Que semana
por Jorge C Ferreira
É o covid. É um vento que se levanta. É um frio que nos congela. São lágrimas que choramos sem saber porquê. Há uma mulher de setenta anos que sai do coma induzido em que estava há mais de mês e meio. É uma luta que jurou continuar e vencer. Ouve bravos, incentivos e algumas palmas. Vê lágrimas nos olhos de quem ajudou a salvá-la. E dos que julgavam tê-la perdido. Não sabe onde esteve este tempo todo. Nos olhos dela uma vontade infinita. A luta continua.
Entretanto o país vai encerrar portas de novo. As festas não correram bem. O aumento de infectados disparou. O aumento de mortos atingiu números inesperados e continua a subir. Os hospitais estão a rebentar pelas costuras. Um senhor de fraque continua a querer cobrar dívidas. Uma eterna dúvida são as dívidas que não são pagas. Dívidas sempre dos do costume. Vai fechar tudo e não vai fechar nada, porque há estranhos negócios que nunca fecham. Os trafulhas. Os traficantes. Os contrabandistas de ideias e de carne humana. E não sei quantos mais.
Apesar de tudo o povo vai ser chamado às urnas para eleger o mais alto magistrado da nação. No entanto o tal povo só pode sair à rua para trabalhar e tem de recolher a casa. Será que vamos ter outro dia especial precisamente um mês depois? Não vai haver a chamada campanha. As canetas, as bandeirinhas, os sacos de plástico vão ser diminutos, para nosso bem, desta vez. Como vão contactar os candidatos com o povo?
Aí entram as novas tecnologias que não chegam a muitas pessoas. Será esta uma campanha de todos e para todos? Será que as televisões serão obrigadas a novas ideias e a descobrir novas fórmulas para cativar a audiência com a presença dos candidatos onde apareçam os mais suaves, os assim-assim, os mais acutilantes e o pessoal da pesada? Que falem todos e que todos tenham atenção ao que ouvem. Alguns, os que ainda se lembram das coisas de antigamente, cabe-lhes avisar a malta de alguns discursos quadrados e com ares de alguma dureza.
Veio um ministro e disse:
«cada um tem de levar a sua caneta, não haverá a canetinha do costume na cabine de voto.» E tomem lá disto. Não há canetas a andar de mão em mão. Cada um com a sua. Palavra da sumidade já conhecida do pessoal. Cada vez que fala nasce um apetecido guião para os humoristas. Vão levar as urnas aos lares. Os velhotes que esperavam um dia para se pirar ficaram com expectativas frustradas. Não irão circular as carrinhas e as ambulâncias dos bombeiros. Vai tudo ficar confinado.
Depois de tudo isto só me resta pedir para que se portem bem e se respeitem, respeitando os outros. Será mais um interregno na nossa vida. Mais um tempo que não vai contar para nada. Um tempo sem tempo. Uma fraude. Mas lá terá de ser. Mais um sacrifício enquanto as vacinas chegam a conta-gotas. Para quando as vacinas para todos?
Não se esqueçam, vão votar mas com todos os cuidados exigidos e com a vossa caneta. Façam a cruzinha bem feita.
«Tu às vezes parece que queres gozar com isto, mas isto não está para brincadeiras.»
Fala de Isaurinda
«Sabes que eu levo as coisas a sério. Só que acho que, por vezes é necessário descomprimir.»
Respondo.
«Está bem, mas há coisas que não gosto.»
De novo Isaurinda e vai, a mão a dizer que não quer mais conversas.
Jorge C Ferreira Janeiro/2021(285)
Pode ler (aqui) todas as crónicas de Jorge C Ferreira
Um dia-a-dia de todas as cores e sentimentos!
Um abraço, Jorge!
Obrigado António. Tudo se mescla numa nuvem que nos sobrevoa. Grande Abraço.
Tempos estranhos estes , meu amigo.
Mais do que medo, sinto angústia, quando vejo e ouço notícias.
Passam dias, semanas, meses, quase um ano e chegamos a números inimagináveis. A rutura dos Serviços de Saúde, o cansaço de quem está na linha da frente. Qual será o critério, quando se têm de escolher vidas? Mais medidas, apelo às consciências. Parece tanto e ao mesmo tempo, tão pouco.
Em paralelo, campanha eleitoral. O confronto de ideias deu lugar ao insulto gratuito. Para onde caminhamos?
O mundo enlouqueceu.
Temos que nos cuidar. Resistir. Levar caneta e esperar que, mesmo em confinamento se cumpra o dever cívico de votar em liberdade.
Obrigada por estar desse lado.
Um grande abraço.
Obrigado Eulália. Tempos difíceis. Aparecem grunhos a insultar toda a gente. Temos de ir votar. Temos de fazer mais um esforço e dizer “não passarão”. Obrigado pela sua constante presença. Abraço
Eu diria que por vezes não só é necessário descomprimir como é fundamental!
Passados quase 11 meses a luz ao fundo do túnel que a vacinação acendeu não chega para iluminar o caminho, cada vez mais negro.
E o desânimo vai alastrando perante a irresponsabilidade dos que ainda pensam que o COVID é conspiração.
E vamos ver o que nos espera no próximo domingo…
Mas continuaremos a resistir! Embora dispersos, temos que ser muitos a torcer para o mesmo lado.
