Poemas
por Jorge C Ferreira
Fomos jantar fora. Jantámos na esplanada. Poucos comensais. Acho que estava tudo nos centros comerciais. Comemos iscas com batata cozida. Uma bavaroise de café. Bebemos água e café. Cinco minutos depois estávamos em casa. Só andamos a pé por aqui.
A vida a abrir para fechar daqui a algum tempo?
Já não digo nada. Nunca sei nada. Telefonaram à Isabel para ir tomar a primeira dose da vacina. Eu tomei a minha em 31/3. Acho que vai tudo correr bem. A Isabel está entre a vontade de se vacinar e algum receio. Claro que vou com ela e vou esperar que saia contente. É mais um passo não sei para onde. Estamos quase sempre a par. Estamos ambos doidos por liberdade. Sempre estivemos. Vivemos muitos anos aperreados. Porquê mais isto agora? Temos de arriscar. Passámos toda a vida a arriscar.
Tento-me desligar disto tudo. Televisão fechada. A mente aberta. A vontade de escrever um poema. Um filme do dia passa-me pela cabeça. Tento isolar algo. Daí tiro um modo de sentir. Uma palavra e por aí sigo. Os versos fluem e retornam. Escrevo e risco. Risco e escrevo. Embora escreva a lápis nunca uso borracha. Quando passar para o tablet sei que ainda vou tirar palavras, refazer frases, tentar escrever o mesmo com menos palavras. Complicado? Não. O trabalho de quem se dedica a isto muitas vezes cansa, faz doer a alma. No fim é alegria. Mas convém saber que:
Um poema nunca está terminado.
Um poema é um enigma. Um puzzle complicado. Um jogo de palavras e ideias. Podemos sempre voltar ao mesmo poema e refazê-lo, acrescentá-lo, fazer dele parte de uma história inteira. Mesmo que a história não tenha fim.
Tento evitar determinadas palavras. Máscaras, desinfectante, vacina, distância, sabão. Tento afastar o tempo danado que vivemos. Mas o filme do dia está cheio desses sinais. As bichas para o supermercado. O horror dos canais televisivos. Os grandes espaços cheios. Gente ávida de comprar. Depois penso. Pode haver necessidade de comprar coisas naquelas lojas baratas. Já mudámos de estação. Revejo na cabeça o já escrito. Procuro não me repetir. Tento fugir ao trivial. Tento acrescentar algo de novo ao quotidiano.
Já vi muito lugar paradisíaco. Lugares que só por si são um poema. Descrevê-los acaba por os diminuir. Já escrevi um livro de viagens, (a Volta À Vida À Volta Do Mundo – Editora Poética), raramente escrevi sobre a beleza dos lugares. Falei das pessoas que encontrei e que inventei. Falei do mar e das tempestades. Falei da lua e dos luares. Dos inesperados acontecimentos. Arranjei namoros e namoradas, tudo inventado. Tudo desdobrado em páginas numeradas e em forma de texto.
Agora, lembrei-me, tenho mais um poema encomendado. Tenho de o escrever. Tenho de voltar ao princípio de tudo. O mesmo processo até chegar ao encantamento.
Recebo, entretanto, uma notícia que me deixa surpreso. Um poema meu do livro (Desaguo Numa Imensa Sombra – Poética Editora) é finalista, com mais nove poemas, do certame “aRi[t]mar”. Um certame Galego. Não sei como cheguei à Galiza. Sei que fiquei contente por um júri escolher um poema meu. Já estou feliz assim. Agora é uma votação pela net. Logo se vê. Nada que me tire o sono.
«Olha, hoje escreveste bem! Gosto disto.»
Fala de Isaurinda.
«Que bom que gostaste. Beijinhos para ti.»
Respondo.
«Estás muito carinhoso!»
De novo Isaurinda e vai, um beijinho na mão fechada.
Jorge C Ferreira Abril/2021(299)
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A vulnerabilidade da liberdade. O encantamento atemporal pela palavra e as surpresas boas que trazem, resultado da prazerosa entrega.
Uma boa leitura sempre, um abraço Jorge.
Jorge.
Só sobre poemas.
Os que se escrevem a lápis.
As palavras que se amontoam e empolgam.
Os cantos despejados que agasalham. Explodem. Desfilam e transgridem.
São a cratera de um corpo. A urgência de uma página em branco. Os gestos que têm voz.
