Crónica de Alexandre Honrado Nada se compara com o meu cantinho Ganhei o (estranho) hábito de me sentar em cantinhos bem iluminados. É fundamental que sejam bem iluminados, esses cantinhos, e a razão para essa exigência é muito simples: regra geral faço-me acompanhar de livros, artigos de revistas, fotocópias e apesar de ler bem sem óculos, a luz devida tem de acompanhar-nos. A esse hábito acresce a sua motivação: é em cantinhos iluminados que as ideias se revelam e da escuridão – zona habitada pela profundidade – pode muito bem…
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Crónica de Alexandre Honrado | Conto de Natal
Crónica de Alexandre Honrado Conto de Natal “Era uma vez… Era uma vez a minha pessoa, pequena e cheia de sonhos, que se chegava ao Natal em bicos de pés, a perguntar com os olhos: será que há uma prenda para mim? Mais do que gostar de prendas, eu gostava das histórias da avó Ana. Eu nasci há tantos anos que nessa altura as histórias tinham mais valor: as pessoas contavam-nas com um grande respeito. A música de Natal já andava pelo ar, as pessoas sabiam canções de cor…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado | Um texto em paz
Crónica de Alexandre Honrado Um texto em paz A guerra – um dos tipos de assassinato cometido em nome de Estados – continua a ser prática corrente e recorrente numa civilização enferma, onde o cometimento dos excessos contra a dignidade humana parecem ter mais êxito do que a diplomacia, a proximidade, a solidariedade, a mescla, únicas ações concretas que podem conduzir à sobrevivência do que há de efetivamente humano na Humanidade. A cultura da morte mantém-se com intensidade, vão oferecer-se às crianças muitas armas neste Natal, muitos jogos onde…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado | É uma questão de sobrevivência, diria.
Crónica de Alexandre Honrado É uma questão de sobrevivência, diria. Duas ideias, pelo menos, inscreveram-se nas minhas próprias formas de pensar. Foram captadas da mais recente visita de Edgar Morin, o sábio, a Portugal – em setembro deste ano corrente de 2023- , que as legou com a altivez de uma cultura acumulada em 102 anos de vida intensíssima, contrariada pela modéstia com que se partilha e encanta. Quero resgatá-las, antes que a inevitável destruição da memória imponha a angústia de um esquecimento irreparável. Eu, que sempre pensei dedicar-me…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado – Lágrimas Regam O Crescente Fértil
Lágrimas Regam O Crescente Fértil por Alexandre Honrado Escrevi este texto em 2006, para um livro-catálogo do meu amigo fotógrafo de guerra Ângelo Lucas. Achei-o por acaso – e nada é realmente por acaso. Com as devidas desculpas, resgato-o ao tempo e elucido-me. O que se terá passado durante os 17 anos seguintes? O que piorou? Santo Agostinho – no século V, onde isso já vai!!! – falava do fim dos tempos. Hegel, nos primórdios do século XIX, do fim da História. Nós, no século XXI, do fim…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado | Vivemos num mundo em insolvência
Crónica de Alexandre Honrado Vivemos num mundo em insolvência A razão e a sentimentalidade cruzam muitas vezes a mesma ponte de vida, encontram-se num entroncamento único e, não se reconhecendo, seguem o seu caminho em direções opostas. Ocorre-me esta ideia ao ver o estado do mundo, esta insolvência, esta incapacidade patrimonial de satisfazer regularmente as próprias obrigações, a que condenámos um planeta exemplar que, no imenso cosmos, parece ter sido o único capaz de desenvolver-se até à criação de vida. É que os sintomas atuais são terríveis – e…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado | Vai ficar tudo bem
Crónica de Alexandre Honrado Vai ficar tudo bem Foram meses fugazes aqueles em que o poder e a responsabilidade do mundo, estrangulados nas mãos dos mercados, voltaram aos Estados. Quase dois anos, marcados pelo pânico e pela ignorância, presidiram a essa estranha migração, mas a causa foi-se esbatendo, os negacionistas foram sorrindo como se tivessem razão, e a desorganização humana voltou ao que era. Sim, falo da passagem da Pandemia pelo planeta, falo da epidemia da COVID-19, tão absorvida pelos populistas, tão improvisada pela Democracia, tão receada pelos autoritarismos…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado | Um tema como os outros
Crónica de Alexandre Honrado Um tema como os outros Já escrevi sobre cemitérios e já acrescentei muitos cemitérios à minha vida. Sei que é mais comum do que eu imaginava, outros somam mais cemitérios do que eu, por vezes dou comigo a conversar com os cemitérios dos outros, a trocarmos lágrimas que secaram em imensos pântanos nunca estagnados, a tratar os mortos como roupa resgatada de um baú, a imaginar histórias que por vezes ninguém viveu. Esses momentos fazem-me celebrar a vida com maior intensidade, e explicar-me o quão…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado | Sintomas do que temo
Crónica de Alexandre Honrado Sintomas do que temo Há um encanto vago em ficar num lugar sem distinções, parar apenas e ficar a gozar a brisa, o sol que parece desconhecer como o ser humano alterou o planeta de maneira assassina, dourando a pele e aquecendo suavemente em esquecimento. Há um deleite nesse momento sem tempo, sabendo que mais tempo virá escoando-se, o tempo cai sempre num funil apertado e foge-nos como o passar assustado, a criança esquiva, o amor que não ficou. Não tenho muito para dizer nesses…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado | Visitações
Crónica de Alexandre Honrado Visitações A emissão da televisão do Estado interrompe a intervenção da Reitora da Universidade Católica para ouvir um padre comentar, com muitos lugares-comuns, os dias que se vão vivendo. Eu sou apanhado desprevenido, mas não fico surpreendido. Há sempre nestes e noutros eventos uma cultura do atropelo e do desdém pelo que acontece, que não traz já nenhuma novidade aos que ainda gostam de saber as novidades. Das imagens à margem desta interrupção, só me ficou aquela em que Marcelo recebe o Papa e trata…
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