Passear a Vaidade Quando a vaidade invade um corpo, não o engorda, torna-o balofo. Gente que se maneia, um bamboleio que nem chega a ser transgressor. Berloques e penduricalhos. Uma alfinetada e a vaidade esfuma-se. São ruas e ruas desta gente. Gente que, de tão convencida, não cabe em si. Chiados de subir e descer. Sorrisos e adeus. Balões de ar quente partem do Castelo. Voos sem destino. Não se sabe quem vai viajar. Pessoas que pensam que são tudo, que chegaram ao topo do mundo, que todos lhes devem…
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Crónica | Alexandre Honrado – Os únicos a olhar o céu
Ponho-me muitas vezes a pensar na enorme angústia de existir de um homem como Nicolau Copérnico – Mikolai Koperkik -, astrónomo e matemático polaco, que teve a coragem de dizer ao mundo – e quando se diz “ao mundo” é sempre àquela percentagem muito pequena dos que se interessam e têm capacidade para querer entender – que o Sol era o centro de um sistema em que a Terra se incluía. Até às ideias de Copérnico imperava o Geocentrismo – a Terra sim, era o centro do sistema. A discussão…
Ler maisFolhetim | Benvinda – Uma História de Emigração (10º. Episódio)
FOLHETIM | Uma rubrica de Licínia Quitério BENVINDA – Uma História de Emigração (10º. Episódio) Sempre boa aluna, a minha Berta, quem a queria ver era agarrada a um livro. Como a gente não tinha dinheiro para os comprar, ela passava muitas horas nas bibliotecas. Se visse agora a casa dela em Saint-Germain, paredes forradas de estantes cheias de livros, eu até acho que é dinheiro mal empregado, mas ela fica furiosa e diz que a vida sem livros é um deserto, talvez, não sei, coisas que ela diz e…
Ler maisCrónicas de Jorge C Ferreira | Crónica dos dias tristes
Crónica dos dias tristes Como cheiram a tristeza os dias da triste gente. Como deve ser triste só pensar no ter! Há gente que passeia vaidosa, como se fossem medalhas, as tristes figuras que fazem. Figuras que fazem sem se aperceber do ridículo em que caiem aos olhos dos que sabem pensar. Isso não os preocupa, mostram a sua ignorante vaidade e com um pouco de sorte ainda, um dia, serão comendadores. A tristeza é uma dor interior, uma dor que não é física, uma coisa tão fina e intensa…
Ler maisCrónica de Alice Vieira | Desconhecido nesta morada
Desconhecido nesta morada Alice Vieira Tenho a sorte de morar num bairro de gente. Quer dizer : num bairro de prédios normais e não de torres gigantescas, num bairro onde as pessoas ainda se conhecem e ainda vivem, não se limitando a sair de manhã cedo e a voltar ao fim do dia. No meu bairro—apesar de já muita loja ter fechado ou mudado de ramo…– ainda existem vizinhos. Muitas vezes as mais velhas estão à janela, e ali ficamos a conversar. (Há dias, eu a passar debaixo da…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado | De cabeça perdida há quem peça a cabeça alheia
De cabeça perdida há quem peça a cabeça alheia Incapazes de vencer no jogo político, alguns políticos mobilizam-se hoje em torno da agitação e da propaganda, coisa que parece ter sido copiada a papel químico de alguns períodos extremistas da história do mundo, sendo que agora a aura estalinista brilha sobre a calva de alguns ultraliberais, pagos a peso de ouro para mudarem o regime, tanto mais que nesta fase é beneficiador dos menos favorecidos e aposta na distribuição da riqueza, o que deixa a tremer as mãos que gostam…
Ler maisCrónicas de Jorge C Ferreira | Venetas
Venetas Ter vontade de viver. Estar satisfeito com o que se tem. Saber distribuir alegria. Ter quem nos dê um abraço, quem goste de nós. Sabermos gostar dos outros. Ter saúde. Que mais necessitamos? Por vezes andamos atrás do supérfluo, do não vale um corno. Coisas sem interesse algum. Bugigangas. O novo modelo de telemóvel. Um carro com mais um botão. Um modelo novo de sapatos, para juntar aos mais não sei quantos que andam lá por casa. Não, a mim, não me apanham nessas curvas. Podem fazer os saldos…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado | A Cultura da Paz
A Cultura da Paz Ao iniciar o novo ano, com um pouco mais de tempo do que se me tronou habitual em 2017, sentei-me diante do ecrã do televisor e parei em alguns canais que, no resto do ano, não me têm como cliente. Confesso que não sou fundamentalista. Gosto muito de algumas séries; sou viciado em filmes; preciso de informação, como toda a gente e até faço alguma – hoje menos do que na época em que ser jornalista era a minha profissão maior, duro castigo esse mas que…
Ler maisFolhetim | Benvinda – Uma História de Emigração (9º. Episódio)
FOLHETIM | Uma rubrica de Licínia Quitério BENVINDA – Uma História de Emigração (9º. Episódio) Chegou por fim o tempo de Berta deixar de chorar por via da zombaria das coleguinhas, e perceber que tinha um caminho para as fazer calar. Estudou afincadamente, sobressaiu aos olhos atentos de uma professora que lhe entendeu o esforço, lhe admirou as capacidades de aprendizagem, a protegeu sem que ela desse por isso. Terminou o ano com as segundas melhores notas da turma, e logo a teimosia de Berta a levou a informar os…
Ler maisCrónicas de Jorge C Ferreira | Cofres
Cofres Chega um tempo em que nos transformamos em cofres das coisas que fomos ou vivemos. Um cofre com segredo e chave. Um cofre à antiga. Um cofre de todos os truques. Uma caixa forte. Uma casa onde só nós entramos. É aí que guardamos tempos vividos, momentos únicos, beijos e abraços, amores perdidos, noites de espanto, farrapos de corpos que passaram por nós, um quadro que um dia nos fascinou e incitou a voar, um livro que está sempre por ler, um fato feito por medida, uns sapatos…
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