LINDA
É tempo de descer. O vento conta-se em nós. A distância e a velocidade em milhas. Assim vamos atravessando linhas imaginárias. Encolhe o gelo, um gostoso desaparecer, corre a líquida água pelas montanhas abaixo.
Uma montanha de cada lado, um deslumbramento de água e verde. Rochas que apelam à aventura. Assim vamos de cidade em cidade. Assim vamos conhecendo nova gente.
Subir ao cimo das montanhas e ver, cá em baixo, a nossa ausência e miniaturas que desconhecemos. Este subir e descer que nos baralha os ouvidos. Engolimos e bocejamos. Contrariamos o castigo. Refazemos o caminho.
Um restaurante/café com a esplanada quase dentro de água. Chegam canoas e pequenos barcos vindos de improváveis viagens. O café sabe-nos bem. A água vem em garrafas de vidro sem marca e não se paga. Chegam da montanha alguns amigos. Vêm cansados, mas felizes. Estiveram num púlpito único e regressaram.
Sabemos que hoje vai chegar a noite. Acabaram-se as vinte e quatro horas de claridade. Vai chegar tarde, esse escuro, mas vai chegar. Vamos entrar noutro modo de viver. Como a claridade e a escuridão nos podem influenciar! Muitas vezes o organismo revolta-se. Temos de lhe forçar à vontade.
Vou percorrer uma rua de cabanas típicas, entre e saio, vejo, cheiro, procuro algo até que encontro alguém que me prende. Escrevi sobre ela e aqui deixo este texto:
Linda, conta-me do teu frio inteiro. Diz-me da neve alta o sabor. Fala-me do calor sereno da tua cabana de madeira, do tecto de terra e erva que cobre o teu corpo todo.
Linda, encanta-me com mais um trabalho delicado saído das tuas brancas mãos. O teu nome bordado a sobrevoar o teu peito. Um quadro branco e negro. O dia e a noite a chorarem por nós.
Tens de me contar tudo antes que a longa noite chegue e o teu corpo comece a arder numa avidez desatada por novas aventuras.
O glaciar a endurecer de tanto chorar por ti. A água pura a ficar mais azul. A tua outra terra a esperar pela tua chegada num soluço desesperado.
Linda, como te fui encontrar?
Tinha ganho o dia. São estes os encontros que fazem valer a pena ir a um lugar, passar frio e intempéries. Em todos os lugares há um ser especial que espera por nós. São estas as “graças” que recebemos da vida. As forças que nos tiram o cansaço e nos impelem a continuar, a não parar.
O sol incendiava a terra. A camisa curta tinha saído do armário. Os braços a agradeceram esta dádiva. Este tempo improvável. Esta improvável doçura beijada.
Estava a aproximar-se o tempo de dizer adeus a todas as “Lindas” destas terras. Esperam-nos mais visitas inesperadas, a conversa nocturna, as outras viagens dentro da viagem. As cidades abandonadas, as coisas perdidas, as noites esquecidas, as fronteiras sem nome.
Prolongam-se as conversas e assim se vai prolongando a vida. As várias maneiras de ver as coisas. Cada pessoa tem um olhar único sobre um lugar, um ser humano, uma euforia. Há sempre quem consiga ver o que mais ninguém viu. Assim nos vamos complementando.
Partir!
«Olha, gostava de ter conhecido essa Linda. Deve ser bem bonita.»
Fala de Isaurinda.
«Além de linda era de uma doçura fascinante. Mas sei que ias gostar de mais coisas.»
Respondo.
«Dizes tu!»
De novo Isaurinda e vai, o pano na mão.
Jorge C Ferreira Agosto/2018(176)
Que bom é ler-te meu muito amigo.É saudável lembrar para poder escrever,é salutar as vivências escritas para podermos saborear.Aquele abraço!
Obrigado Célia. Que bom ler o teu comentário. Abraço
Para quem tem as emoções à flor da pele, para quem sente a vida de forma poética, para quem se apaixona pela beleza, haverá sempre momentos únicos onde a magia acontece. E será sempre “Linda”!
Obrigado Maria. É isso tudo. Como gostava de atingir todos esses limites. Abraço.
Que Linda a tua escrita Amigo Jorge ! Amei! Beijinhos ?
Obrigado Claudina. Que bom o teu comentário. Abraço
Linda, um lindo nome. Linda foi a viagem, paralela à água que corre líquida ao longo do declive da montanha. Linda foi a viagem que recria os tímpanos para que os nossos ouvidos estejam atentos aos sons mais invulgares, mesmo, aos subtis. Aos detalhes mais improváveis que tocam adentro o nosso organismo – toques indeléveis até à emoção.
Sim, Isaurinda, pelas palavras lidas que nos dizem das mãos brancas, do bordado a sobrevoar o peito, ela era linda – Linda.
Beijo,
Obrigado Eugénia. Que belo o seu comentário. Viver tudo de forma intensa. Abraço
Uma viagem maravilhosa! Lá longe, onde a noite é da, nasce o poema Lindo! Que belo encontro antes do regresso. Em cada dia, um novo ver.
A Isaurinda sempre atenta!
Belissima crónica!
Obrigado Eulália. Sempre alguém especial espera por nós em qualquer lugar. Abraço
Querido Jorge,
A tua escrita comove-me. És um ser especial.
Lindo, podia ser o teu nome, mas és especial e doce, uma fascinante doçura.
“Somos resultado de livros, viagens e pessoas” – Um dia encontrei-te e dou “graças”.
Abraço
Obrigado Cristina. Generoso o teu comentário. Abraço
Grata por mais uma viagem maravilhosa! Gostei tanto, meu amigo! Um beijinho
Obrigado Madalena. Fico feliz por ter gostado. Abraço
Mais uma viagem. Mais um olhar sobre a paisagem. Sentir os cheiros…os sabores…eis que uma visão sobressai- linda.
Que linda era a linda que resultou numa linda crónica.
Obrigada por mais esta “visão de artista”.
Boa semana.
Obrigado Idalina. Grato pelo seu belo comentário. Lindo. Abraço
Muito bonito Jorge. Boa noite. Abraço.
Obrigado Maria da Conceição. Abraço
Como deve ser bela e doce a sua Linda, para merecer palavras maravilhosas.
Adorei a sua crónica amigo.
Obrigado Esmeralda. Tudo depende do nosso olhar. Abraço
Obrigado Regina. Há sempre coisas a ddesembrulhar. É necessário estar atento. Abraço, minha amiga.
Brilhante texto. As viagens dentro das viagens. Quantas fazes dentro de ti. Linda! Abraço Jorge.