Crises
Caraças, máscaras, barretes, apitos, assobios, fingimentos, falsas elucubrações, pantominices, cortes de cabelo a rigor, gravatas da moda, fatos por medida e factos distorcidos. Cenários austeros para dar credibilidade à coisa.
A falsa discussão. Discutir o acessório. Ter vergonha de discutir o principal. Porque o principal incomoda. O espectáculo a substituir a política. As acusações cruzadas. Todos a quererem sacudir a água do capote. Todos com culpas que não querem assumir. Fechar os olhos à realidade e seguir em frente. Esgrimir assuntos já muito batidos. As eleições estão perto.
Olha o voto! Olha o voto!
Cuidado com os “media”. Atenção às agendas. Os “spin doctors” a trabalharem a dobrar. Um trabalho que já ninguém dispensa. As frases feitas. Um discurso redondo. Não dizer nada numa frase enorme. A frase curta de grande impacto. A importância de um bom “soundbite”. Tentar passar uma ideia que não resolve nada. Outra maneira de vender a banha da cobra. Tretas. Sempre o eleitor em mira.
Olha o voto! Olha o voto!
Continuam os bairros miseráveis. Continuam as subvidas. Resistir, sobreviver. Um sofrer incandescente. Um fogo que agita as consciências. A nova casa sempre adiada. Um cão perdido na rua. Qual integração?
Os governos, os parlamentos, as câmaras. Um saltitar de responsabilidades. Todos a defender a sua dama. Ninguém quer assumir a responsabilidade. Até quando?
Continua a sofrer gente sem culpa. Gente que só busca melhor vida. O que lhe oferecemos, uma vergonha!
A crise, dizem alguns. A eterna crise. A crise que só magoa sempre os mesmos.
Vamos estar atentos ao fim deste triste viver.
Só a Democracia tem força para resolver isto.
Chega o que já é conhecido. Instala-se o alvoroço. A banca que nós pagamos tem dívidas enormes dos mesmos de sempre. A lista repete-se em vários bancos para onde fomos obrigados a dar o nosso dinheiro. Comendadores, barões, amigos de ministros, amigos dos amigos dos amigos, empresas do sistema, os “empresários” que comem à mesa do orçamento, o sustentáculo do bloco central.
Bancos a comprarem bancos. Assaltos ao poder. Acções como colaterais dos empréstimos para as comprar. Empréstimos feitos com parecer contrário dos especialistas de risco. Muita coisa sem sentido para quem a lógica faz sentido.
Os que vão de ministros para a administração dos bancos e, com sorte, vão até outros patamares. Uma promiscuidade que cheira mal. Mais uma vergonha. Uma espécie de nova monarquia republicana. As sociedades secretas. As lutas intestinas pelo poder. Os peões de brega dos matadores.
Mais uma vez os mesmos de sempre empurram uns para os outros. «Foi no vosso governo, desculpe, foi no vosso.» Faz-me lembrar as queixinhas da escola primária. «Senhor professor, foi aquele menino, não fui eu.»
A coisa resolve-se com mais uma comissão. Mais uma daquelas que não chegam a qualquer conclusão. Os “barrigudos” continuam a coçar a pança com notas de alta cilindrada. Nós vamos continuar a pagar? Vamos ter mais atenção a isto. Gato escaldado…,
Já cansa!
«E olha que pagámos bem. A crise doeu! Será que vem aí outra?»
Voz de Isaurinda.
«Tens razão. Olha que os sinais não indicam nada de bom.»
Respondo.
«Nem me fales mais em crise. Pode dar azar.»
De novo Isaurinda e vai, a verdade na mão.
Jorge C Ferreira Fevereiro/2019(195)
A crise tem as costas largas…Serve sempre de justificação a estes malandros! Felizmente há gente atenta e ao Jorge não lhe escapa nada! Vamos ver o que se pode fazer, Conte comigo! Obrigada, um beijinho
Obrigado Madalena. Saber das trapaças. Estar pronto para o melhor. Lutar. Todos não somos demais. Abraço
Cheguei, amigo Jorge. A necessidade de criar estruturas que apoiem quem está doente, o que está mais só, o que não tem casa,quem perdeu emprego, quem vê falir o banco onde depositou as economias, o………..;o………..o, todos os que afundaram a sua vida com a, quem adivinha? a crise. E quando nos esforçamos por tentar ajudar, qual a resposta? Não há fundos. Perderam-se com a crise. E agora? Mas a crise não passou já? HÁ OUTRA CRISE à vista. Tal qual tudo o que dizes na tua crónica, numa escrita verdadeira, clara,humana. A democracia ainda está em pousio.Não quero perder a Esperança, quero voltar a sonhar com uma democracia que funcione a favor dos que contribuíram para que Ela acontecesse. Não quero mais crises.Diz à Isaurinda que ainda falta algum tempo, mas que chegará como sonhámos.Um beijo grato meu amigo/irmão.
Obrigado Ivone. Que bem dizes. Falta dinheiro para tudo menos para os bancos. Cuidado com os sinais da crise. Com a conversa barata. Abraço
Crises que os políticos fazem nascer. Daí tiram partido após criarem o partido político.
Absurdas comissões quem sabe já existentes.
Sempre atento a este país e a quem não tem voz, nem conhece o sentido da democracia. Magnífica crónica. Abraço Jorge.
Obrigado Regina. Tantos vícios, tantos círculos, tanta treta. Abraço
Uma crónica com a chancela a que Jorge C Ferreira já nos habituou. Uma escrita límpida, objectiva, inteligente. E humana, muito humana.
Bem hajas
Obrigado Cristina. Grata pelas tuas palavras. Abraço