O maluquinho da Ericeira Por Alice Vieira Todas as terras têm um maluquinho de estimação. Nós aqui na Ericeira também tínhamos Alto, muito magro, sempre vestido de preto, passava o dia todo de pé nas ruas, ora em frente de casas, ora em frente de lojas, ora de cafés, onde quer que fosse Nunca se mexia, estava sempre de mãos erguidas ao céu, e murmurava coisas incompreensíveis, num fio de voz. Tinha um pequeno saco ao seu lado mas nunca pedia nada, mas muitos de nós deixávamos junto…
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Crónica de Alice Vieira | Estrela da Tarde
Estrela da Tarde Por Alice Vieira No teatro do Casino Estoril estreou, há muito pouco tempo, uma peça com os Irmãos Feist Agora que, com alguma cautela, já se pode ir ao teatro, chamo aqui a atenção para que todos os que puderem, se desloquem ao Estoril para a ver. O tema da peça é a vida e obra de Ary dos Santos. E tanto os Irmãos Feist como Ary dos Santos me dizem muito Antes de mais os Irmãos Feist são “os meus meninos”. Eu podia ter…
Ler maisCrónica de Alice Vieira | Livros estragados
Livros estragados Por Alice Vieira Como falei aqui nisso, quero hoje dar-lhes conta da minha grande felicidade: o meu amigo Mo, do Bangladesh, que ao princípio pensámos que se tinha suicidado mas mais tarde descobrimos que tinha voltado para a sua terra, de que tinha muitas saudades—regressou ontem!! Foi uma festa! Aquilo foram abraços e socos nas mãos que nunca mais acabava! Segundo confessou, já não aguentava mais viver no Bangladesh…A namorada ainda não pôde vir mas virá depois. (Aqui para nós, acho que não lhe faz muita…
Ler maisCrónica de Alice Vieira | Quando o perigo nos ameaça
Quando o perigo nos ameaça Por Alice Vieira Quando esta crónica for publicada, já decorreram as eleições. Mas no momento em que a escrevo, ainda não. Devo dizer que não tenho tido muita paciência para ouvir todos os candidatos até porque, como desde sempre sei em quem vou votar, não preciso que eles me convençam. (Por acaso devo aqui confessar, que este ano tive algumas dúvidas: gostei muito daquele candidato — infelizmente não decorei o nome do senhor nem o nome do partido — que prometia, se fosse…
Ler maisCrónica de Alice Vieira | Um grande dilema
Um grande dilema Por Alice Vieira Todos os meus amigos sabem que, desde há algum tempo, assentei arraiais na Ericeira. O ar do mar faz-me muito bem. Mas antes de cá viver, sempre cá passei grandes temporadas. Já vivi na Rua de Baixo, já vivi no Largo da Anadia, etc, etc… Ou seja : praticamente todos me conhecem e eu conheço toda a gente. Um desses meus grandes amigos, de há muitos anos, chama-se Mo. Deve ter mais nomes, claro, mas é do Bangladesh e esse é o…
Ler maisCrónica de Alice Vieira | Um agradecimento aos tios
Um agradecimento aos tios Por Alice Vieira As tias que me criaram tinham uma paixão mórbida pelos mortos. O tipo podia ter sido um canalha—morria e era um santo. (Como cantava a Juliette Gréco, “os mortos são todos uns tipos bestiais!”). Além disso, para elas era quase um crime deixar morrer os parentes no hospital. Tinham de vir morrer a casa. À nossa, claro. De vez em quando havia um telefonema a avisar: “O tiozinho já vai para aí.” Tios que nem eram tios. Tios que eu nem…
Ler maisCrónica de Alice Vieira | Um conto de Natal
Um conto de Natal Por Alice Vieira Desembrulha o presente que o marido lhe deu e fica muito tempo a olhar para ele, sem saber se há-de rir se há-de chorar. –Que raio de prenda – murmura a filha—Um papel velho numa moldura… Mas quem é que emoldura papéis velhos? Ela não responde. E olha para aquele papel velho, com os nomes escritos todos em maiúsculas,e no fim de tudo, “Madrinha Teresa” e de repente a voz da mãe há 40 anos gritando “claro, esqueceste-te da Madrinha Teresa,…
Ler maisCrónica de Alice Vieira | Bruxas com pão
Bruxas com pão Por Alice Vieira Eu bem me esforço, eu juro, eu prometo e eu faço (agora até parecia a Bárbara Tinoco…) mas não dá : assisto aos jogos de hóquei em patins mas não acho graça nenhuma àquilo. Mas como ? Como é que foi possível? Em tempos que já lá vão, o hóquei era o nosso desporto! Mas qual futebol!, o hóquei aparecia e tudo o mais deixava de ser importante. Lembro-me de estar num cinema e o filme ser interrompido para aparecer no écran…
Ler maisCrónica de Alice Vieira | Bruxas com pão
Bruxas com pão Por Alice Vieira Cada país tem as suas tradições, e isso é uma das riquezas de cada um. Não se encontram em mais lado nenhum, senão em Portugal, as danças dos pauliteiros, o cante alentejano, o vira do Minho, os caretos de Podence, o banho de mar de São Bartolomeu em Esposende—já para não falar dos santos populares e das romarias e procissões por esse país fora. Durante a pandemia tudo deve ter ficado muito abalado, mas esperemos que a alegria inicial regresse. Quero eu…
Ler maisCrónica de Alice Vieira | No centenário de Matilde Rosa Araújo
No centenário de Matilde Rosa Araújo Por Alice Vieira “Conheci a Matilde Rosa Araújo há 60 anos, e fiquei logo amiga dela”—disse há dias, quando participava por zoom num encontro a propósito do centenário do seu nascimento. Mas houve logo quem me corrigisse o tempo verbal, dizendo que as amizades se escrevem sempre no presente. Mas essa é uma daquelas frases que se dizem sempre quando temos saudades de alguém e queremos apaziguar um pouco os nossos corações. Mas a verdade é que as pessoas desaparecem e vamos…
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