OPINIÃO POLÍTICA | Matilde Batalha (PAN) – Liberdade, estará em risco?

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OPINIÃO POLÍTICA | Matilde Batalha (PAN)
Liberdade, estará em risco?

 

Têm sido muitas as incongruências dos decisores políticos na gestão da pandemia, desde as máscaras não serem necessárias e darem uma falsa sensação de segurança, até à sua obrigatoriedade;  a necessidade de quebrar cadeias de transmissão e fecho tardio de fronteiras; o vírus que permite uma determinada lotação num autocarro, mas que numa sala de espetáculos tem de ser menor; fecho de praias e jardins quando a transmissão é menor ao ar livre; o desconfinamento que protelou a abertura em pleno do pequeno comércio e a sobrevivência das famílias; o vírus que apenas existe nos restaurantes ao fim de semana, entre outras.

Temos certificados que assumem que vacinados estão COVID free quando a evidência científica revela a elevada eficácia da vacina na proteção contra doença grave, mas não na possibilidade de ter a infeção, ser portador do vírus e transmitir a outros. O certificado digital que inicialmente parece ter sido criado como uma medida de saúde pública, rapidamente tem se mostrado como um elemento de discriminação social. Um certificado de liberdade para ir aos restaurantes (ao fim de semana), às aulas de grupo em ginásios, futuramente para jovens entrarem em discotecas, entre outras coisas. Apesar da evidência científica mantém-se esta medida por forma a aumentar a taxa vacinal, incentivando em alguns, o descuido de medidas protetoras; estimulando ódios e separação entre pessoas; criando pressão social; incentivando patrões a “obrigar” empregados a vacinar-se e retirando direitos a cidadãos e cidadãs que escolhem por alguma razão não se vacinar.

Sabemos que cidadãos devidamente informados fazem melhores escolhas para si. Porque não optar por esta via? Porque não optar por uma forma de comunicação clara, transparente e consistente sobre eficácia, benefícios e riscos da vacina, sendo claro sobre o que se sabe e o que ainda não se sabe para que os cidadãos façam a sua escolha de forma verdadeiramente livre. A evidência científica está a ser construída com os dados de todo o mundo e a ciência constrói-se com questionamento constante. É natural que mais informação vá surgindo. Importa é que tudo isso seja clarificado e que as pessoas possam ser verdadeiramente escutadas nas suas dúvidas e naturais receios, sem julgamentos. Que após esclarecimento possam fazer a sua escolha, em liberdade e sem retaliações (que é o que o certificado digital para muitos constitui). A falta de transparência é terreno fértil para a desconfiança, o que estimula mais divisão e clivagem entre as pessoas – os “bons” e os “maus”.

Tudo isto alimentou uma imensa pressão social- seja do lado dos “bons” (nós) como dos “maus” (os outros) – dependendo da perspetiva.  Ninguém deseja ser estigmatizado e nem deseja que o seu filho(a) seja. Estamos sempre a ensinar aos nossos(as) filhos(as) que não devem fazer algo só porque os outros fazem, seja sobre drogas, tabaco ou algum tipo de comportamento. Queremos que pensem pela sua cabeça. Saúde Pública não se faz incentivando miúdos a vacinarem-se para serem livres e poderem ir à discoteca (sobretudo quando a vacina não é garante de ausência de transmissão) e nem “porque todos os meus colegas o vão fazer”.  É uma boa oportunidade para conversar, para comunicar com eles sobre porque querem vacinar-se ou qualquer outra decisão sobre a sua vida e o seu corpo. É uma oportunidade para desenvolver o espírito critico e reflexivo. Saúde Pública também não se faz enviando mensagens diretamente a menores sobre agendamento de uma vacina ou qualquer outro ato médico, mas sim comunicado em primeira linha com pais ou tutores legais, mas isso daria outro artigo.

Ainda não é possível estimar a extensão e o real impacto que a pandemia terá no futuro, a muitos níveis, económicos, sociais e de saúde (física e mental).   Sabemos que o SARS-CoV-2 e a forma da gestão desta pandemia tem colocado em risco o direito à escolha e liberdade individual. E isso não deveria acontecer.


Matilde Batalha
Psicóloga clínica e deputada municipal pelo PAN

 


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