Os teus livros.
Amorosa e dolorosamente escritos.
Saídos das entranhas. Dançados. Arrancados à solidão. Palpitantes. Vivos. Pássaros que contam histórias. Viajantes dos tempos. Na distância de uma saudade De mais de mil e uma noites. De um azul-mar.
Os teus livros.
Arrancados à alma.
Teus e nossos.
Obrigado Mena. Tão belo o que escreveste. Os lápis falam connosco. As minas a gastarem-se num afogamento rápido. Uma noite escrita nk claro do dia. O qur escrevrmos e não entendemos. Grande abraço
Quando menos esperas alguém leu o que escreveste e tocou-lhe. è assim a escrita, a música, a pintura. É Arte.
Um dia foste inspirado, outro dia alguém fez uma leitura da tua inspiração. Descodificou a tua metáfora. Toda a Poesia tem uma metáfora subjacente, senão não o seria!
Quando tu dizes que percorreste o teu “caminho azul” em poesia estás a fazer uma metáfora, não é? Lembras-te do filme o Carteiro de Pablo Neruda? A lição que Neruda nos dá sobre as metáforas? Eu achei o mais belo do Filme!
Tu és um grande professor das metáforas1 As figuras que criaste no livro que escreveste e nos fizeste acreditar que existir naquela viagem inesquecível! Grandes metáforas! Parabéns meu amigo! Todos temos muito a aprender contigo, ou em prosa ou em poesia, porque a tua prosa é sempre poética. Um Abraço grande..
Obrigado Fernanda. Belo o teu comentário minha generosa amiga. A arte é um momento intenso que nos é ofertado. Algo vindo de um não sei donde. Abraço grande
Belíssimo. A vida num poema.
Os momentos que vivemos. As situações com que nos identicamos. As memórias que fazem parte da vida. A resistência. Tudo, de forma única nas palavras do poeta.
“A volta à Vida à volta do Mundo” é um livro excelente que não resisto a relê-lo. Mais do que um livro de viagens, leva-nos a conhecer pessoas, através da sensibilidade do poeta.
Parabéns por ter chegado à Galiza com o seu poema.
Bem merecido.
Obrigada amigo, pela partilha da sua escrita única.
Grande abraço.
Muito obrigado Eulália, minha Amiga. Sempre grato pela sua presença aqui, pelos seus comentários É uma sensação tão boa saber que nos gostam de ler. Um abraço imenso
Porque a sua escrita é irresistível, não deixo que me escape nenhuma Crónica sua. E esta não é excepção, escrita única, sobre questões de momento e também sobre a sua vida na escrita.
Sobre a sua vida de escritor, pouco fala. Opto por ficar por aqui e dizer muito pouco. Não quero estragar o que tão bem diz. Quero que saiba, que estou contente por um poema seu, ser finalista com mais nove poemas num certame Galego. Muitos Parabéns !
O seu livro, “a Volta À vida À volta do Mundo continua a fazer-me uma bela companhia, o seu conteúdo é para ler e reler. Os personagens que criou, são o máximo. E eu imagino-me a fazer, um Cruzeiro. Não sei se aguentaria a mudança dos fusos horários.
Veja como a sua escrita desperta os sentidos! E nos anima a alma com os seus poemas. E o tanto que diz, em tão poucas palavras. É de Mestre !
A poesia vive em si querido poeta, não vai gastar nunca o seu manancial de palavras e de ternura.
Abraço imenso.
Obrigado Maria Luiza. As suas palavras são um incentivo para escrever. Que bom, seria poder viajar brevemente. Muito grato pot tudo um Abraço grande deste seu Amigo.
Acho que neste momento, não há heróis; há sim voluntários que arriscam as duas hipóteses: apanhar pode ser arriscado ou o contrário pode ser perigoso, embora andemos protegidos!
A vida é sempre um risco, nem que seja ao transpor a porta para a rua, nunca se sabe!
Um abraço, Jorge!
