Crónica de Alice Vieira | E viva o teatro

Alice Vieira

  E viva o teatro Por Alice Vieira   Todos devem ter sabido da homenagem que foi feita ao actor Ruy de Carvalho na Casa da Cultura da Ericeira. E nessa altura eu pensei  que, em miúda, andava sempre nos teatros! E que bom que foi! Que bom que foi ter conhecido então a Amélia Rey Colaço (ela também gostava muito de mim e era ela que às vezes me telefonava para eu ir a sua casa), a Marianinha (era assim que toda a gente chamava à Mariana Rey Monteiro),…

Ler mais

Crónica de Alexandre Honrado – Cultivar para não banalizar

Alexandre Honrado

  Crónica de Alexandre Honrado Cultivar para não banalizar   “Banalizar a linguagem é banalizar o pensamento que ela veicula.” Teodoro Adorno (Adorno, 1999). Sabe-se hoje que na economia o peso da cultura é enorme – mesmo que o Orçamento Geral de Estado (quase) não a contemple, talvez pelo erro político habitual de que o Estado não sabe investir nem é bom gestor nas poucas áreas que lhe podem trazer retorno e notoriedade de curto, médio e longo prazo. Aliás, aprendemos que a expressão “economia da cultura” revela uma noção…

Ler mais

Crónica de Licínia Quitério | Vou ali e já volto

  De ontem e de hoje – Vou ali e já volto por Licínia Quitério     Ai a minha cabeça, ai a minha cabeça, é o que oiço em voz de mulher quase gritada vinda de um assento atrás do meu. Imagino-a ao telefone com alguém lá de casa que lhe diz, para sua grande  aflição, que não apagou o gás do fogão, ou que deixou o gato fechado no roupeiro, ou se esqueceu da sogra no supermercado. Isto imagino eu porque de facto nada sei de toda aquela…

Ler mais

Crónica de Jorge C Ferreira | A espera

Jorge C Ferreira

  A espera por Jorge C Ferreira   A espera. O tempo que não passa. Quando o desespero torna tudo mais longo. Um tempo que não mata o tempo. Nem uma dor física. Apenas as outras dores. Dores que se prolongam. Dores invisíveis. Dores que os outros não ouvem. Nem um grito, nem um gemido. Apenas a face contraída. A boca triste. A espera pode matar. Esperar por uma namorada numa esquina combinada e o tempo a perder-se no tempo. O seu perfume que teima em não se sentir. O…

Ler mais

Crónica de Alice Vieira | A minha biblioteca

Alice Vieira

  A minha biblioteca Por Alice Vieira   As tias que me criaram tinham uma paixão mórbida pelos mortos. Em vida podiam ter sido uns trastes—morriam e transformavam-se em santos.Elas até tinham um irmão a que não falavam— depois de morto, iam todas as semanas ao cemitério pôr-lhe flores na sepultura. Ah,  e ninguém da família podia morrer num hospital! Assim que estavam muito mal, iam para nossa casa. Sempre me lembro de haver, no quarto ao fundo do corredor da minha casa, um tio doente. Muito doente. Moribundo. Morto.…

Ler mais

Crónica de Alexandre Honrado – A cidade como metáfora viva


Alexandre Honrado

  Crónica de Alexandre Honrado A cidade como metáfora viva   Não gosto das cidades que me são dadas para viver e, no entanto, amo profundamente as cidades, as minhas cidades – e tenho várias, o que pode parecer pretensioso. Gaston Bachelard (Bachlard, 1996) dizia que “apenas o espírito é científico” e isso pode indignar os mais materialistas, os mais exatos, para usar uma expressão querida a alguns cientistas. O espantoso é descobrir, entendida a história do homem, que o verdadeiro valor para um pensamento ingenuamente elementar é a obsessão…

Ler mais

Crónica de Jorge C Ferreira | Sonhar

Jorge C Ferreira

  Sonhar por Jorge C Ferreira   Já não me lembro que horas eram. Sei que ainda estava escuro. Um telefonema àquela hora não era normal, a notícia também não. Do outro lado do fio uma voz: «há uma revolução. Lisboa está cheia de tanques. Desta vez é que é. Ouve a rádio.» Mandavam-nos ficar em casa. Fui para a rua. Ainda estava longe de se consumar a madrugada de todas as madrugadas. Depois foi a alegria imensa, a festa, o sonho. E tantos foram os sonhos que conquistámos! Coisas…

Ler mais

Crónica de Licínia Quitério | Os blogues

  De ontem e de hoje – Os blogues por Licínia Quitério   Reproduzo hoje um excerto de texto que escrevi no princípio do século quando os blogues estavam em grande divulgação. Não tardou a chegada das “redes sociais”, mais interactivas mais sedutoras, que hoje fazem parte do nosso uso e das nossas preocupações, chamem-se Facebook, Instagram, Linkedin, TikTok, etc. e o que logo mais surgirá. O mundo não pára e a imaginação dos homens também não. “… A proliferação dos blogues atrai as atenções de especialistas em ciências sociais…

Ler mais

Crónica de Jorge C Ferreira | Balanços

Jorge C Ferreira

  Balanços por Jorge C Ferreira   Querer saber da vida. Que lhe contem todos os segredos. Prometer calar. Ser estátua muda. Animal de carrocel. Ser animal de trabalho e não acreditar. Perguntar muito e a muita gente. Aos mais velhos. Aos que já viveram mais. Ouvir o que dizem os mais novos. Querer saber do caminho percorrido. Da vida vivida e por viver. Das desgraças percorridas. Das alegrias que, muitas vezes, teimamos em esquecer. Do tempo da felicidade e do tempo do medo. Uma vibração que abana o corpo.…

Ler mais

Crónica de Alice Vieira | Três ou quatro anos

Alice Vieira

  Três ou quatro anos Por Alice Vieira   Nestes últimos tempos tem-se falado muito de cancro. Ainda há poucos dias houve um enorme documentário sobre o assunto na televisão. Eu tive um cancro da mama. Fui operada e quando saí do hospital fui falar com o médico e — como sou sempre muito prática — perguntei-lhe quantos anos teria mais de vida. Ele evitou dar-me a resposta, que era difícil de dizer, mas depois lá me disse que o meu corpo estava cheio de metástases, que eles tinham tirado…

Ler mais