Crónica de Jorge C Ferreira
Estado de Emergência
Estou a escrever-vos do rés do chão de um prédio em Parede-Cascais. Estou perto de uma janela grande de madeira que dá para um pequeno pátio. Estou eu e a minha companheira de muitos anos. Vamos bebendo o café de cafeteira de que gostamos, vamos falando e tentando manter-nos informados.
Já não vemos o neto há alguns dias. Matamos saudades pelas ferramentas que ainda temos disponíveis para nos vermos e falar. Um filho no Alentejo e a filha que nos deixa as compras à porta. Estamos preocupados com o essencial e pomos de lado o acessório. Vemos muita gente a dar valor a coisas que já tinham esquecido. Será que sairemos desta situação melhores? Será diferente a sociedade que sobreviver a isto? Ou vamos esquecer tudo no instante seguinte e vamos ficar loucos de novo? Tanta pergunta sem resposta.
Vamos ao importante. O importante é combater esse inimigo desconhecido que sabemos que está aí. Salvar vidas. Dar o valor e a importância que o SNS tem. Muitos agora sabem que não é o cartão de seguro especial que os salva. Que é, essencialmente, no SNS que está a nossa segurança.
Há outra coisa que me está a cansar nas notícias e em determinados jornalistas. A preocupação com a economia quando se está a discutir a melhor maneira de salvar vidas. A economia para nada serve se morrermos todos. É tempo dessa classe (Economistas) estar a trabalhar nos gabinetes, ou em casa a desenvolver cenários, a tentar responder aos problemas, a arranjar forma de garantir o básico a todos. Esses senhores não devem trazer ruído ao discurso, nem trazer preocupações acrescidas aos cidadãos. Oiço mais falar sobre os problemas com as empresas de que com os assalariados. Eu sei que sem empresas não há empregos. Mas também sei do muito que demos a muitas empresas, bancos, etc., durante a última crise. Ainda não nos esquecemos do BPN, do BES, do BPP, do Banif e dos negócios desastrosos que todos os anos continuamos a pagar. Não nos esquecemos da especulação imobiliária, do modo que tem crescido o preço da habitação, uma desmesurada avareza.
Precisamos de médicos, de enfermeiros, de auxiliares. Precisamos de quem cura e de quem limpa e ajuda. Precisamos de quem se entrega a salvar vidas. Precisamos de material de protecção e de salvação. Precisamos de tanta coisa que já devíamos ter. Foi decretado o estado de emergência. Esperamos que tenha sido a tempo. Esperamos estadistas e não políticos. Estamos numa hora em que não pode haver hesitações. O tempo para pensar é pouco. Não estamos no tempo de criar mais uma comissãozinha para não chegar a conclusão nenhuma.
Estamos a aprender todos os dias. Isto digo eu aos 71 anos. Nunca esperei isto. Esperava a crise, mas não deste modo.
Agora resta cuidarmos de nós e de quem pudermos e esperar que os que sabem, os cientistas, façam bem a sua parte. Aqui estamos nesta reclusão. Quando tudo acabar, esperemos que acabe, falem então de economia.
Cuidem-se muito. Abraços virtuais.
«Olha que isto está feio. Não me agrada nada a situação.»
Fala de Isaurinda.
«Temos de seguir todas as indicações e nos cuidar muito. Esperemos que tudo passe.»
Respondo.
«Não sei não, meu querido. Estou com medo.»
De novo Isaurinda e vai, algum tremor nas mãos.
Jorge C Ferreira Março/2020(244)
Poder ler (aqui) as outras crónicas de Jorge C Ferreira.
Mais que vivermos confinados, o que me transtorna são as más notícias. As vidas em perigo e as que se perdem, os aproveitamentos dos sem escrúpulos, o veicular do que é negativo.
Estamos a aprender; importa que o medo não seja o pesadelo dos acordados. Deitemos mão do que nos faz bem, saboreemos a companhia de quem está presente e aproveitemos os meios para comunicar com quem está distante.
Um da isto vai passar e os sorrisos vão coroar a sageza dos cautelosos.
Um abraço amigo.
Obrigado Sofia. Vamos acreditar, nunca perder a esperança. Vamo-nos tentar cuidar muito. Abraço grande.
Sabes, querido Jorge, tenho esperança que depois de tudo isto terminar, estejamos todos, enquanto sociedade, melhores.
Continua na tua varanda, nessa magnifica terra, com a Isabel, essa tua grande companheira. É assim que tem de ser. Como seria bom, se todas as pessoas mais velhas pudessem estar assim também, como tu. É nelas em quem mais eu penso.
Penso também, naturalmente, em todos os profissionais de saúde e no valor do SNS. E agradeço.
Cuidem-se muito
Abraço-te
Obrigado Cristina. É tudo muito difícil. A idade. As notícias. Vamos tentar resistir. Cuida-te muito. Abraço
Nestes tempos de reclusão, compreensivelmente aceitamos este estado, com resignação por amor à vida. Quem já tem setenta e mais anos, não pode estar condenado por vontade dos homens. Sua excelência o vírus é quem mais ordena. Há que respeitá-lo até que se fine por obra da Mãe Natureza, com a nossa contribuição, não o desafiando.
Um abraço, Jorge!
Obrigado António. Vamos cumprir as indicações e respeitar o desconhecido. Cuide-se muito. Abraço.
