Crónica de Alice Vieira | Quando tudo treme

Alice Vieira

Quando tudo treme

Por Alice Vieira

 

O sismo de há dias ainda não me saiu da cabeça — e duvido que alguma vez saia. A minha casa tremeu toda, fotografias que tinha na  parede caíram para o chão e isto durante alguns segundos. Segundos que, evidentemente, me pareceram minutos! E, no entanto, tive vizinhos que garantiram não ter ouvido absolutamente nada! Claro que também houve outros que disseram que sim senhora, tinham ouvido um estrondo e a casa a abanar– mas que pensaram que era um camião a passar na estrada!! Meu Deus, só se fosse algum camião gigante! Mas a maioria fez como eu: acordou, “olha um tremor de terra!”, olhou para o relógio para saber que horas seriam, virou-se para o outro lado e tornou a adormecer. E o que é que se podia fazer?!

Mas claro que me lembrei logo do sismo de 1969. Tenho a certeza de que esse foi bastante mais forte. Só me lembro de tudo começar a tremer lá pelas 3 da manhã, e eu levantar-me da cama ,pegar na minha filha, que era pequenina — e sair porta fora.

A seguir só me recordo de ter ido sempre a correr pelas ruas e parar ao alto do Parque Eduardo VII, onde estavam muitos palermas como eu.

Depois acalmei, “mas o que é que eu faço aqui??”, e voltei para casa  — onde o meu marido dormia como se nada se tivesse passado.  Deitei a criança, deitei-me eu e só lhe disse no outro dia de manhã. Até porque ele estava sempre a lastimar-se por dormir muito mal.

Interrompi agora esta crónica porque, de repente, faltou a luz aqui na Ericeira. Mau, mau…

Vou, mas é deitar-me.

Fiquem bem.

E tranquilos — se puderem.

 

Alice Vieira


Alice Vieira
Trabalhou no “Diário de Lisboa”, no“Diário Popular” e “Diário de Notícias”, na revista “Activa” e no “Jornal de Notícias”.
Atualmente colabora com a revista “Audácia”, e com o “Jornal de Mafra”.
Publica também poesia, sendo considerada uma das mais importantes escritoras portuguesas de literatura infanto-juvenil.

Pode ler (aqui) as restantes crónicas de Alice Vieira


 

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