Crónica de Jorge C Ferreira
por Jorge C Ferreira
“Mudar de Vida”
Desde muito novo que sonho com as mudanças no mundo, com mais justiça social, paz e liberdade. Desde que me interrogava o que é isto? Onde estou? Porquê aqui?
Acho que, aos setenta e um anos, voltei às mesmas perguntas. Aos mesmos segredos calados. Voltei a ser uma criança danada. Agora pergunto: o que vamos ser? Quando vamos ser? Que mundo iremos ter?
Espero sempre pelo melhor, mas o que vejo perfilar-se é mais do mesmo. As mesmas vozes, as mesmas caras, as mesmas ideias. Ideias velhas e gastas. Por vezes alguém lança alguma luz nas monótonas conversas, mas desaparece à velocidade da luz que nos deu. Este é um País difícil para pessoas não arrumadas nas prateleiras do costume.
Para quem só vê televisão, não há novas ideias. É o fim da história que Fukuyama anunciou de forma tão prematura. Nós sabemos que há sempre história para além da história. Que nada pára. É necessário ir procurar novas vozes. Vozes que nos trazem caminhos para novas maneiras de viver. Eu vou acreditar sempre.
Novas preocupações:
I
Os mesmos de sempre já estão de mão estendida à mesa do orçamento. O que ganharam no tempo das vacas gordas está acumulado em contas esquisitas. Os que os ajudaram consumindo, são os mesmos que os vão ajudar agora com a penúria das suas vidas. Esta gente já cansa. Gente avara. Gente que nunca está satisfeita com o que tem. Os palradores que dão a cara por eles deviam ter vergonha. Lembram-se onde estava Christine Lagarde na última crise? No FMI. Agora está no BCE. Estou farto de dizer que esta mulher traz qualquer coisa que não me agrada atrás dela! Eles saltam de cargo em cargo como nós em miúdos jogávamos à macaca.
II
Os Lares. Começámos a ver a falta de condições dos sítios onde muitos dos mais velhos acabam os seus dias. Não julguem que os lares das Santas Casas da Misericórdia e outros que apareceram são baratos. Não são. Estamos ainda no princípio de uma descoberta. A mortandade dos mais velhos. Uma ignomínia.
Os migrantes, os que estão à espera que seja aceite o seu pedido de asilo. Os que atravessaram desertos, mares, rios, puseram a vida em risco para fugirem à miséria e às guerras. Os que estão à nossa guarda. São “arrumados” em lugares sem condições. Gostava de saber quanto é que o estado paga para o alojamento destas pessoas. Tantas IPSS. Tanta Fundação. Tantos intermediários. Não acham que já chega?
O que se descobriu naquele chamado hostel é indigno de um País civilizado. É necessário apurar responsabilidades. Duzentos seres humanos em quarenta quartos. Cento e trinta e oito infectados. A Presidente da Junta de freguesia diz que deve haver mais casos. Senhora Presidente, vamos denunciar. Dizer os locais às autoridades competentes. Se for necessário ultrapassar as hierarquias. Eu, como nascido nessa freguesia, peço-lhe que não se cale. Fale dos sem abrigo! Fale, por favor!
Sempre os mais frágeis a serem as vítimas.
III
Os mais velhos, os que têm mais de setenta anos.
Alguém os está a querer confinar até um tempo sem tempo. Isso para além do que significa, cheira às medidas de segurança do fascismo. Será que é desta que vamos ter um chip?
Uma espécie de prisão perpétua.
Dizem que é para nos proteger. Eu ainda acredito. Mas este confinamento dá cabo de nós. As nossas cabeças não param. Os medos e os pânicos a crescerem até um infinito impensável.
Quando iremos ser libertados?
A Isaurinda também sente tudo isto. Vive-o connosco, embora longe de nós. Sente-se angústia na sua fala. Nós vamos-lhe dando força.
Uma última coisa:
Não autorizemos a chicana política. -25 de Abril Sempre-. Viva a Liberdade.
Confinado JCF Parede, 22 de Abril de 2020
Jorge C Ferreira Abril/2020(249)
Participou na Antologia Poética luso francófona: A Sombra do Silêncio/À Lombre du Silence;
Participou na Antologia poética Galaico/Portuguesa: Poetas do Reencontro
Publicou a sua primeira obra literária em 2019, “A Volta à Vida À Volta do Mundo” – Poética Editora 2019.