Jorge,estou em retiro pandémico e vim ler a sua crónica.
Tem razão quanto aos jornalistas que falam em crise económica acrescentando os políticos como que a lembrar “para já asseguramos tudo depois vão pagar” isso jjá nós sabemos!!!!
CALEM-SE COM A ECONOMIA!!!! Há vidas a salvar se morrermos de que serve a Economia?
Façam testes…é a reposta para o não contágio…
Sabendo dos infectados evitam o contágio!!!!
Ao beijo virtual acrescento a minha admiração por si como escritor…leio tudo o que é seu…não comento…pois é tão bonito tudo aquilo que sente!!!! As minhas palalavras só iriam embaciar o brilho que tem o que escreve!!!!!
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Obrigado Maria Teresa. Pois é, minha amiga. É mais ruído a acrescentar ao turbilhão noticioso. Muito grato pelas suas palavras. Muito generosa. Abraço.
Meu amigo,este estar de reclusão não me pesa nem me é estranho,estranho é a idiotice de muitos pensarem que é só aos “velhos” e por isso caminham desafiando e contaminando possivelmente outros que como eles desafiam a insanidade das suas pequenas cabeças pensantes. A economia será a segunda pandemia,essa não nos é estranha apesar da infecção ser maior. Agora,protegemo-nos,protegemos quem é de risco,pais,avós… No meio disto tudo,e por incrível que seja,veio-me à ideia daquele outro que afirmava que o mal da nossa sociedade eram os tais de cabelo brancos,a aí dá-me um sentimento de revolta,esses mesmos abandonados à sua sorte nos muitos lares clandestinos.Outra preocupação pessoal,que é feito dos refugiados? Ninguém fala deles,certamente estarão em mar de tempestade como quando vieram…Abraço meu amigo,até um dia destes,até que a vida nos faça encontro…
Obrigado Cecília. Tens tanta razão. Apagam-se muitos alarmes com este alarme geral. Sabes, a crise já estava quase aí. Só não esperava que chegasse deste modo. Cuida-te muito. Abraço.
Em noite difíceis os pesadelos foram difíceis, nunca tão terríveis. Impensável. Médicos, enfermeiros, ou nossos Anjos estão disponíveis em estado de exaustão. O teste de estar ou não infectados. Qual o contributo que posso dar às minhas queridas “meninas” que podem vir a cuidar e tratar de
nós. Lamento não querer saber de políticos e estatistas. Nunca senti tanto medo do que não conheço. Não poder proteger a minha filha, que todos os dias sai para trabalhar. O que nos mata acaso não tenhamos cuidado. Querido amigo de sempre tenham cuidado. Abraço Jorge.
Obrigado Regina. Sim, agradecer aos profissionais do SNS. Os enfermeiros esses anjos da noite, só quem foi inquilino de um hospital sabe do seu valor. Cuida-te muito. Abraço.
Meu querido Amigo/ irmão, quem te conhece sabia que, de certeza, irias abordar o assunto desta crise de pandemia. Dizes e muito bem que sabíamos que algo viria, algo que não seria bom, mas foi bem pior o que surgiu. Fico contente por estares na Parede que sempre teve ” bons ares ” e bem acompanhado com a tua Isabel e o apoio da filha que Vos auxilia no que vai sendo necessário. De facto, andaram a esbanjar o dinheiro de quem trabalha, ou recebe a pensão do que descontou enquanto trabalhador e, agora, continuam a pôr os cifrões à frente das gentes que é necessário salvar. Só todos,” NÓS TODOS,” poderemos enfrentar a “fera ” viral, nanométrica, mas com uma capacidade maior que um conjunto de feras das selvas. Temos de cumprir as regras da DGS e dos seus trabalhadores para que a situação possa regredir. És um menino de 71 anos e tens, com a tua Isabel, uma vida para viverem. A Isaurinda tem, uma vez mais, razão: Isto está feio, mas vamos cuidar-nos para que possamos ajudar na resconstrução de um outro país, de uma nova maneira de viver.. Beijinhos virtuais para Vós com muita amizade e carinho da tua Amiga/Irmã.
Obrigado Ivone. Que te dizer, minha Amiga/Irmã. Destas coisas de saúde sabes tu e das manigâncias dos políticos também. Dizes tudo. Vamos tentar cuidar-nos. Vocês cuidem-se muito. Beijinhos abraçados.
Uma crise inesperada.Depois de tudo passar e para os que ficarem, nada será igual. A nossa geração viveu grandes mudanças, mas nenhuma como esta.
Resta -nos ficar em casa. Sou privilegiada, porque tenho comigo o meu marido, companheiro de 46 anos, nos bons e maus momentos. Penso em tantos, que estão sós. As novas tecnologias permitem-nos ver e falar com filhas e netos à distância. A preocupação aumenta.
Também as compras chegam a casa por alguém amigo.
De facto quem pode pensar em economia em momentos como este.
Até quando meu amigo?
Espero que continue a escrever os textos excelentes a que nos habituou.
Continue a cuidar-se.
Um abraço.
Obrigado Eulália. Sim, nunca passámos por uma coisa destas. A crise era previsível, os indicadores eram alarmantes. Mas isto tem a ver com a sobrevivência. A vida e a morte. Grato pelas suas generosas palavras. Abraço.