Folhetim | Benvinda – Uma História de Emigração (12º. Episódio)

FOLHETIM | Uma rubrica de Licínia Quitério   FOHETIM – A História de Benvinda (12º. Episódio)   Havia ainda o irmão, o Basílio, rapaz tão bonito como apreciador de boa vida, miúdas, farras e o mais que viesse que não fossem livros, uma chatice, isso era com a irmã, a das manias de vir a ser doutora. Ainda experimentou trabalhar no “chantier” onde o pai agora era “maître”, mas não lhe agradou, aquilo era bom para os pieds noirs que não tinham ambições andava a ver se arranjava coisa melhor, tinha…

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Crónicas de Jorge C Ferreira | Pecados e Imperfeições

Pecados e Imperfeições A impossível perfeição. Os improváveis sabores. As imprecações e as suas várias direcções. O delírio do belo. Esse belo que apesar de provocar a loucura é imperfeito. Uma sinfonia por acabar. A incompleta cantata. O imperfeito som. Um órgão desafinado. Uma lareira sem chama. – Maria anda de rastos em busca do perdão. Um perdão que a imperfeição lhe nega. Maria esfolada, ferida, perdida, o cabelo desgrenhado, as lágrimas de pedra, a eterna busca. Alguém desfalece ao fim da passagem do martírio. Levam-no, não vamos saber mais…

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Crónica de Alice Vieira | A felicidade das doenças

A felicidade das doenças Alice Vieira   Os autocarros são o ponto de encontro de todas as mulheres doentes de Lisboa. Mesmo que anteriormente vendam saúde, chegam ali e zás!, ele é o reumático, ele é o fígado ,ele são os rins,  ele são as insónias, ele é o coração, ele são os nervos, ah, sobretudo os nervos! Não há como uma bela doença (normalmente  acompanhada por uma série de análises “que nunca dão nada, dizem eles, mas eu é que me sinto”) para estabelecer uma onda de solidariedade entre…

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Crónica de Alexandre Honrado | Urbano Tavares Rodrigues

Urbano Tavares Rodrigues Aqui tão perto Estava aqui a ler Urbano Tavares Rodrigues. Sempre o tive em grande estima e ele deu-me duas ou três provas de que eu não lhe era completamente indiferente. Tenho livros dele com dedicatórias únicas, dessas que não se fazem a correr diante da fila dos leitores da Feira do Livro, alguns entregues em mão entre conversas fortes e críticas ágeis, eu a aprender a desdobrar-me e ele como as bandeiras ao vento. Tão forte era ele, e todavia tão semelhante aos pássaros e a…

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Crónicas de Jorge C Ferreira | Tempo para pensar

Tempo para pensar As águas, as luas, as marés e o sonho. Assim faz sentido caminhar. Conhecer do mar o sussurro. Espreitar e tentar ver para lá do horizonte. Sabemos que o horizonte é inatingível. Vamos, no entanto, para a proa do barco na esperança de chegar mais cedo. As âncoras prontas para o que der e vier. Um piloto na ponte de comando. Uma sereia vai cortando o mar na frente do barco. Caminhar na vida é uma experiência única. Um aprender constante. Um tentar entender. Um tentar entender-se.…

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Crónica | Alexandre Honrado – Da ilha da água onde se morre de sede

Não há muitos lugares onde a contradição seja tão marcada: o Sri Lanka é uma ilha robusta, verde e autêntica, onde a chuva é muito comum e a população parece viver numa paz interior que contagia, ouvindo-se a palavra Theravada1 em cada passo. Mas as contradições são evidentes: a abundância das chuvas não equivale à abundância de água potável e as populações sofrem grandes restrições. E a sua pacificidade é quebrada na mobilização permanente do exército que recebe ordens da capital, Colombo, e que, sobretudo, teme os (autodenominados) tigres Tamil,…

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Folhetim | Benvinda – Uma História de Emigração (11º. Episódio)

FOLHETIM | Uma rubrica de Licínia Quitério   FOLHETIM – A História de Benvinda (11º. Episódio)   Não era fácil de fazer amizades, a Berta. Ainda não largara aquele seu jeito de olhar desconfiado, de presa farejando o caçador. Metiam-lhe medo os homens, depois que um a agarrou num canto escuso dos corredores do metro e a apalpou e só a largou quando ela o mordeu com tanta força no nariz que ele desatou a fugir com as mãos a tapar o rosto e a rosnar, “sale putain, sale putain”. Entretanto…

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Crónicas de Jorge C Ferreira | Os labirintos do Poeta

Os labirintos do Poeta Percorrer as estradas da poesia. Saber dos passos dos poetas. Amar um poema, um verso, um delírio. Do delírio conhecer o momento da loucura. No cabelo ao vento encontrar um sinal de liberdade, de transgressão. Ter os livros que connosco foram crescendo. As palavras inquietas nas páginas impressas. O momento mágico, íntimo, da leitura. Só nós e o poeta. Perceber que abrimos a porta para uma nova dimensão. Que estamos noutra realidade. Apalpar o corpo para sabermos de nós. Sentirmos toda a imensa magia, que a…

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Crónica de Alice Vieira | Coração de manteiga

Coração de manteiga Alice Vieira   Não sei se há caras normais, não sei sequer o que é uma cara normal, mas ele tinha uma cara normal. Lembro-me de ter pensado isso quando olhei para ele depois de tudo –muito calmo, como se nada se tivesse passado. A sala de espera de um  consultório  é aquele estranho lugar onde geralmente ficamos em dia com as desgraças, amores e desamores de gente certamente muito importante porque as suas fotografias enchem páginas e páginas das revistas, mas de quem nunca ouvimos falar.…

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Crónica de Alexandre Honrado | A cultura que não serve para nada

A cultura que não serve para nada É a mesma que nos falta Um dos maiores entraves aos estudos de cultura, para além das múltiplas definições e surpresas que o termo – cultura – tem sempre à nossa espera, nem todas pacíficas ou consensuais, prende-se com o facto de que ao investigador, ao cientista, a distância capaz de garantir um bom resultado para a sua análise tropeça sempre naquilo que traz consigo e que é, afinal, a sua própria cultura. Assim, ao pegarmos num exemplo qualquer – hipertexto, cultura urbana,…

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