Crónica de Alice Vieira | Falando de surf

Alice Vieira

Falando de surf Por Alice Vieira   Aqui há dias, numa revista que costuma estar no bar da praia do sul, aqui na Ericeira, falava-se de surf — e de como, numa terra do Gana, a prática deste desporto tem ajudado a melhorar a vida, muito difícil, de muitos jovens, sobretudo a vida das raparigas. Os pais, muito rígidos na educação das filhas (para tentarem evitar um mal que afligia muito as famílias, que era a gravidez precoce) castigavam-nas se descobriam vestígios de areia nos seus pés. As meninas deviam…

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Crónica de Alexandre Honrado | Passeio pela cidade

Alexandre Honrado

Crónica de Alexandre Honrado Passeio pela cidade Por vezes, a cidade é História, outras o simples recanto sombrio que permitiu histórias e lendas, tornando-se, em qualquer dos casos, ponto de encontro da civilização humana. Ou é, em alternativa, o que a história esqueceu no seu percurso, ficando a esmaecer nos anos com o que lhe sobra de ocupação do homem, esse ser simultaneamente religioso, político, económico, sensual, cultural, capaz de deixar à sua passagem tantos vestígios e pegadas desperdiçadas. Na atualidade, a cidade é obrigatoriamente a perceção da sua multiculturalidade,…

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Crónica de Licínia Quitério | O Campo

Crónica de Licínia Quitério

De ontem e de hoje | O Campo por Licínia Quitério     Retratos amarelecidos, com alguns pequenos rasgões que o tempo lhes ofertou, guardados há muito em gavetas, dão-me notícia de que terei, pelo lado materno, uma costela antepassada de camponeses. Quem sabe será do tal ossito, mais recentemente chamado ADN, em sentido lato e pouco rigoroso, que herdei este apreço pela terra de que hoje aqui vos falo. É essa atracção mal explicada que me leva a gostar de seguir a evolução dos plantios nos campos por onde…

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Crónica de Alice Vieira | As gracinhas dos nossos filhos

Alice Vieira

As gracinhas dos nossos filhos Por Alice Vieira   Quando o meu filho era miúdo — claro que os nossos filhos são sempre miúdos, mas neste caso, miúdo mesmo, para aí oito, nove anos — viajava muito. Jogador de xadrez, viajava muito com a Federação para participar em campeonatos por esse mundo fora. Então, eu pedia-lhe que, onde quer que estivesse, me mandasse um postal com as notícias (onde é que ainda vinham os telemóveis…). Coisa que ele cumpriu sempre. Por isso, há muitos anos que guardo um lindo postal…

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Crónica de Licínia Quitério | A nova geração

Crónica de Licínia Quitério

De ontem e de hoje | A nova geração por Licínia Quitério   Sabes, estou a dar o Memorial do Convento. E então, estás a gostar? Muito. Ainda não li todo, mas já dei uma olhadela até ao fim. O que a Blimunda vê é lindo, fantástico. Sabes que a Hélia pediu a Blimunda emprestada ao Saramago? Sério? Como foi isso? Pediu-lha para a fazer aparecer num livro seu, chamado Lilias Frazer. Mas mesmo com o nome de Blimunda? Sim, a encontrar-se com a Lilias. Não sabia. Que coisa interessante.…

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Crónica de Jorge C Ferreira | Outro Dia

Jorge C Ferreira

Crónica de Jorge C Ferreira Outro Dia   Novos inícios de dia. Novos fins de tudo. Um escuro que se desvanece. Um cântico estranho que se ouve. Uma língua desconhecida. Vozes longínquas. Estranhos e surdos pensamentos nos invadem o corpo. Nascem em nós estranhos sinais. Ainda estaremos a sonhar. De repente, um absoluto vazio. Um calado silêncio. Uma solidão inesperada. Um sonho apagado. Tudo isto demora um curto momento. Um tempo que não sabemos quantificar. Um som que começamos a ouvir. A telefonia que deixámos ligada antes de adormecermos. As…

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Crónica de Alice Vieira | Teatro amador

Alice Vieira

Teatro amador Por Alice Vieira   Quando eu era mais nova — e não tinha tanto trabalho como tenho hoje…— uma das coisas que eu mais gostava de fazer era ir por esse país fora assistir a espectáculos de grupos de teatro amador. E nesse tempo havia muito bons grupos de teatro amador. Alguns tão bons ou melhores que os profissionais, sendo que, nessa altura, também se chamavam grupos de Teatro Experimental. (Lembram-se, por exemplo, do Teatro Experimental de Cascais, ou do Teatro Experimental do Porto). Nessas minhas andanças pelo…

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Crónica de Alexandre Honrado | O banal nunca é comum

Alexandre Honrado

Crónica de Alexandre Honrado O banal nunca é comum   São malcriados. Há uma bitola para medi-los, é certo, e não se tolha a liberdade quando se aponta a dedo gente como eles. São violentos, mas não agressivos. O agressivo é competitivo, tenta impor dinâmica às coisas, transformando-as, mas essa gente, em contrapartida, é medíocre e muito covarde, exerce a força sobre os mais fracos, sempre sobre os mais fracos, e promove os seus soezes lugares-comuns. É gente malcriada, não sei se já disse. (O sentido da criação impõe formatos…

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Crónica de Jorge C Ferreira | Estrelas

Jorge C Ferreira

Crónica de Jorge C Ferreira Estrelas   Um desejo, uma loucura, a ternura que se procura. Será apenas um beijo prometido e nunca dado? Será a fuga tantas vezes ensaiada e nunca conseguida? Fugas à rotina, ao rame-rame. Aquela ilha sempre sonhada e nunca encontrada. Uma ilha que parece navegar. Uma ilha que sonhámos de encantar. Um mar esmeralda. Uma areia branca. As palmeiras a fazerem vénias ao mar. Tanto para navegar. Tanto para sonhar. A nossa Ítaca. As mesinhas e as falsas doenças. Os termómetros de mercúrio que subiam…

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Crónica de Licínia Quitério | Des-dizer

Crónica de Licínia Quitério

De ontem e de hoje | Des-dizer por Licínia Quitério   Eu nada tenho de coleccioniadora de objectos, sejam maiores ou menores, antigos ou actuais, originais ou cópias. Do que eu gosto mesmo é de coleccionar, melhor, reunir, guardar na memória das curiosidades, o seguinte: palavras, por semelhança ou dissemelhança expressões banais de muito serem ditas ou invulgares por perda de uso ditos com o que se chama espírito ou com notória ausência dele frases feitas, tão úteis para quem não tem como fazê-las lugares comuns, em uso ou desuso…

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