Novas do Reino.
Já enviei crónicas para este espaço de muito lugar. Daqui, deste Reino, a primeira vez que o fiz foi em Maio de 2015.
Com alguns intervalos, por este Jornal tenho estado todas as semanas desde Outubro de 2014. Se não me enganei nas contas estou prestes a chegar à crónica cento e setenta.
Por aqui me tenho entregado. Temas variados. A liberdade que me deram e que é essencial para mim. Comigo, muitas vezes a querida Isaurinda: minha consciência, minha outra palavra, uma maneira única de chegar à razão. Existe uma viagem em falta. A ida com Isaurinda à Ilha do Fogo. Uma promessa que espero cumprir. Tantas saudades tuas minha guardadora.
Escrever é um pouco despirmo-nos. Aparecermos quase nus muitas vezes num palco de folhas brancas e letras dançantes. Um risco que se corre e ao qual, quem escreve, com muita dificuldade consegue fugir. Um travestido encanto por sons, frases e linhas, umas vezes de ternura, outras de sofrimento.
Escrever também é sofrer. Quantas vezes sentimos as dores do que contamos ou inventamos. Dores de partos difíceis. Quando tudo nasce, vindo do nada. A espontânea forma de nascer. Quantas letras foram entregues nas rodas dos conventos.
Deste Reino já vos falei de quase tudo. Da minha rua. Do meu espartano modo de viver. Dos afectos com que se faz o melhor da vida. Do pão especial e da comida arranjada com carinho. Dos amigos, uma das principais razões de aqui passar umas temporadas. Do Mediterrâneo, onde descansamos os olhos que quase ficam azuis de tanto olhar este mar.
Estar na nossa esplanada a olhar para o outro lado que não enxergamos. É como viajar. É especialmente belo ao fim do dia. Naquela penumbra indefinida. Quando não sabemos se havemos ou não de acender as luzes. Apenas o bruxulear encantatório das velas e o crepitar do fogo.
Este Mar. O “Mare Nostrum”. Um prodígio de azul. A passagem para o outro lado da vida. Terras que deixaram saudades. Turbulências que nos incomodam. As praias iluminadas, os banhos nocturnos. Mais abaixo o deserto. As dunas, a fina areia e um Oásis para retemperar as forças.
Estar aqui, mas sempre a sonhar com outros lugares, outras realidades. As já vividas e as nunca experimentadas. Um desassossego com que vamos afastando a quietude. Porque a vida é movimento. Uma constante procura. Uma aventura. O que visitamos, o que lemos, o que descobrimos, o que desencontramos, o que nos invade como uma força inexpugnável.
Por vezes parecemos outros. Recebemos visitas inesperadas. Somos tocados por algo que desconhecemos. Olhamos os outros e não entendemos para onde caminham. Uma preocupante forma de estar que nos vai gastando o ser. Acordar com outra realidade no olhar. Tentar perceber a experiência. Incorporar todo o novo no nosso caderno diário. Continuar a caminhar.
Ir para a varanda descansar o corpo. Libertar a mente. Confraternizar com os pássaros. Tentar entender o seu canto. Descobrir outras formas de comunicar. Sentir o Sol a queimar a pele. Esperar pela próxima brisa. Ver um barco a afastar-se. Ficar em terra porque sim. Porque não é este o tempo, não é aquele o barco. As portadas todas abertas. A vida inteira dentro de casa.
Desde o Reino, por hoje, é tudo. Saudades.
Para ti, Isaurinda, beijos maiores que este mar. Que fique azulada a tua negra pele de que tanto gosto.
Jorge C Ferreira(Reino de Valência) Maio/2018(168)
Mais um texto belo, onde se adivinha, como nos outros, a procura e o desvendar pelo sentido da vida
Obrigado Isabel. Só em busxa incessante faz sentido viber. A procura. Abraço.
O regresso ao Reino. Como é bom regressar a estas paragens.
O poder desse mar azul, a esplanada testemunha de tantos encontros, entre chávenas fumegantes.
Obrigada por estas crónicas que nos levam sentir que cada momento da vida é precioso.
Do lado de cá, vou entrando discretamente nesses lugares, sentar-me à mesa da esplanada, caminhar….
Um abraço amigo.
Obrigado Eugénia. Grato por viajar comigo. O meu abraço.
Desculpe. Eulália e näo Eugénia.
Neste texto o Jorge conversa connosco contando tudo o que vai sentindo nesse lugar que ficou designado por Reino. Adorei este jeito intimísta e natural (afinal está entre velhos amigos). Fala também do tempo em que escreveu a 1ª crónica e de como é importante essa liberdade de expressão. A Isaurinda só pode estar orgulhosa e de lágrima ao canto do olho pois ficou aqui a promessa de a levar à Ilha do Fogo! Expressas ficaram também as saudades que sente dela! Lindo, meu amigo! Continuação de bons momentos por essas paragens com bons amigos e bons mergulhos! Um beijinho
Obrigado Madalena. Esta conversa t nossa. Este conversar de amigos. Estas coisas que de tão simples são trancendentes. Assim caminhanos. Abraço.
