A Paixão segundo Constança H. “E não só o meu passado, mas o passado da mulher: a menstruação, o útero; o tempo lunar das mulheres marcado pela descida do sangue pelo interior do corpo.” (Extracto do diário de Constança H.) Pag. 199. Entrar neste livro é uma vertigem imensa. É percorrer a paixão. A paixão no feminino. A inquietação das mulheres que a sociedade sempre tentou aquietar. Percorrer a luta eterna das mulheres pelo seu direito a SER. A paixão. O sexo. O suor. A traição. O sangue. A morte.…
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Crónica de Alexandre Honrado | A bicicleta dos sentidos
A BICICLETA DOS SENTIDOS Louis Aragon, poeta e escritor francês cuja memória bem podia ser resgatada, escreveu um dia que “o espírito desprende-se um pouco da mecânica humana, e então já não sou a bicicleta dos meus sentidos, a pedra de aguçar as recordações e os encontros”. A primeira vez que li isto, sendo eu então jovem de mais, fui atraído pela beleza das sonoridades. O texto era, mais do que palavras, uma escada de palavras seguidas de palavras, ou melhor, uma sobreposição encadeada que tinha a dimensão do…
Ler maisFolhetim | Desvairadas Gentes (2º. Episódio)
FOLHETIM | Uma rubrica de Licínia Quitério DESVAIRADAS GENTES (2º. Episódio) Já há algum tempo que ele não parava de lhe pedir ajuda para comprar gasolina para a moto. Tinha deixado de a arrumar ali à beira do passeio, alegando ter encontrado estacionamento bem mais seguro. – Onde? – Ali atrás! E alongava o braço, num movimento impreciso, a fungar. – Sempre constipado. E magrito. Uma ralação, este miúdo. Só o Zeca, filho da Dona Antónia da tabacaria, senhora que falava duas oitavas acima, de modo a fazer-se ouvir ao longo…
Ler maisCrónicas de Jorge C Ferreira | Novas do Reino
Novas do Reino. Já enviei crónicas para este espaço de muito lugar. Daqui, deste Reino, a primeira vez que o fiz foi em Maio de 2015. Com alguns intervalos, por este Jornal tenho estado todas as semanas desde Outubro de 2014. Se não me enganei nas contas estou prestes a chegar à crónica cento e setenta. Por aqui me tenho entregado. Temas variados. A liberdade que me deram e que é essencial para mim. Comigo, muitas vezes a querida Isaurinda: minha consciência, minha outra palavra, uma maneira única de chegar…
Ler maisCrónica de Alice Vieira | Ainda o 25 de Abril…
AINDA O 25 DE ABRIL… Alice Vieira O dia 25 de Abril já lá vai . Como sempre acontece nesta altura, várias escolas chamaram-me para que eu falasse aos alunos sobre esse dia único de 1974, que para mim foi ontem e para eles na pré-história. Lá vou, levo provas de censura do “Diário de Lisboa” para lhes mostrar, tento animar a discussão. Mas não é fácil. Porque, na esmagadora maioria dos casos, este é um assunto de que estão a ouvir falar pela primeira vez. O que me…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado | Para além do bem e do mal
PARA ALÉM DO BEM E DO MAL “Permitiremos tudo, até os nossos pecados”, sentenciava o escritor Fiódor Dostoiévski, no seu livro Irmãos Karamazov, antecipando, como profeta literário – os melhores profetas parecem ter sido sempre os literários –, um mundo novo alicerçado no falhanço e na contração dos valores a ponto de cultivar os mais medíocres. Dostoiévski punha a sentença na personagem de um Grande Inquisidor e na análise da missão da Igreja e apresentava-nos um Cristo que, mal regressado à Terra, era encarcerado, precisamente por ordem da Igreja. Para…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado | Abril não é uma rua deserta
ABRIL NÃO É UMA RUA DESERTA Não falo de abril como de uma rua deserta, muito menos como uma azia fétida, um mau hálito de coisa podre instalada nos que lhe viraram as costas. Se não fosse abril éramos muito pouco, mesmo os mais medíocres de nós. Os medíocres são os que ficaram a abanar as suas pernas e as suas poucas e ralas ideias curtas em cima dos móveis do passado, uivando como algum vento aborrecido, com os colmilhos ávidos da jugular alheia, que nem sempre ousam…
Ler maisFolhetim | Desvairadas Gentes (1º. Episódio)
FOLHETIM | Uma rubrica de Licínia Quitério FOLHETIM – DESVAIRADAS GENTES (1º. Episódio) – Traz lugar? – pergunta o homúnculo por detrás do balcão, por debaixo dos capachos e dos mata-moscas pendentes do tecto, entalado entre os grandes frascos de rebuçados e a pirâmide multicolor dos alguidares de plástico. Ao silêncio de incompreensão do cliente, repete, aparentemente agastado: – Traz lugar ou precisa de um saco? É que temos poucos. Assim se fala na Drogaria Moderna, de João Cipriano (Herd.os), Lda, mais conhecida no bairro pelo Tem-Tudo. Fica numa dobra de velha…
Ler maisCrónicas de Jorge C Ferreira | As casas de uma vida
As casas de uma vida O cheiro das casas. As casas que foram nossas ou nos emprestaram. Casas com vida dentro. Casas vividas e desvividas. Os livros a correrem as estantes. As estantes a mudarem de sítio. Os autores que amamos sempre perto de nós. Uma estante especial. Um lugar de honra. As mulheres das casas. As suas diferentes maneiras de as habitar. Os largos caminhos. Os diferentes cabelos. Os tamanhos e as cores. O amor que sempre se jura eterno. As paredes que não falam. As camas que…
Ler maisCrónica de Alice Vieira | Lojas de outros tempos
Lojas de outros tempos Alice Vieira Lembro-me de mim , pela mão das minhas tias, a entrar na loja. Sempre a mesma. A Casa Frazão, na Rua Augusta, em Lisboa. Sentavam-me em cima do balcão enquanto elas ficavam horas infindas a ver amostras, a discutir cores, a analisar a textura do tecido. E eu gostava de ali estar. Havia um estranho cheiro a rosas e bafio, que nunca mais encontrei em lado nenhum. Às vezes as tias punham-me no chão e vinha um senhor com um pau (“o metro”,…
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