Crónica de Jorge C Ferreira
Mistérios
Dizem que partiu sem chegar, que chegou sem partir, que foi voo em permanência, levitação, asas, um vento que soprou os corpos. Mensagem, palavra e sonho. Há corpos assim, que não sabemos se existem. Uma voz, um gesto, uma alegoria. Nuvens abençoadas por luas e que são a vertigem das marés. Corpos sem corpo. Enquanto um sangue arrepia as mentes e escorre por estradas destruídas. Algozes e cativos. Os bilionários e a miséria. Partiu? Chegou? Quem arrisca?
Há falta de respostas. Talvez porque há perguntas que não se fazem. Talvez porque nada sabemos sobre nada que o oculto esconde. Mistérios que nos queimam a vontade. É então que nos aparecem os seres do bem e os seres do mal. A miragem e a transcendência. O milagre e o pecado. Os caminhos de que desconhecemos o final. Quantas querem sair de uma estrada e não conseguem. Quantos heróis à força. Quanta força de vontade, quanta coragem é necessária para dizer não. Quanta sorte nascer no lugar certo.
Quando me contavam aquela história de os bebés virem de França no bico das cegonhas, o que me fazia confusão é como a minha cegonha me deixara naquela morada, com aquela gente que me cuidava e gostava de mim. Como não se enganara? Como não me deixara cair a meio da viagem? Como resistira a tamanha provação? Engoli aquilo. Mas, na verdade, nunca entendi a estória. Olha se tenho ficado no prédio ao lado onde havia um pai que gritava com o filho e ameaçava encafuá-lo num colégio interno? Afinal, tinha tido sorte e isso deixava-me feliz.
Continuemos na senda dos mistérios que nos acompanham toda a vida. Do que vemos e não temos a certeza. Do que nos acontece e achamos que não merecemos e acabamos por não sentir. Dos terríveis pressentimentos que nos baralham o pensamento. Do que acontece num sonho e na vida. Teremos sonhado ou teremos vivido? Estar perdido no meio do nada e saber que alguém sabe de nós e nos irá encontrar. Cair num precipício enorme que nos salva a vida quando a vida nos mostra o reverso do que vivemos. Pensamentos perdidos num acontecimento inesperado. Uma inesperada sinfonia que nasce no meio do intangível.
Neste tempo em que cada vez menos gente acredita no outro que segue a seu lado, parece que caminhamos para um fim ou um renascer qualquer. Eu, que não sei de nada, abrigo-me sob o toldo de uma loja de rua, que resiste, e observo essas correrias sem sentido. Quem fará crescer a minha vontade de ser? Esse ser e esse amar que dão sentido à vida. O estado encantatório de ter alguém que quer saber de nós e nos acompanha. Uma imensa alegria. Velas que se acendem, aprender a cuidar, aprender a não estragar. Sairmos de nós para nos entregarmos a outra pessoa. Acreditar que, por vezes, a felicidade é possível. De repente, um calor especial que nos invade e algo se manifesta dentro de nós. Sentimo-nos diferentes. Entramos noutra dimensão.
«Ouve lá, que te deu hoje? Tanto mistério!»
Fala da Isaurinda.
«Tu sabes que eu acho que a vida é um mistério, não sabes?»
Respondo.
«Sei, sei. E também sei que ainda ficas maluquinho a pensar nesses mistérios.»
De novo Isaurinda, e vai, um andar desaustinado.
Jorge C Ferreira Abril/2024(432)
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Quantos mistérios. Quantas dúvidas. Quantas respostas por dar e receber. A coragem para continuar. no entanto, o teu saber escrever é em crescendo que me deixa a pensar e reler. Obrigada pelas estórias que nos fazes chegar. Abençoada cegonha que te deixou num lugar de ternura. Abraço meu Amigo.
Obrigado Regina. É tudo isso qur tão bem dizes. É muito bom ter aqui de novo as tuas palavras. É gratificante. A minha gratidão. Abraço grande
Obrigado José Luís, meu Amigo Poeta. É sempre bom ter aqui a tua presença e os teus assertivos comentários. Os mistérios e os invíos caminhos. A eterna busca. As difíceis respostas. A minha gratidão. Abraço grande
Um texto que li com muita atenção. Tanto para reflectir. Nada sabemos.
