De ontem e de hoje – Vou ali e já volto por Licínia Quitério Ai a minha cabeça, ai a minha cabeça, é o que oiço em voz de mulher quase gritada vinda de um assento atrás do meu. Imagino-a ao telefone com alguém lá de casa que lhe diz, para sua grande aflição, que não apagou o gás do fogão, ou que deixou o gato fechado no roupeiro, ou se esqueceu da sogra no supermercado. Isto imagino eu porque de facto nada sei de toda aquela…
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Crónica de Jorge C Ferreira | A espera
A espera por Jorge C Ferreira A espera. O tempo que não passa. Quando o desespero torna tudo mais longo. Um tempo que não mata o tempo. Nem uma dor física. Apenas as outras dores. Dores que se prolongam. Dores invisíveis. Dores que os outros não ouvem. Nem um grito, nem um gemido. Apenas a face contraída. A boca triste. A espera pode matar. Esperar por uma namorada numa esquina combinada e o tempo a perder-se no tempo. O seu perfume que teima em não se sentir. O…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado – A cidade como metáfora viva
Crónica de Alexandre Honrado A cidade como metáfora viva Não gosto das cidades que me são dadas para viver e, no entanto, amo profundamente as cidades, as minhas cidades – e tenho várias, o que pode parecer pretensioso. Gaston Bachelard (Bachlard, 1996) dizia que “apenas o espírito é científico” e isso pode indignar os mais materialistas, os mais exatos, para usar uma expressão querida a alguns cientistas. O espantoso é descobrir, entendida a história do homem, que o verdadeiro valor para um pensamento ingenuamente elementar é a obsessão…
Ler maisCrónica de Jorge C Ferreira | Sonhar
Sonhar por Jorge C Ferreira Já não me lembro que horas eram. Sei que ainda estava escuro. Um telefonema àquela hora não era normal, a notícia também não. Do outro lado do fio uma voz: «há uma revolução. Lisboa está cheia de tanques. Desta vez é que é. Ouve a rádio.» Mandavam-nos ficar em casa. Fui para a rua. Ainda estava longe de se consumar a madrugada de todas as madrugadas. Depois foi a alegria imensa, a festa, o sonho. E tantos foram os sonhos que conquistámos! Coisas…
Ler maisCrónica de Licínia Quitério | Os blogues
De ontem e de hoje – Os blogues por Licínia Quitério Reproduzo hoje um excerto de texto que escrevi no princípio do século quando os blogues estavam em grande divulgação. Não tardou a chegada das “redes sociais”, mais interactivas mais sedutoras, que hoje fazem parte do nosso uso e das nossas preocupações, chamem-se Facebook, Instagram, Linkedin, TikTok, etc. e o que logo mais surgirá. O mundo não pára e a imaginação dos homens também não. “… A proliferação dos blogues atrai as atenções de especialistas em ciências sociais…
Ler maisCrónica de Jorge C Ferreira | Balanços
Balanços por Jorge C Ferreira Querer saber da vida. Que lhe contem todos os segredos. Prometer calar. Ser estátua muda. Animal de carrocel. Ser animal de trabalho e não acreditar. Perguntar muito e a muita gente. Aos mais velhos. Aos que já viveram mais. Ouvir o que dizem os mais novos. Querer saber do caminho percorrido. Da vida vivida e por viver. Das desgraças percorridas. Das alegrias que, muitas vezes, teimamos em esquecer. Do tempo da felicidade e do tempo do medo. Uma vibração que abana o corpo.…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado – Margens opostas, tempos de asfixia
Crónica de Alexandre Honrado Margens opostas, tempos de asfixia Há frases tortuosas que me torturam, saem de livros e de outras impressões e perseguem-me como inimigos cruéis a quem procuro dar combate, eu que sou por natureza (apenas) combatente de guerras destas, ideias contra ideias como gládios de velhos romanos, avós perdidos no tempo e na razão. Gosto de ler autores incómodos, pelo que não me posso depois queixar. É o caso de Jean Dubuffet, que tem um apelido impagável, desses que me inspiram sarcásticos comentários, mas que…
Ler maisCrónica de Jorge C Ferreira | As pedras e o mar
As pedras e o mar por Jorge C Ferreira As estátuas sem tempo. As pedras de todas as memórias. O lugar em que uma civilização começou. Os restos de uma biblioteca que nos fascina. Os corpos belos das mulheres e dos homens. Uma liberdade que vem de um tempo muito antigo. É sobre pedras que nos construímos. Pedra a pedra. Bloco a bloco. Corpo a corpo. Os restos de um monumento único e uma música que ouvimos com prazer. Uma sensação única a crescer dentro de nós. Uma…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado – Há coisas do diabo. Há
Crónica de Alexandre Honrado Há coisas do diabo. Há À mesa do café – e repare-se como hoje esta frase é quase memória, coisa de museu, à mesa do café entre fragmentos de frases – do tipo “a Deolinda acabou com o Nuno”, “o que achas desta sombra de olhos”, “viste ontem aquilo?”, “Sete a zero, pá! E não jogaram nada!” –, ali ao lado, um par de velhotes conversa animadamente, e um deles diz, enfático: há coisas do diabo! Porque escrevo estas crónicas e outras, porque dou…
Ler maisCrónica de Licínia Quitério | Mercados
De ontem e de hoje – Mercados por Licínia Quitério Agora que o Mercado Municipal de Mafra foi renovado, ao gosto dos modernos mercados por esse país fora, agora que já pouca gente lhe chama “Praça”, lembrei-me de deixar aqui excertos de um texto que escrevi há muito. Para memória futura, das gentes, das falas, desse ontem com outro sabor, outro ritmo: NA PRAÇA Vai-se à praça dar uma espreitadela. Da entrada, abarca-se com o olhar os tabuleiros mais distantes, semi-cerrando o olhar, aconchegando o casaco a afastar…
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