Um abraço meu Amigo!
Obrigado Maria. Que bom estares aí. Sabes que eu estou aqui. Temos de ser exemplares. Temos de evitar o caos. Domingo, vamos dar cabo do animal ordinário que ofende todas a gente. Um abraço enorme.
Eu já votei! Espero muito que não chova para que as pessoas não desistam de ir votar. Bem basta o COVID… Outro abraço.
Tempo triste que neste momento vivemos. Tão bem analisado por si. Senhor escritor. Tempo que nunca julguei viver. Mas com a verdade, que sempre usa na sua escrita, dá-nos confiança. E acreditar que “os confinamentos” sejam justos e respeitados. É muita a angústia e a dor. É muita a incerteza dos dias, que ao longo de quase doze meses vivemos. Continuar a resistir, meu amigo. Não vou esquecer a caneta e farei a cruz o melhor que puder, embora as condições que dão aos mais frágeis, para que possam exercer o direito de votar, sejam poucas. Obrigada, meu amigo por tanto que nos dá. Abraço imenso.
Obrigado Maria Luiza. Estamos cansados, mas estamos vivos. Não me trate por senhor. Apenas tento ser eco do que sentomos e vemos. Votar é muito importante. Vamos defender a Liberdade. Abraço imenso
Querido Jorge,
Na tua escrita cinematográfica, vais nos relatando a realidade que estamos a viver. Uma dura realidade, em que a angustia, a tristeza e o cansaço tantas vezes tomam conta de nós. Resiliência, é a palavra que se impõe a estes tempos.
Mais importante que nunca fazer a cruzinha bem feita. Este é um tempo que nos começa a dar medo. Como a Isaurinda reclama, isto não está para brincadeiras. Mas tu sabes. Claro que sabes, Mestre.
Obrigado Cristina. Sabes que tudo isto cansa. Sim faz a cruzinha bem feita e no lugar certo. Tu és inteligente. Não votes no grunho. Abraço
Continuamos…
Quase ininterruptamente.
Continuamos…
Frágeis? Medrosos? Inquietos?
Peixes fora dágua?
Numa clausura incómoda mas com sinal de “obrigatório”.
Escolas em funcionamento. Filas para os supermercados. Ainda muitas pessoas sem máscaras…
Ajuntamentos.
Sinais evidentes de exaustão. Asfixia. Limite.
Os hospitais sem meios humanos e materiais para dar resposta aos casos que se avolumam. A linha continua a subir…
Continuamos…
Agora com um novo desafio. As eleições. O novo presidente. Novo?
Tenho seguido os debates. Com curiosidade. Alguns pertinentes. Outros, nem por isso. Alguns diálogos quase amistosos, outros, apenas acusações mútuas. Vergonhosos! Ainda os que são “lutas de capa e espada” e os que se ficam pelas entrelinhas…
Enfim, há para todos os gostos. Como as bolas de berlim. Com ou sem creme.
Confinados. Já nos habituámos. Já não estranhamos. Já percebemos que só assim poderemos sobreviver. Será? Será?
Vacinas? Ainda tanto por questionar…
Jorge.
Há sempre quem nos avise. “Quem te avisa, teu amigo é…” diz o saber popular.E tu sabe-lo bem. No modo como se nos diriges. Sem mas nem meios mas…
Lemos-te e confiamos. Lemos-te e cremos que abordas todas as vertentes, tocas em todas as feridas. Mesmo as que sangram.
És genuíno.Íntegro.Claro.Fidedigno.
Preciso. Pungente. Até malicioso….
PS. Vou levar a minha caneta. Azul. Espero que seja um domingo com algum sol. Que não nos esqueçamos que é um dever cívico. Como é dever cuidarmo-nos e…
continuarmos. Até ver.
Obrigado Mena. Sempre uma festa os teus comentários. Que bom estares aí. Obrigado do coração. Acrescentar alguma cousa seria estragar. Abraço Grande
Afastar o medo é preciso. Hoje, o nosso país bateu novo record, não conhecem outra palavra para falar das mortes? De quem vai morrer? Irresponsabilidade, apanhar sol enquanto a possibilidade de o retirarem a alguém para sempre.
Novas medidas. Inventamos viver os dias. Vamos votar. Vai ser um dia diferente dos até aqui vividos. Como dizes a cruzinha bem feitinha com a nossa caneta. Vamos resistir! Obrigada por este texto, descomprimir é preciso, mesmo sabendo que sofres por este país. Abraço muito grande meu Amigo Jorge.
Obrigado Regina. Que bom o teu comentário. Que boa a tua presença. Que bom estares sempre. Vamos cuidar um dos outros. Vamos votar de caneta erguida0. Abraço Grande
Mais uama bela crónica sobre a realidade. Covid,covid,covid… Palavras belas e sábias sobre o panorama nacional e internacional.
Estamos de luto,pelos que partiram,pelos que estão a sofrer e pelo que petdemos. Seremos os mesmos? Penso que não. Este ectermínio biológico deixará marcas. Continue a ‘dizer’ o que não somos capazes. Lindas palavras,lindos textos.
Obrigado Isabel. Temos de resistir. Acho que muito vai mudar. Grato por estar aí. Enquanto puder estarei por aqui. Abraço Grande