Mas muito saber é preciso, para escrever tão soberbo texto. Tantos mistérios e tantas verdades, que deixa nestas eloquentes palavras. É sempre um encanto lê-lo.
Deliciosas, as cegonhas que com carinho, pousaram os nossos berços, num lar de amor.
Obrigada, meu escritor e filósofo, pelo belo momento de leitura que me ofereceu. Sempre grata. O meu abraço grande.
Obrigado, Maria Luiza. Sempre belos e generosos os seus comentários. É tão gratificante ler o que escreve. A minha imensa gratidão. Abraço enorme.
Mistérios
Vida o maior mistério.
Quanto mais refletimos, maior a falta de respostas.
Muitas dúvidas, incertezas, uma espiral.
Felicidade, a meu ver e sentir, não é um estado permanente. Podemos ter momentos de felicidade, que às vezes duram dias, mas não se mantém eternamente.
Aproveitar ao máximo esses momentos exigem de nós uma aprendizagem contínua? Não sei!!!
Abraço
Obrigado, Fernanda. Sim, a vida é um mistério. Um mistério que continuo a tentar entender. Tudo o que nos rodeia é imendo. Tudo o que nos acontece parece um acaso. Quando entenderemos quem somos? A minha gratidão. Abraço grande.
Tão linda a tua estoria! A vida é um.corridinho que nao conseguimos acompanhar! Que grandes desafioas nos Põe à prova! Vamos ter Fé Beijinhos
Obrigado Claudina. Que estares aqui de novo. Desde criança que me procuro. Muito grato. Abraço grande
A vida é mesmo um mistério . Insondável , madrinha às vezes, ingrata , outras, o que merecemos quase nunca está de acordo com aquilo que ela nos prepara.
Há quem tenha sorte sem a merecer e há o contrário e há quem viva na corda bamba a tentar sempre equilibrar- se.
A vida é uma roleta !
Mas cá estamos a tentar defender- nos dos golpes , a ganhar resistências e a tentar singrar. O objetivo, no entanto, é sempre alcançar a felicidade.
Entretanto, vamos aproveitando as pequenas alegrias …
Um abraço forte para o poeta .
Ora, cá está uma pequena alegria …
Excelente. Sempre me questionei sobre o mistério da vida. Somos nós que escolhemos a família ou a família que nos escolhe. Tanta pergunta sem resposta.
Tantos com muito. Tantos com pouco. Tantos sem nada. Dúvidas e inceretezas. Caminhos tortuosos no meio da planície. Caminho sombrio. Preocupação crescente.
Procura-se a felicidade em cada momento, em cada gesto.
Procura-se Paz.
Obrigada Amigo por estar sempre desse lado. Obrigada por estes momentos de reflexão. Um abraço.
Obrigado Eulália. Belíssimo o seu comentário. Esse mistério que nos inquieta. Tanta pergunta sem resposta. Buscar o impossível. A minha gratidão. Abraço grande.
Obrigado Lénea. Belo comentário. Os insondáveis caminhos da vida. Tentar saber o que é viver. A inocência e a maldade. Nossa vontade de descobrir. A minha gratidão. Abraço grande.
A Vida é um mistério ou vivemos o mistério da vida?
Entramos ou saímos?
Chegamos ou partimos?
Acasos ou coincidências?
Fim ou o começo?
Sonho ou realidade?
Tantas perguntas sem resposta…
Esta tua crónica, assim como quase tudo o que escreves, leva-nos a grandes reflexões que não cabem nestas linhas…
Obrigada por me conduzires a esta “avalanche” de pensamentos onde as memórias se misturam e fazem viajar no tempo e no espaço. Viajar sem sair do lugar… outro mistério da vida!
Obrigado Maria. Belíssimo o teu comentário. As questões que eu me faço desde muito novo. A cada resposta mil novas questões. Estares aqui é uma alegria. A minha imensa gratidão. Abraço enorme
Os mistérios infindáveis da vida do ontem, e do hoje … sem calendário, continuam a criar pontos de interrogação preocupantes.
Mais um belo “questionar” de parágrafos que nos invadem, e tentamos ocultar numa recepçao preocupante.
Mistérios, sem dúvida … diz Isaurinda!!
Fantásticos momentos de leituras que ofereces , bem apelativos e criativos.
Grande abraço estimado amigo!