As casas de uma vida O cheiro das casas. As casas que foram nossas ou nos emprestaram. Casas com vida dentro. Casas vividas e desvividas. Os livros a correrem as estantes. As estantes a mudarem de sítio. Os autores que amamos sempre perto de nós. Uma estante especial. Um lugar de honra. As mulheres das casas. As suas diferentes maneiras de as habitar. Os largos caminhos. Os diferentes cabelos. Os tamanhos e as cores. O amor que sempre se jura eterno. As paredes que não falam. As camas que…
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Crónica de Alice Vieira | Lojas de outros tempos
Lojas de outros tempos Alice Vieira Lembro-me de mim , pela mão das minhas tias, a entrar na loja. Sempre a mesma. A Casa Frazão, na Rua Augusta, em Lisboa. Sentavam-me em cima do balcão enquanto elas ficavam horas infindas a ver amostras, a discutir cores, a analisar a textura do tecido. E eu gostava de ali estar. Havia um estranho cheiro a rosas e bafio, que nunca mais encontrei em lado nenhum. Às vezes as tias punham-me no chão e vinha um senhor com um pau (“o metro”,…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado | Sempre que nos negam a brandura
SEMPRE QUE NOS NEGAM A BRANDURA Portugal nunca foi de brandos costumes. Nasceu dos atos violentos da ocupação progressiva do que era de outros, trazendo o território do Minho ao Algarve e, não contente, expandindo-se com ferro, fogo e alguma ideologia, por outros continentes. Das batalhas de Pedroso, e de Arouca, ainda nem reino se formara, à Operação Penada na Fronteira de Moçambique com o Malawi e a Rodésia, à Operação Ametista Real, em Guidaje, na Guiné, sem sabermos exatamente o número de mortes portuguesas e dos adversários, a…
Ler maisCrónicas de Jorge C Ferreira | Divagar
Divagar Saber do que vos devia falar e não me apetecer. Optar pela divagação. Falar de tudo e de nada. Falar das ausências que magoam. Falar dos livros que nos amarram ao sonho. Das telas que nos levam os sentidos para sítios estranhos. Da diva que canta num teatro repleto de gente estupefacta e que parece só cantar para nós. Do monólogo intenso, num palco quase sem cenário, que nos faz chorar. Do choro de um piano. Depois, escrever mais um texto e morrer de overdose. As palavras assassinas. Os…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado – A escassez que nos esvazia
Falava, por sugestão de outros, sob o tema escassez quando me dei conta de que, por escassez óbvia, havia na plateia quem desconhecesse o termo. Creio que este fenómeno se tornou recorrente: falamos de coisas que julgamos óbvias, ou interessantes, ou mesmo necessárias – e já não o são, porque as escassas plateias que nos ouvem se afastaram do exercício do reconhecimento, se alhearam a dado passo, e só se mobilizam para uma discussão fortuita de futebóis, que, esses também, se tornaram escassos, no interesse, no desportivismo que traíram, na…
Ler maisFolhetim | Benvinda – Uma História de Emigração (16º. e último Episódio)
[sg_popup id=44] FOLHETIM | Uma rubrica de Licínia Quitério FOLHETIM – A História de Benvinda (16º. e último Episódio) Benvinda também fala daquela vez em que a madame lhe gritou e lhe disse que voltasse a limpar tudo e lhe chamou sâle de portugaise e ela se virou, a enfrentou, lhe atirou com o esfregão à cara e, perante o espanto da outra, lhe respondeu em bom português, limpe você sua cabra francesa. Escusado será dizer que voltou para casa a chorar de raiva, e lá foi procurar trabalho, desta…
Ler maisCrónicas de Jorge C Ferreira | Preocupações
Preocupações I – Os Bancos. Continuamos a despejar dinheiro sobre os bancos. Milhares, milhões, milhares de milhões. Quantidades que não cabem na nossa imaginação, por mais criativos que sejamos. Um dinheiro que, na verdade, já não existe. É algo que se passeia por um mundo virtual e que nos vai ludibriando. Hoje já não são necessárias pás para carregar o vil metal. Das acções já não vemos o papel. Os cofres estão a cair em desuso. Basta um “enter” e milhões viajam pelos canais de fibra óptica e aparecem, como…
Ler maisCrónica de Alice Vieira | Família é sempre família
Família é sempre família Alice Vieira Há muito tempo que queriam encontrar-se, mas era sempre complicado arranjar data que conviesse a todos. Mas este ano, um deles dissera “aproveitamos o mês de Abril, festejamos a Páscoa, agora é que é”. E finalmente os cinco casais de irmãos, irmãs, cunhados e cunhadas, pela primeira vez em 30 anos, iam ter um mês de férias em conjunto. Era o sonho de uma vida inteira. Brasis e o Paris das emigrâncias tinham-nos afastado—e agora, já todos finalmente reformados, queriam pôr a vida…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado | Extinção
EXTINÇÃO Tornando-se um dos animais mais hábeis na difícil tarefa da sobrevivência, o ser humano, primata excepcional, canalizou a sua agressividade não só para a competição entre si, por vezes ilimitada e cruel, como para a aquisição de algum conforto capaz de facilitar-lhe a vida e afeiçoar-lhe o comportamento, por vezes de modo inusitado, surpreendente, e tantas vezes errado. A única espécie animal ainda viva de primata bípede do género Homo tem a estranha capacidade de escolher o seu destino. É a única espécie que mata conscientemente, sem razão aparente,…
Ler maisCrónicas de Jorge C Ferreira | Ir a Lisboa e endoidecer
Ir a Lisboa e endoidecer Hoje fui a Lisboa e fiquei louco. Sim, fui passear pela minha cidade. Pela minha cidade Mãe. A “cidade branca”. A cidade da luz única. A cidade do rio grande. Sim, fui a Lisboa e enlouqueci. Que estão a fazer à minha cidade? Que invasão é esta? Onde estamos? Dizem-me que Lisboa está na moda. Mas que Lisboa? A Lisboa quase sem lisboetas? Qualquer dia temos reservas de naturais nos bairros típicos. É necessário alguém que tenha uma ideia para a Cidade. É urgente! A…
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