Obrigado António. Sabemos que a vida é sempre um risco. Um risco que temos que correr. Vamos ter coragem para resistir. Enorme abraço
Imagino-te a inventar partidas de encontro a ventos e marés, ou então voares alto como Ícaro por esse mundo onde tudo parece turbulência mas de algum modo ávido de esperança. Vejo-vos com bússola ir ao encontro da terra do nunca, penso só vos faltar o encontro com o Peter Pan, ou a Sininho…
Ir jantar fora já é audácia que baste, já as iscas com elas… humm… bom e apetitoso para inaugurar. Eu penso que as palavras nunca te hão-de faltar, tens o mundo palmilhado no coração, por isso, escreves com a tinta da alma, ou a lápis com que escrevinhas a renda da vida A vida a desabrochar, os desejos e sonhos a trautear a música no coração. Que bom saber-te navegante da lua onde depositas toda a esperança de que tudo “Vai ficar e estar melhor”… Abraço!
Obrigado Cecília. Tão bonito o que escreveste. Escrever é inventar vidas. Brincar com acontecimentos e, também, muitas vezes, defender ideias e causas. Tão gratificante o que dizes. Abraço imenso
Querido Jorge, meu querido poeta, tudo em ti é poesia. A forma como nos descreves o primeiro jantar de esplanada com a isabel, quando o país começou “a abrir”, o teu poema a concurso.
Um livro de viagens e de vidas, outro de poesia e de vidas também .
Vidas. Vida. É o que sentimos quando te lemos. Uma eterna busca pela vida. Sentires e emoções que descreves da forma mais sublime. Muitas vezes como se lesses o que nos vai na alma e que nós nunca o conseguiriamos transmitir. Como tão bem dizes, há lugares que só por si são um poema. Há sim, Jorge, é verdade, assim como o sorriso das crianças , o abraço de quem amamos. Há pessoas, querido Jorge que trazem a poesia dentro de si. E há outras que lhes conseguem ler. A Isaurinda, é uma delas.
Ela gostou do que escreveste. E nós também.
Um abraço e um poema para ti <3
Obrigado Cristina, minha grande Amiga. Que bom o que me dizes e como o dizes. É tão bom ler. Dá vontade de escrever mais. Abraço do coração.
Diariamente as várias notícias construídas no imediato. Nós a tentar não ouvir. São dias a que não nos habituamos. Os livros são a fiável companhia. Dizem os poetas que dormem com um caderno e uma caneta junto deles, não vá um poema acordá-los. Como concordo com a Ivone Teles e a Maria. Tu Já és um vencedor. Quantos poemas terás escrito além do encomendafo. Abraço grande Jorge.
Obrigado Regina, minha doce Amiga. Não sei se alguma vez escrevi um poema como sonho. Nunca sei o valor do que escrevo. Escrevo para os outros. Não para mim. É um caminho sem fim à vista. Abraço grande, grande
Meu querido amigo , desta vez falaste em ” VIDA ” tua, diversa, mas esperançosa. A Isabel que não esqueça a vacina, a forma mais breve para criarmos anti-corpos, contra este terrível vírus. Já te disse que votei e votarei no teu poema. Mas porque mereces não é nenhum favor. Achei graça em terem-te encomendado um poema. Como sabes, no meio estudantil, durante a ” Queima das Fitas, há um “Livro de Curso” com uma caricatura do fitado e um ou mais poemas de familiares e amigos. Eu não sou poeta, mas é-me fácil, ” “versejar”. Fazia muitos ” poemas ” durante a ” Queima “. O que fiz para o Joaquim, também serviu para a neta, porque, as fitas das duas licenciaturas são igualmente, azuis claras. Agora fiquei feliz por ter sido escolhido um poema teu. É sempre um estímulo. São belos os poemas do teu último Livro. Como a Branca Maria Ruas, torço por ti. Beijinhos para ti e Isabel. Mando igualmente um para a Isaurinda, esse teu ” super ego “.
Obrigado Ivone, minha Amiga/Irmã. Tão bonito o que fizeste com o Joaquim e a tua neta. A continuidade numa fita azul clara. A rima certa. Grato por tudo. Por seres quem és. Por estares aqui . Abraço enorme.
As dores e as alegrias do processo criativo.
Toda a tua escrita flui como um poema.
Fico muito feliz por o júri ter escolhido um poema teu!
Mereces! Mesmo que não seja o teu poema a ganhar, tu já és um vencedor!
Um grande abraço e vou ficar a torcer por ti.
Obrigado Maria, minha kinda Amiga. Tu sabes o que é criar. Sim, para mim o importante está feito. O reconhecimento do júri. Agora é um jogo. Eu não sou muito amigo de jogar. Um abraço enorme e vou ficar com as tuas palavras na minha memória