Insónias por Jorge Ferreira Quando as noites são cabeleiras despenteadas pelos maus pressentimentos. A vida a ser vivida de noite. Logo agora, que os “néons” estão apagados e as ruas vazias. Noites perdidas ou noites encontradas? Nunca chegaremos a saber. Vamos ficando diferentes com a idade. As eternas preocupações que não nos largam vão variando. Começamos a ter pessoas que se preocupam connosco. Uma viragem na vida que aceitamos. Não temos outro remédio. As mazelas, as dores, as perdidas euforias. Um texto triste. Um livro para pensar e a…
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Crónica de Jorge C Ferreira | Os anos contados
Os anos contados por Jorge Ferreira Quantos anos perdidos nesta vida. Anos sem nexo e sem fruição. Chega o fim do ano. Uma coisa previamente determinada. Uma invenção, para mim, escusada. Os terríveis calendários. Os malvados relógios. Já chega a noite e o dia. Mesmo nos sítios onde a noite dura vários meses. Que atrasados estamos. Que interessa quantos anos temos. O ano em que nascemos. Somos nós que nos sabemos avaliar. Hoje já existe uma coisa chamada idade biológica. Coisa a que não ligo muito. Acho que é…
Ler maisCrónica de Jorge C Ferreira | Peace and Love
Peace and Love por Jorge Ferreira Ser selvagem. Não ligar ao que é suposto. Tentar aprender todos os sabores da vida. O agreste fruto, na agreste serra. A montanha de todos os perigos e de todos os deleites. Uma loba linda de morrer. A beleza azul do seu uivo. Um amor nunca consumado. Todos se guardavam uns aos outros como se fossem siameses. Que coisa tão difícil de explicar. Virtudes nunca por demais cantadas. Encontrar uma flor original. Seria esse o tal pecado original? Seria aquela a flor do…
Ler maisCrónica de Jorge C Ferreira | Gosto de ti
Gosto de ti por Jorge C Ferreira Saber a linguagem do amor. A linguagem dos muitos amores. O amor sagrado, o amor cansado, o amor castigado, o amor maior. O amor amizade. Os amigos e as amigas que amamos. A capacidade de dizer: Amo-te. Perder a vergonha e o medo. Este é um tempo de sermos capazes de dizer, pelo menos: Gosto de Ti. Os beijos beijados. Os beijos abraçados. Os beijos encantados. Os beijos desastrados. Os beijos envergonhados. Os beijos que nunca demos aos amigos e às amigas.…
Ler maisCrónica de Jorge C Ferreira | A Via-Sacra
A Via-Sacra por Jorge C Ferreira Falar do encanto escondido. Uma folha de um bloco com desenhos de coisas esquecidas. Um falar calado. Um falar traço a traço. A luz e a sombra e a melancolia de uma árvore despida de afectos. Um banco de ripas, muito verdes. Um lugar único e despido. Na relva ninguém se rebola. O chafariz está avariado. A estátua de um poeta. Um cartaz que diz: “É obrigatório o uso de máscara.” Lembro-me da minha Mãe adorar o Carnaval de Veneza, aquelas máscaras, aquelas…
Ler maisCrónica de Jorge C Ferreira | Viva a malta
Viva a malta por Jorge C Ferreira Das encantadas levezas. Da leveza da água da cascata mais alta. Da leveza do corpo amado. De leveza em leveza nos vamos embevecendo numa festa sem razão de ser. Vamos fazendo filmes e teatros. Números de saltimbancos e barracas de fantoches. Desfila a banda dos bombeiros agora já sem os miúdos atrás. Está tudo nas aulas virtuais, no teletrabalho. Viva a tecnologia. Dizem que, para o ano, os miúdos serão substituídos por robots. Esperemos para ver. Somos gente de brincar às levezas…
Ler maisCrónica de Jorge C Ferreira | Antes da pandemia
Antes da pandemia por Jorge C Ferreira Ela leva o mais pequeno para a creche. Ele o mais velho para a escola. Vão ter escola e prolongamento. Só vão sair quando estiverem cansados, para não cansarem mais os cansados pais. Mais de uma hora até ao trabalho. Uma para lá outra para cá. Tempo que não é pago. Quem te mandou ir viver para os subúrbios? As novas lancheiras. A comida aquecida no micro-ondas. Meia-hora para almoçar que isto não está para conversas. O convívio incomoda certa gente. Acabaram…
Ler maisCrónica de Jorge C Ferreira | O pranto
O pranto por Jorge C Ferreira Sentirmos no ombro, no peito, um dilúvio de lágrimas. Ouvir os ininterruptos soluços. Tentar acalmar a dor e deixar que a raiva passe. Os gonzos da cela da prisão a encerrar a liberdade. O barulho das pesadas chaves. Uns lábios muito quentes. A febril emoção. Saber da aveludada pele de outros pigmentos. Saber do amor falado noutras línguas. Outras maneiras de amar. Amar sempre o outro. Nunca sentir as diferenças. Ama-se porque sim. Porque se sente algo de especial. Uma vontade enorme de…
Ler maisCrónica de Jorge C Ferreira | Que Mundo?
Que Mundo? por Jorge C Ferreira Aterrar neste tempo e neste Mundo. A loucura a passear pelas ruas das cidades. Um tempo em que é necessário pensar. Para onde nos querem levar? Que caminho é este? Um tempo de espera. Mas um tempo em que não podemos desarmar. Temos de agir quando for necessário. Um joelho, nove minutos, calcando o pescoço de um ser humano algemado e imobilizado. A cara do algoz impassível. Uma mão na algibeira. Ajeitando o joelho para poder causar o…
Ler maisCrónica de Jorge C Ferreira | Crónica da Ausência
Crónica da Ausência por Jorge C Ferreira I Treme o chão. Trememos nós. Treme o Mundo. Placas que se unem e desunem. Placas de vírus, lamelas dos investigadores. Microscópios e mais outras máquinas esquisitas. Quanto mais se descobre mais fica por saber. A experimentação. A corrida para o vazio. Nós esperamos. II Os que morrem. Os que acrescentam os números e determinam as curvas, nesta curva difícil da vida. Há quem sobreviva e se cure, e seja a recompensa para os que o trabalho é salvar vidas, curar.…
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