Crónica de Jorge C Ferreira
O Caminho que Liberta
Decidiu percorrer um caminho que lhe libertasse o espírito. Caminhou sozinho e tanta gente caminhou com ele. Vivos e mortos. Penas e saudades. Memórias de uma vida. Pessoas que, mal ou bem, o ensinaram a viver. Veredas, riachos, rios, quedas de água. Pedaços de estradas romanas. Um trajecto de barco, algumas horas a navegar. O espírito sempre alerta. Carrega todos os sentimentos e todos os desejos. Não sei se rezou. Se sim, que orações o acompanharam? Não faço a mínima ideia. Se o fez deve, tê-lo feito com fervor. Dizem que é esse o seu espírito.
Todos os caminhos têm troncos de árvore difíceis de ultrapassar. Por vezes o cansaço, mas a mente a salvá-lo. As pedras e os pequenos lugares. Lajedos e fontes. Cuidar bem dos pés. Dormir com muito pouco. Muito pouco ou quase nada. Acordar aos primeiros alvores e continuar a caminhar. Um caminho que parece ser eterno. Na verdade, todos passamos uma vida a caminhar. Muitas vezes, sem sabermos para onde vamos, nem o que pretendemos atingir.
Numa pequena mochila leva toda a sua vida. Segue os sinais. Segue o rumo anteriormente traçado por alguém. Carregamos muita tralha ao longo da vida. Mas, afinal, tudo é tão simples. Precisamos de muito pouco. Eu já me fui desfazendo de muita coisa. Parece que fico mais leve. Somos a soma dos sentimentos que vivem connosco, nesta sociedade onde se dá mais valor ao ter que ao Ser. Tentar contrariar estes princípios. Estes erros que se vão prolongando estupidamente.
É afinal simples viver com o cartão de cidadão no bolso de trás das jeans e uma mochila ou um saco onde caiba toda a nossa vida. Eu sei que nos acham estranhos. que nos levam por parvos e se riem de nós. Mas o que essa gente pensa pouco importa. Eles não fazem ideia do sono profundo que nos preenche a noite, de quem nos visita e faz festas no cabelo e da alegria de vermos os dedos a carregarem nas teclas com a rapidez possível que, muitas vezes, não acompanha as ideias. Eles não sabem o que sonhamos durante a noite e desconhecem os Amigos que são, na verdade, nossos Amigos.
Amigos são os que nos acompanham em todos os momentos desta caminhada. Aqueles que querem saber de nós e de quem nós queremos saber.
Ver o fim do caminho cada vez mais perto. Já se sente ao longe o cheiro que anuncia a festa da chegada. No nosso peito um intenso alvoroço. Um músculo que começa a bater aceleradamente. Continuar. Uma última rampa. O cajado adormecido, os joelhos a dobrarem-se. Pedir forças sem saber a quem. Mais um sonho cumprido. Mais uma aventura para interiorizar e pensar.
Chegou o tempo de descansar bem, em paz e harmonia. Esquecer o caminho das pedras. Lembrar tudo o que crescemos durante a caminhada. Uma alegria inteira, deliciosa. Nosso sonho para sempre. A guerra que não mora dentro de nós. A paz connosco próprios.
«Olha que caminhada me fizeste fazer! Estou contente.»
Fala da Isaurinda.
«Fico feliz por teres feito essa caminhada. Que bom!»
Respondo.
«Sabes que sou justa. Se gosto, gosto.»
De novo Isaurinda, e vai, as mãos ao alto.
Jorge C Ferreira Maio/2024(436)
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A minha última viagem.
Fui tornar realidade o meu sonho. Fiz a mala pequena e fui para o Sal.
Só.
Eu e a mala.
Pensei como dizes, o que levo aqui chega e sobra, a minha vida será curta.
Sobrevivi.
Todos me conhecem lá.
Já me perguntam. Então, não veio mais ninguém? Não, digo eu, Então anda cá, vamos conversar.
A minha filha gosta muito do livro que lhe deste da última vez.
Vai ter com ela à escola amanhã.
Tenho uma Vida nova para quando quiser recomeçar.
Uma mala pequena chega.
Já estou a pensar na desova das tartarugas, entre Junho e Setembro.
Disseram-me que é Vida a sério!
Imagina, milhares de pequenas tartarugas a sairem dos ovos , a correrem para o MAR!
Não quero perder!
Fernanda
Obrigado Fernanda. Tu e a tua ilha. A tua paixão, o teu pontão. Os pés descalços e o peixe. Um livro de poemas e uma escola. Uma criança que gosta de poesia. A minha gratidão. Abraço grande.
