Crónica de Alexandre Honrado – Cultivar para não banalizar

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  Crónica de Alexandre Honrado Cultivar para não banalizar   “Banalizar a linguagem é banalizar o pensamento que ela veicula.” Teodoro Adorno (Adorno, 1999). Sabe-se hoje que na economia o peso da cultura é enorme – mesmo que o Orçamento Geral de Estado (quase) não a contemple, talvez pelo erro político habitual de que o Estado não sabe investir nem é bom gestor nas poucas áreas que lhe podem trazer retorno e notoriedade de curto, médio e longo prazo. Aliás, aprendemos que a expressão “economia da cultura” revela uma noção…

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Crónica de Alexandre Honrado – A cidade como metáfora viva


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  Crónica de Alexandre Honrado A cidade como metáfora viva   Não gosto das cidades que me são dadas para viver e, no entanto, amo profundamente as cidades, as minhas cidades – e tenho várias, o que pode parecer pretensioso. Gaston Bachelard (Bachlard, 1996) dizia que “apenas o espírito é científico” e isso pode indignar os mais materialistas, os mais exatos, para usar uma expressão querida a alguns cientistas. O espantoso é descobrir, entendida a história do homem, que o verdadeiro valor para um pensamento ingenuamente elementar é a obsessão…

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Crónica de Alexandre Honrado – Margens opostas, tempos de asfixia

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  Crónica de Alexandre Honrado Margens opostas, tempos de asfixia   Há frases tortuosas que me torturam, saem de livros e de outras impressões e perseguem-me como inimigos cruéis a quem procuro dar combate, eu que sou por natureza (apenas) combatente de guerras destas, ideias contra ideias como gládios de velhos romanos, avós perdidos no tempo e na razão. Gosto de ler autores incómodos, pelo que não me posso depois queixar. É o caso de Jean Dubuffet, que tem um apelido impagável, desses que me inspiram sarcásticos comentários, mas que…

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Crónica de Alexandre Honrado – Há coisas do diabo. Há

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  Crónica de Alexandre Honrado Há coisas do diabo. Há   À mesa do café – e repare-se como hoje esta frase é quase memória, coisa de museu, à mesa do café entre fragmentos de frases – do tipo “a Deolinda acabou com o Nuno”, “o que achas desta sombra de olhos”, “viste ontem aquilo?”, “Sete a zero, pá! E não jogaram nada!” –, ali ao lado, um par de velhotes conversa animadamente, e um deles diz, enfático: há coisas do diabo! Porque escrevo estas crónicas e outras, porque dou…

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Crónica de Alexandre Honrado – Uma estranha adrenalina

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  Crónica de Alexandre Honrado Uma estranha adrenalina   Ao espetar, cada vez mais firmemente, um dos eixos do compasso no plano irregular do estirador da minha vida, eu sabia que estava a correr um risco muito grande. Todavia, ao rodar o compasso e ao estabelecer a circunferência das opções, havia uma estranha adrenalina a percorrer-me, tão irresponsável como irrecusável: eu ia ser escritor. Geometricamente, o plano era perfeito – um conceito que se ia tornando mais apurado à medida que eu estabelecia a escrita como a consolidação de elos…

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Crónica de Alexandre Honrado – Longos caminhos nas trevas percorridos

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  Crónica de Alexandre Honrado Longos caminhos nas trevas percorridos   É longo o caminho, difícil a travessia. Pelo meio há figuras icónicas, é sabido, mas são as gentes anónimas, as que morrem e ficam abandonadas à margem da estrada sem nunca terem mostrado que têm nome e valor, são essas as que fazem, na sombra, a história dos países e do mundo. As embarcações cheias de refugiados que nunca chegam a porto seguro, os escravos que não conheceram o abolicionismo, a verdade que ficou por dominar perante a mentira…

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Crónica de Alexandre Honrado – A nossa bela mestiçagem

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  Crónica de Alexandre Honrado A nossa bela mestiçagem   Ando pela Lisboa que amo profundamente. Se olharem para as árvores, os sons de Lisboa não diferem. São um coro amável de muitas influências.  Encontrarão nessas árvores a cantonense Muk Min, a árvore do algodão, vinda de Macau, a dois passos de um embondeiro angolano, de uma papaia moçambicana, a poucos metros estará um pinheiro-da-terra ou pinheiro de São Tomé, mais adiante um marmolano, de Cabo Verde, e uma Jequitibá, a árvore brasileira de maior porte e longevidade, um tamarilho timorense…

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Crónica de Alexandre Honrado – O riso de todos

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  Crónica de Alexandre Honrado O riso de todos   Estamos no momento da crise. Há demasiado tempo. Da crise dos valores, da economia, da autoestima, da memória, do futuro. Estamos de uma fragilidade insana. Os intelectuais estão em estado crítico, também, pela não geração de ideias universais – o que prova como não estão preparados para dar conselhos à Humanidade. A Humanidade também, por estar num daqueles períodos da História do Mundo em que a cultura lhe parece uma ameaça – queimem os livros, pois não sabemos ler! Quando…

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Crónica de Alexandre Honrado – Sempre a tilintar

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  Crónica de Alexandre Honrado Sempre a tilintar   Eu nasci em Lisboa e andei a crescer por lá, entre asfalto e nuvens. Quando era menino, o asfalto ainda era pouco e muito triste, a terra batida atirava-nos poeira para os olhos e as ideias que se trocavam em voz baixa mas não tímida eram espancadas e encarceradas; as nuvens contrariavam sempre o Sol, esse Sol que em Lisboa é pródigo e farto como um útero fértil. Há qualquer coisa na atmosfera que nos convida a ser felizes na minha…

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Crónica de Alexandre Honrado – Entre a complexidade e o atabalhoamento

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  Crónica de Alexandre Honrado Entre a complexidade e o atabalhoamento   Edgar Morin ultrapassou os cem anos de idade. Diria que ultrapassou milénios de sabedoria, mas se o dissesse corria logo o risco de me tornar carne isolada para predadores, o que é o mesmo que dizer, alvo de críticos, esses seres singulares que se alimentam dos dejetos alheios. A última vez que estive em França, o que foi há dias, comprei uma autobiografia de Morin, na aparência um pequeno livrinho, na essência um livro enorme. Li-o duas vezes,…

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