Gostei tanto de ler o que escreveste! És o poeta a escrever prosa e isso é muito ao meu gosto. Hoje senti- Deme quase como se me estivesses a embalar. Aquelas palavras doces da vida, de quem fez as pazes com ela e na mais pequena coisa que ela te oferece te contenta e faz feliz. Também eu ando a voar com os pássaros. Ouço o pica-pau a roer a minha acácia, os melros passam os dias por aqui e dormem na benjamina, têm lá cama. e a sebe entrelaça o verde das heras com as flores das madressilvas. Capto cada imagem e ilustro-as com palavras, como tu nos ensinas. Depois vou até lá abaixo ver o mar e os olhos tal como tu, avançam para lá da linha do horizonte. A vontade de partir é enorme. Um dia destes aí vou eu…Obrigada por te poder escrever. Já não se escrevem cartas de amor, de amizade…recebe estas minhas palavras daqui do lado de cá. abraço.
Obrigado Fernanda. Obrigado por esta bela carta. Pena não ser à mão. É aí que as cartas ganham todo o sentimento. Um dia escrevo-te uma e fico ansioso pela volta do correio. Abraço
É na escrita que te salvas e que te libertas. E nós agradecemos, sempre, e por cá continuamos, todas as segundas feiras ansiosamente à espera das boas novas. São variados os temas, mas a ternura e o encanto que nos bate à porta, é sempre igual e únicos, mesmo adivinhando e sentindo tantas vezes a tua dor.
Assim vamos continuar, porque contigo também viajamos na magia da palavra ao encanto da razão. E sempre, sempre, com a mesma emoção. Beijinhos e boa continuação.
Obrigado Cristina. Obrigado por não faltares a esses encontos escritos. É bom saber que estás por aqui. Abraço
Boa noite Jorge….
Maravilhoso e cativante este texto……
Adorei…..é tão verdade, escrever é expormo-nos como se despidos estivéssemos!!!!
Que bom poder ler estes textos sempre cheios de emoção!!!
Abraço de gratidão
Obrigado Raquel. Que bom é ler os seus comentários. Sabe tão bem. Abraço
O mar azul sem fim onde começa o sonho , o sonho de poder partir sem ir de voltar sem ter saído. Um abraço bom descanso.
Obrigado Isabel. O mar é um fascínio. Uma vontade imensa de navegar. Abraço
A tua escrita inventada ou vivida é repleta de momentos de fragilidade, alegrias, amizade, cada palavra é uma reflexão quantas vezes sobre o aparente quase nada ao tudo. A vida! Não importa onde estás, com palavras e folhas brancas constróis pontes, assim viajamos contigo em liberdade. Obrigada meu Amigo por estares aí. Um abraço Jorge.
Obrigado Regina. Escrever esta dor que me salba! Assim me liberto. Assim me encontro e desecontro. Abraço
Que bela essa narrativa de múltiplas cores,é como se estivesse numa galeria e o quadro exposto falasse em tons pastel a aguarelas ou salpicos de tinta…seria assim como se tivesse o título” Memórias vivas”.Ficaria por certo a ouvir a fala do olhar…
Sempre me vejo como figurante nessa tua escrita meu querido amigo.Que daí do reino venham autos e estórias vivas.Abraço!
Obrigado Célia. Que bom que visualisaste o que escrevi. Escrever a corrs um desejo que procuro. Abraço
Uma excelente e comovente crónica. Não tenho palavras para descrever, somente adorei. Um grande abraço amigo.
Obrigado Esmeralda. Que bom que gostou. Fico feliz. Abraço
Excelente e comovente
Obrigado Esmeralda. Abraço
Um texto que, na minha leitura, é mais um hino à Liberdade!
Liberdade de escrever…pensar…estar…ou melhor, Ser.
Obrigada pela sinceridade que põe nas palavras e nos leva a acompanhá-lo.
Gosto de lê-lo!
Obrigado Idalina. A liberdade é um bem essencial. É um encanto tremendo. Abraço
Que lindo texto hoje Jorge.Tão sincero!!. Vê-se que lhe sai do coração. Sabe que às vezes me faz inveja(no bom sentido, claro)…Gostava de ter a sua liberdade…Gosto de trabalhar e gosto do que faço, mas já me apetecia viver a vida sem horários a cumprir,poder ficar ao fim da tarde a olhar para o Oceano…enfim pode ser que um dia lá chegue. Meu amigo viva bem esses dias por si e por mim e um grande abraço.
Obrigado Maria da Conceição. É um longo caminho e afinal tão curto. Comecei a trabalhar com 15 anos. Rscrever pode causar dor. Estar a olhar o mar e não poder partir, também. Abraço.