Excelente. Que belo caminho este.
O caminho da vida. Passo a passo, vamos derrubando montanhas, atravessando rios e marrs. A caminhada que liberta, Levamos às costas o fruto das nossas escolhas.
As nossas memórias, as nossas pessoas, os amigos que sempre nos deram a mão.
Para trás fica o supérfluo.
O caminho é tranquilo, valoriza -se o que realmente importa. O caminho que liberta.
Obrigada Amigo por este belo momento de reflexão.
Bela paragem nesta caminhada,
Em passos lentos encontramos a liberdade.
Um abraço.
Obrigado Eulália. Caminhar de mão dada com o outro. Continuar a caminhada. O início e o fim de tudo. A estrada que temos que percorrer. O nascer e o pôr do sol. A vontade de andar. A minha gratidão. Abraço grande.
Gostei tanto, do que escreveu.
É mesmo assim, que vamos fazendo a nossa vida. Caminhando e ultrapassando obstáculos. Especialmente quando ficamos sós, sem aqueles que nos ensinaram e nos afagaram.
Aí, comecei a pedir. Era bom, quando percebia que era ouvida. Sim, meu amigo, precisamos tão pouco, mesmo pouco, já me vai pesando muito. Li, senti muito o que divinamente escreveu.
Maravilhoso ter amigos, que pensam em nós.
E ainda haver o gosto de sonhar.
Que o nosso coração, vá continuando a bater. Em paz. Fiquei contente, como a Isaurinda!
Tanto, que o seu texto despertou em mim.
Grata, por ser meu amigo.
Abraço grande.
Obrigado Maria Luiza. O camiho que temos de fazer. A carga que temos de alijar. A nossa vida a caminhar. Os que caminham connosco e nos ajudam a transpor os obstáculos. A minha gratidão. Abraço grande.
A viagem… que já vai longa. Difícil às vezes de nós reconhecermos no vagar presente, onde o cansaço já impera e é melhor desfazer as malas, esvaziar gavetas, e segurar o que de boas emoções nos enche a alma…
Abraço e…ainda boas caminhadas de mão dada com o carinho e a paz.
m.clara
Obrigado Clara. Tão belo o seu comentário. Mas, vamos viver dia a dia e continuar a caminhada apesar de todos os contratempos. A importância das mãos dadas. A minha gratidão. Abraço enorme.
e pelos caminhos seguimos…
despojados.
livres. livres de pesos. inquietações. espinhos sem rosas. carregos e bagagens.
interrogações. tristes pálpebras. corpos já anoitecidos.
e pelos caminhos seguimos…
somos agora a boca que canta
numa voz só
uma rede que acolheu abraços
o retrato de poemas que são chãos de casas
um sopro de paisagens sem lágrimas
clareiras com cheiro a hortelã e novas espigas
doces beijos os que não esquecemos
o primeiro sol de janeiro
um veleiro à nossa espera
sem rota esboçada
e a palavra que nunca chegámos a escrever.
venho de ler o meu poeta
de lhe repetir o nome…
lado a lado com a paz.
lhe perguntar pelos pássaros azuis
pelo fogo das estrelas na ponta
dos dedos
de querer saber dessa viagem
dessa sacola pesada de sonhos
dos livros que ainda lhe ocupam o
pensamento
das pegadas que deixou pelas cidades e
pelos beirais do mundo
pelas lembranças que com ele despertam
é que o vento ainda me sussurra ao ouvido.
chama o poeta!!!
Obrigado Mena. Sempre um belo Poema. Tudo o que escreves tem luz. Caminhar como virmos ao mundo. A leveza de ser. Pot vezes quase levitar. A suprema alegria. A minhs gratidão. Abraço enorme.
“O Caminho que Liberta”
Gostei imenso da crónica, fazendo jus ao estilo e filosofia de Jorge C. Ferreira.
Caminhada de mochila às costas, cada vez mais leve, liberta de “matérias tóxicas” inúteis e CC no bolso, ilustrativa da experiência, sensibilidade, aprendizagem e profunda reflexão.
Estou nessa, Amigo.
Abraço
Obrigado Fernanda. A caminhada. Eliminar a toxicidade que nos teima em roder. Precisamos de muito pouco, quase nada. Assim não nos faltem as forças. A minha gratidão. Abraço grande
Amei a tua crónica! Parabéns pela tuas palavras! O caminho que liberta!
Obrigado Claudina. Amei mais uma vez estares aqui presente. Temos de continuar a caminhar. A minha gratidão. Abraço enorme.