, pobre, da má cidadania. É aí que entre ecos e murmúrios se ouve normalmente o discurso do ódio com mais acutilância, mas de lá emana para todos os lugarejos, aldeias, vilas e cidades, como se de uma pandemia mortal e vergonhosa se tratasse. Eu disse que voltava, e volto, a ocupar-me com o tema o discurso do ódio, e já depois de ter iniciado a minha reflexão vejo-me rodeado, sem espanto, de múltiplas notícias com origem…

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Crónica de Jorge C Ferreira | O Meu Nome É Gal

Jorge C Ferreira

  O Meu Nome É Gal por Jorge C Ferreira   “O Meu Nome É Gal”. Foste Índia. Foste a voz da canção para Gabriela. Gabriela a que Sónia Braga deu corpo e lascívia. Sónia mulher desejo e que, neste país, foi idolatrada. Foste essa “Força Estranha” que nos inebriou. Foste uma das vozes dessa maravilhosa turma da Bahia. Com Caetano, Bethânia e Gil ajudaste a modificar a música que nos fez sonhar. O Tropicalismo. Esse movimento que nos entusiasmou. Movimento que englobou a música, as artes plásticas, o cinema…

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Crónica de Alexandre Honrado – Em torno do discurso do ódio

Alexandre Honrado

  Crónica de Alexandre Honrado Em torno do discurso do ódio   Minorias políticas são por vezes tentadas a usar o discurso do ódio como solução parcelar e parcial dos seus dissabores e frustrações. É o que notamos, em crescendo, nas redes sociais, nalguns pontos rotineiros de encontro, em palcos que insultam as plateias e as desdenham. Em democracia os que hoje governam amanhã serão governados, a alternância permite a respiração do sistema e a passagem pelo crivo de muitas tentações não democráticas, como as de tornar o poder totalitário…

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Crónica de Licínia Quitério | Que linda falua

  De ontem e de hoje – Que linda falua por Licínia Quitério   Era assim a cantilena das meninas, no pátio da escola : ”Que linda falua que lá vem, lá vem, é uma falua que vem de Belém. Eu peço ao Senhor Barqueiro que me deixe passar, tenho filhos pequeninos não os posso sustentar. Passará, não passará, algum deles ficará, se não for a mãe à frente, é o filho lá de trás.” O barqueiro ia decidindo a sorte desta e daquela e da outra, com o dedo…

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Crónica de Jorge C Ferreira | Os ensinamentos dos mais velhos

Jorge C Ferreira

  Os ensinamentos dos mais velhos por Jorge C Ferreira   O que vemos acontecer. A vida difícil de quem trabalha. Saber e lembrar factos muito antigos. Os ensinamentos dos mais velhos. Aprender a ouvir, a saber ouvir. Ir armazenando experiência. A vida que começa antes do tempo. O tempo que não se compadece com as dificuldades das pessoas. Os livros escondidos no chão do sótão. Um livro importante no meio de tão poucos livros. O colega do meu Avô que foi preso porque recebia dinheiro dos camaradas de trabalho…

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Crónica de Jorge C Ferreira | Os acomodados

Jorge C Ferreira

  Os acomodados por Jorge C Ferreira   Há quem se acomode. Quem arranje um lugarzinho. Quem se vá calando, falando. E, no entanto, tanta coisa para falar a sério. Tanta coisa para reclamar. E tanta gente calada. Fico arrepiado ao lembrar-me de quem, antigamente, dizia: a minha política é o trabalho. Gente que sabia que a polícia levava presos os seus vizinhos. Está um Major General a falar neste momento na televisão e já disse pertinente um ror de vezes. Fala-se de mísseis e contra mísseis. Da guerra e…

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Crónica de Licínia Quitério | A pergunta

  De ontem e de hoje – A pergunta por Licínia Quitério   A cozinha tinha uma porta que dava para o quintal, e na porta havia um postigo, um qua­dro de quatro vidros. Naquele tempo, havia muitas moscas que poisavam e caminhavam nos vidros, vagarosas. De tarde, eu observava as moscas que não faltavam ao seu passeio ao Sol, nos vi­dros virados ao Sul. Chegava-me mais à porta até elas debandarem. Deixavam marcas redondinhas, pequeninas, nos vidros, que lim­pava com os dedos, quando a mãe não estava a olhar.…

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