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Felizmente a criança danada que existe em ti, também é atenta e sensível ao que se passa no mundo. O exercício repetido diariamente, vamos continuar, vamos conseguir vencer este infectante que nos faz consumir desinfectante a preço inflacionado, que seriam refeições a quem deixou de as ter. Esqueci a tua idade, desculpa. A Liberdade será lembrada sempre. Amigo abraço imenso.
Obrigado Regina. Temos de combater tudo o que dizes. Temos de estar atentos e de nos cuidarmos. Anraço
Estamos todos num novo tempo de aprendizagem, rumando novas paragens sem sairmos do mesmo local.
Levamos connosco um inventário de coisas para converter e inovar, conforme a moda a recriar.
As estações do ano serão aquilo que nós quisermos consoante o ponto cardeal que nos for mais agradável para viver.
Um abraço, Jorge!
Obrigado António. O que aí vem ainda é uma coisa a descobrir. Poderá ser ser o que nós quisermos. Sempre atentos. Abraço.
Extraordinária a sua crónica. Dar voz a quem não tem voz. Aos idosos que confinados ao lar são infectados. Aos sem abrigo que vivem em situações miseraveis. Aos que vivem aos montes em pensões.
Dar voz aos que não querem falar e estendem as mãos ao orçamento.
A todos nós que vamos pagar como sempre.
Os sonhos a dissiparem-se.
Os loucos a governarem.
Resistir é a palavra de ordem.
25 de Abril sempre. Liberdade!
Um abraço amigo.
Obrigado Eulália. Sim, minha Amiga, preservar a Liberdade é essencial. Ter cuidado com determinadas regras. Não nos deixemos controlar. Abraço.
Neste tempo de pandemia e confinamento descobri em mim um invulgar loucura.
Envergonho-me de pertencer a este mundo onde a desumanidade é bandeira hasteada.Os ricos mais ricos,os que se aproveitam para serem novos ricos. Os preços inflacionados,as máscaras,o gel,as luvas tudo deveria ser distribuído por quem nem uma malga de sopa consegue ter…se isto não é o início de uma outra guerra,que é,a falta de humanidade,a economia que vai matar tanto como o vírus. O mundo de repente mostra-se tal qual é,egoísta com governantes loucos que comandam a destruição dos desfavorecidos. Só que este vírus mostra-se cruel e não escolhe classes sociais,apesar dos mais frágeis continuarem com prioridade nesta pandémica realidade que ninguém esperava. Depois,há os que se julgam imunes e desafiam contrariando o bom senso. O ser humano no seu real valor continua a confrontar-se entre si não pensando nos outros. E se pensam…que se lixem quem não tem poder de sobrevivência (…). A liberdade,o 25 de Abril,uma geração degastada pela idade. Os mais novos têm outras prioridades.
Abraço meu amigo,cuida-te,protege-te para que breve possamos dar aquele abraço.
Obrigado Cecília. Estamos perante estranhos cenários. Precisamos de pensar antes de agir, Espero por esse encontro. Abraço.
Meu querido amigo, ” minha criança danada “, assim diz a Cristina Ferreira. Subscreveria a tua crónica, meu jovem de 71 anos. Estás a chamar-me velha, meu querido? Faltam só dias para ter os 81. Já era uma ” cachopa ” crescida a estudar no Liceu, quando nasceste. E vamos continuando a lutar pela Solidariedade, Igualdade de direitos e deveres e LIBERDADE, sempre. E não esqueças, ainda desceremos a Avenida de cravo ao peito e abraço com abraço. 25 de Abril, SEMPRE. .FASCISMO NUNCA MAIS. Beijinhos<3 <3
Obrigado Ivone, minha querida Amiga/Irmã. Tu és mais nova que eu. És tu que me vais levar Avenida abaixo. Abraço-te.
Como é belo o que escreves. Aos 71 anos voltares a ser a criança danada. Eu acho que nunca deixaste de ser. A tua curiosidade. A tua inquietação. A tua eterna procura.
Como é importante haver vozes assim, como a tua. Vozes que ecoam no meio da carneirada. Vozes que nos fazem acreditar. É preciso continuar a acreditar.
Não autorizemos a chicana politica – 25 de Abril Sempre.
Viva a Liberdade. Abraço.
Obrigado Cristina. Generosa sempre. Estou contigo pronto para as novas lutas. Liberdade Sempre! Abraço.
Amei a sua crónica, Jorge.
25 de Abril sempre, fascismo nunca mais.
Abraço
Obrigado Fernanda. Abril Sempre. Liberdade. Grande abraço.