MATAR – pelo menos as saudades (dos centros comerciais) Por Alexandre Honrado Jean Baudrillard é um nome que a poucos dirá alguma coisa e a esses poucos só a vergonha de não saberem mais sobre a sua figura leva a admitir que sabem de quem se trata. Era um estudioso da cultura, essa coisa estranha que não passará, afinal, de um somatório de usos e costumes humanos, para usarmos uma ideia de Voltaire, usos e costumes nem sempre abonatórios daquilo que somos, nem da forma…
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Crónica de Licínia Quitério | De ontem e de hoje – O progresso
De ontem e de hoje – O progresso por Licínia Quitério Há muito tempo não se atrevia a subir a rua. Os anos pesam e dias há em que o peso se concentra todo nas pernas. Subir é arrastar uma massa desmedida, amálgama de lembranças e anseios e estremecimentos vários. O Sol, menino atrevido, chamou-o, com aquele calorzinho bom que afaga e promete. Ao sair a porta, disse para dentro para a companheira: – Se eu me demorar, não te preocupes. É que me apetece sentar-me um bocado no…
Ler maisCrónica de Alice Vieira | Em louvor dos correios
Em louvor dos correios Por Alice Vieira Ora cá estamos, confinadas. Uma amiga minha diz “confitadas” porque, segundo ela, ao menos assim parece que estamos num banquete a comer coisas boas. E nestes últimos dias, para além de confinadas por causa do vírus, ainda estamos confinadas por causa da chuva. Mas como agora, muito resguardadas, de máscara e luvas, já podemos dar uma voltinha, tinha tudo preparado para ir deitar uns postais ao correio (muito perto de minha casa). Coisa pouca :58, e ainda não respondi a todos. Como…
Ler maisAlmanaque Legal | Nuno Cardoso Ribeiro – A Advocacia não é um serviço como outro qualquer
A Advocacia não é um serviço como outro qualquer por Nuno Cardoso Ribeiro A delicada missão de servir a Justiça e os cidadãos impõe-nos que, especialmente em matéria tão sensível como são os preços, se proceda com a máxima transparência. E tal implica, naturalmente, que os clientes conheçam integralmente os valores praticados pelo advogado que contrataram, o que nem sempre sucede. Não se trata de mercantilismo, mas sim de lealdade e clareza. Até há bem pouco tempo, ler o Estatuto da Ordem dos Advogados, equivalia a ser teletransportado…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado – Pelos dias em que choro
Pelos dias em que choro Por Alexandre Honrado Gostava de andar com uma qualquer utopia portátil para trazê-la aqui, para esta prosa, e depois levá-la a passear como um cão, mostrá-la ao agente da autoridade, veja senhor guarda, esta é a minha utopia portátil, levo-a para toda a parte, até para a imagem do ecrã do teletrabalho, e agito-a sem pudor diante de colegas e alunos, perante os meus iguais e os outros que, custa-me dizer isto, não considero meus iguais. A minha pequena utopia portátil acredita na construção…
Ler maisCrónica de Jorge Ferreira | O silêncio
O silêncio por Jorge Ferreira Este silêncio que persiste em se manter vivo. Este não sei quê que se vai instalando de uma forma que nos atormenta. São como noites de vigília apenas com uma vela acesa. Os medos incutidos. A mudança de vida. A mudança de mundo. Caladas vozes. Passam máscaras na minha rua. As máscaras, na minha região, estão à venda nas IPSS. Como sou velho tenho direito a quatro máscaras grátis por semana. Acho que tenho de telefonar para a linha sénior. Ofereçam a toda…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado – Confinamento com fim elevado
Confinamento com fim elevado Por Alexandre Honrado O filósofo alemão Nietzsche, a quem erradamente se “atribui” a morte de Deus, morte simbólica, filosófica, e, segundo a sua leitura atenta, ocorrida dentro do ser humano, uma ideia que, todavia, já era expressa mais de um século antes dos seus raciocínios, fala amiúde do divino nos seus escritos e entre outras sabedorias produziu este frase num livro (que li em francês – Le Cas Wagner – porque infelizmente não domino o texto em alemão): “O que é…
Ler maisCrónica de Licínia Quitério | De ontem e de hoje – A infância
De ontem e de hoje – A infância por Licínia Quitério Pela janela da infância o mundo entrava. O mundo, quero dizer, o canto estridente do canário da vizinha Celeste, com um carrapito preso por ganchos de tartaruga. O bater sola, cadenciado, do Júlio sapateiro, de beata apagada ao canto da boca. O chiar do rodado do carro de bois, pachorrentos como se usa dizer dos bois. Os gritos, sobretudo os gritos dos meninos da rua que brincavam e lutavam e se insultavam, a enganar a fome da côdea…
Ler maisCrónica de Jorge C Ferreira | Números e Gráficos
“Números e Gráficos” Todos os dias me enviam números e gráficos que eu agradeço, vejo e tento interpretar. Alinho os números, vejo as curvas. As subidas, os achatamentos e chego sempre à mesma conclusão: morreram mais não sei quantos e isso é que é horrível. Vejo as idades dos que morreram e entendo porque pertenço ao grupo de risco. Houve um tempo em que a aventura era a minha vida e costumava alardear e gritar: o “risco é a minha profissão”. Agora o risco apanhou-me nesta curva da vida.…
Ler maisCrónica de Alice Vieira | Onde estavas no 25 de Abril?
Quando me fazem a inevitável pergunta “onde é que estavas no 25 de Abril?”, eu respondo logo: “no Coliseu, a assistir a uma récita memorável da “Traviata” com o Alfredo Kraus e a Joan Sutherland. “ Eles vieram ao palco agradecer não sei quantas vezes, as pessoas atiravam cravos para a plateia, foi lindo. (Depois disso entrevistei o Alfredo Kraus uma série de vezes, e no final de cada entrevista ele fazia sempre questão de dizer: “não se esqueça de escrever aí que os primeiros cravos da vossa revolução foram…
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